LUIZ TITO

Não às exceções

Redação O Tempo


Publicado em 16 de janeiro de 2018 | 03:30
 
 
 
normal

Os jornais e as redes sociais nesse último fim de semana destacaram o quanto foi improdutiva a tentativa dos senadores Roberto Requião e Gleisi Hoffmann de organizarem, ambos, uma manifestação de repúdio ao juiz Sergio Moro em sua cidade natal, Maringá. A população local, em solidariedade ao magistrado e a seu trabalho, demonstrou sua rejeição aos dois senadores, que limitaram ao aeroporto aonde chegaram suas presenças na cidade. Foi uma natural reação dos cidadãos, que produzem, trabalham e ganham honestamente a vida, àqueles senadores e ao blablablá que ensaiavam. Não deu ibope.

Assim como na Maringá de ontem e de hoje, em cidades de todo o país estão, a seu modo e costume, sociedades comprometidas com o trabalho, com a produção e com a geração de empregos, distantes o quanto podem de fatos que parecem ter anestesiado as pessoas, em especial nos grandes centros. Exemplo dessa anestesia é o julgamento, no próximo dia 24, do ex-presidente Lula, que ocorrerá em Porto Alegre. Para uma parcela do país – graças a Deus, muito menor do que a outra, ocupada com sua sobrevivência no dia a dia –, parece que o mundo depende da decisão que sairá do TRF-4, esquecendo-se de que, mais importante do que proteger pessoas com a impunidade, o que se busca é a afirmação de princípios que regulam e dão parâmetros à vida de uma sociedade que se pretende decente. Justiça, hoje e em todos os momentos da vida dessa mesma sociedade.

Estamos nos condicionando a um fato que deveria ser visto como uma rotina do Judiciário: o julgamento de um processo em que um cidadão comum, coincidentemente ex-presidente da República, é acusado de ter recebido propinas, desviando recursos do Tesouro para enriquecer seu patrimônio pessoal, ou de seu partido político, ou de seus amigos de crença. Devem ser encarados como réus comuns todos aqueles dos quais a Justiça cobra explicações, nessas circunstâncias. Em todas as sociedades modernas, tais práticas são crimes capitulados nos códigos, e ponto final. Se foi cometido por ex-presidente ou por governador, senador, deputado, prefeito, esposa, filho, pai ou irmã de político quando estava no poder, não importa. É crime. Quem comete crime é criminoso e como tal tem que ser tratado.

O Brasil não vai parar por isso, as escolas não vão fechar ou mudar suas ementas, os hospitais seguirão cheios de doentes, os bancos continuarão explorando e extorquindo seus clientes, os Poderes da República terão os mesmos nomes e as mesmas responsabilidades. A indústria seguirá produzindo; o comércio, vendendo; alimentos continuarão sendo colhidos no campo. Isso é o que importa, porque assim é a vida. Objetivamente, nada muda ou, pelo menos, não deveria mudar se as cadeias recebem mais um ou cem novos hóspedes, desde que sejam para aí encaminhados como um ato de Justiça.

Se políticos ou gestores públicos roubarem recursos destinados à manutenção de serviços do Estado à sociedade, que não sigam impunes. As investigações, processo com suas etapas, e o julgamento e a condenação desses têm que ser uma circunstância natural do trabalho do Judiciário. Cadeia para quem merecer, e bola pra frente.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!