LUIZ TITO

Estou me guardando...

Redação O Tempo


Publicado em 28 de fevereiro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Estou me guardando para quando o Carnaval passar. Já foi muito dito que no Brasil as coisas se recusam a acontecer antes do Carnaval. É necessário vencê-lo para que o brasileiro esqueça as férias, a sonolência, paradoxalmente o compromisso com o descompromisso. Nada acontece, nada se cria, nada se realiza, nada se constrói, senão as consequências desse nosso desatino, o de não nos empenharmos para fazer com que o ano não se atrase tanto em começar a produzir, a gerar riqueza ou alguma outra forma de transformação da economia.

O 2017 não está sendo diferente; somou-se ao desemprego que já caminhava sem resistência o contingente de desempregados gerado pela demissão dos contratados temporariamente. Reduziu-se a taxa Selic, mas esta não influenciou aquela cobrada pelos bancos em todas as classes de financiamento que estes oferecem a seus tomadores. Seguiu surrupiando salários a criminosa agiotagem do sistema financeiro brasileiro. E ninguém faz nada, nem mesmo o Poder Judiciário, que reconhece como decentes e válidos, sem reservas, contratos que obrigam ao pagamento de taxas de até 450% ao ano. Se isso não é crime, o que será então? Tudo o mesmo do mesmo.

Este será (ou seria?) o ano para que se discutissem e se implantassem as reformas tão desejadas para que os investimentos, especialmente os externos, sejam estimulados: reforma fiscal, reforma trabalhista, reforma da Previdência, reforma política. Não há recursos no caixa dos governos federal, estaduais e municipais para realização de investimentos, sem os quais nada modificará a falta de oferta de empregos.

O Brasil é um campo fértil para a absorção de investidores, e o caminho, não nos iludamos, é, em primeira ordem, a realização de um programa de reformas e, depois, a venda de ativos hoje nas mãos do poder público, já carimbado por sua incapacidade de gerir, de criar, de guardar, incorporado de todas as marcas da ineficiência absoluta, do descaso, do descuido, do protecionismo, do desvio e da corrupção.

Nenhuma empresa estatal atuante no Brasil, de Minas Gerais ou de qualquer outro Estado, suporta uma auditoria em suas contas, em seus projetos, em sua precária gestão. Nenhuma. Insistirmos que sigam sendo manipuladas por gestores meia-boca, por apadrinhados, por vesgos da administração, por sanguessugas é uma postura desonesta, vil, imoral, porque significa permitir a um grupelho locupletar-se com o dinheiro do patrimônio público. Isso é, no mínimo, vergonhoso.

Furta, é desonesto, quem aceita ser nomeado assessor de coisa alguma como forma de compensação por eventual apoio ou por ter sido agente de trama ou subordinação política. Furta quem aceita ser gestor, secretário de Estado, ou presidente, ou qualquer designação de trambiques do gênero, sem capacidade para sê-lo. Não há espaço nem recursos para se agasalharem com dinheiro público tais tramoias. Quem não enxerga essa realidade ou é cego, ou não tem dimensão de gestor público. Para estes, o mundo é outro. Talvez o do Carnaval. O nosso, o de cobrar, protestar e trabalhar.

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