Não dá pra negar: a masturbação ainda carrega o peso do pecado. Mesmo sendo uma prática comum, natural, presente na vida de homens e mulheres, ainda é cercada de silêncio, vergonha e culpa. Em muitos relacionamentos, chega a ser vista como um ato de traição. Já ouvi casais dizendo que se sentiram traídos ao descobrir que o parceiro ou a parceira se masturba. E talvez você também já tenha se perguntado: será que tem algo errado comigo por fazer isso?

Na visão da educação sexual somática, a masturbação não é um ato de solidão ou egoísmo — é um portal de autoconhecimento profundo e conexão com o próprio corpo. É uma forma de escuta íntima, onde aprendemos a sentir, respeitar nossos limites e entender como o prazer se manifesta em nós.

Mas antes de te guiar por esse caminho, eu preciso te contar uma verdade que quase ninguém diz.

Se você é homem e se masturba sempre escondido, com pressa, focado apenas na ejaculação… você está repetindo um padrão aprendido na adolescência. Talvez você tenha começado assim: trancado no banheiro, com medo de ser pego, rápido, ansioso, com culpa. E repetir esse modelo na vida adulta condiciona seu corpo a associar prazer à urgência — o que, com o tempo, pode contribuir diretamente para ejaculação precoce e dificuldade de sustentar a excitação.

Já para nós, mulheres, muitas vezes a única forma de masturbação é através do vibrador — sempre no máximo, com rapidez e estímulos intensos, direto no clitóris. Sim, é gostoso. Mas quando essa se torna a única forma de sentir, o corpo também se condiciona. O que chamo de “orgasmo espirro”: aquele pico de prazer que chega rápido e some rápido, que não sustenta, não nutre, não satisfaz de verdade. Com o tempo, isso pode gerar uma sensação de frustração no sexo com o parceiro. O corpo não responde. O prazer não vem. A vontade se apaga.

Mas calma. A masturbação não é o problema — é a forma como nos relacionamos com ela.

Quer saber como transformar a masturbação em uma fonte de prazer consciente e expansão?

Se você vive um relacionamento, comece conversando com seu parceiro ou parceira. Tragam o tema da masturbação para a luz. Façam disso um assunto natural, saudável. Nem sempre os dois estarão com desejo no mesmo momento — e tudo bem. Sentir vontade, buscar prazer, ter um orgasmo é uma necessidade fisiológica, emocional e energética. Quando o casal naturaliza isso, o vínculo se fortalece, a intimidade aumenta, o afeto se expande.

Em segundo lugar, transforme esse momento íntimo num ritual de presença. Desacelere. Respire. Sinta.

Use a respiração como aliada. Toque seu corpo com curiosidade. Como você se sente ao encostar nessa parte? Onde o prazer começa a surgir? Você consegue prolongar esse sentir? Os homens podem observar o ponto de virada entre excitação e ejaculação — e brincar com ele, sem pressa, como se estivessem conduzindo a energia pelo corpo inteiro. E nós, mulheres, podemos explorar a vulva com delicadeza, pressionar suavemente e sentir como a circulação desperta o corpo. O simples fato de apertar levemente os lábios vaginais já aumenta a irrigação sanguínea e ajuda a facilitar o orgasmo.

E aqui vai um pedido: deixe a pornografia de lado nesse momento. Tente se excitar com o seu próprio corpo, com sua respiração, com sua imaginação. Seja autora da sua própria fantasia, criadora do seu prazer.

A masturbação consciente não é substituto do sexo — é base do autoconhecimento. Porque quem conhece seu corpo, quem se sente, se escuta, se acolhe… também se comunica melhor, se entrega mais, e sente com mais intensidade na relação com o outro.

Na próxima coluna, vamos continuar nesse caminho: Como despertar o desejo dentro do casal? Como o toque, a escuta e a liberdade emocional abrem espaço para o prazer mútuo? E por que o desejo feminino nasce muito antes do corpo ser tocado?

Até lá, se permita sentir. Não com culpa. Mas com curiosidade. Não com pressa. Mas com presença.