Ainda que acometida pelas ameaças da pandemia, uma incerteza sem data para se afastar totalmente – se é que isso um dia ocorrerá –, nossa economia tem o que comemorar. O grau em que o Brasil vem sendo afetado por essa tragédia mundial é representativo, mas o de menor expressão na América Latina, graças à boa resposta de diversos setores, como o agronegócio, a mineração de ferro, o gusa, estes suportados pelo bem-remunerado preço de exportação e pelo e-commerce, que não congelou totalmente o comércio interno. 

Não há como negar que a sustentação do comércio foi resultado do auxílio emergencial dado pelo governo federal, que injetou recursos nas contas de 38 milhões de brasileiros, livrando grande parte destes da fome. Prevê-se que, embora com um astronômico, mas motivado avanço do déficit público, em 2021 conseguiremos respirar. Não teremos a parceria de países vizinhos, primeira parada de várias de nossas relações comerciais, porque estão todos absolutamente quebrados, mas o direcionamento, em especial para a China, de nossos produtos rendeu e ainda renderá muitos bons frutos.

A carne bovina e a suína, o frango, o leite (internamente), a soja e frutas estão sendo comercializados a valores nunca vistos pelos produtores, embora também os defensivos e fertilizantes comprados em dólar estejam supervalorizados e influindo negativamente nos resultados do agronegócio. Mas a equação é boa e estimulante para quem produz. Além dos fatores climáticos, que ajudaram muito, a nossa extensão territorial e a multiplicidade de características de nossas regiões produtivas sempre contribuíram para a diversidade de nossa agricultura. 

Cairá menos do que anteriormente previsto nosso PIB, diante do quadro de absoluta e irremediável miséria econômica dos países latino-americanos, na sua maioria dependentes da exportação de matérias-primas. Exceto a Argentina, também muito afetada pela pandemia, sobretudo pelas regras públicas impostas para sua prevenção, e o México, que tem os EUA como um bom parceiro, são países onde a indústria tem baixa participação no conjunto da produção interna, pela insuficiência de capital, incipiência e desatualização de seus recursos de fabricação e automação. 

Obviamente a conta do nosso déficit vai chegar. Mais do que nunca, é hora de apertarmos a gastança de recursos públicos, hoje motivada pelo tamanho da folha de pagamento dos serviços públicos, em muitos casos pela remuneração de privilégios intoleráveis presentes em todos os Poderes do Estado. Congelar contratações, reduzir remunerações artificialmente infladas, ampliar a experiência bem-sucedida das novas relações de trabalho e prestação de serviços, rever as regras de crédito e operação do sistema financeiro, vender participações em empresas públicas onde a iniciativa privada tem melhor desempenho gerencial e de resultados, tudo o que puder ser feito para não aumentarmos a já desestimulante carga tributária e para evitarmos a volta da inflação e do alto preço dos serviços públicos. Este é o desafio dos que comandam em todos os níveis este Brasil. Cabe à sociedade ajudar e cobrar, participando como puder e com autoridade.