Homenagem aos heróis
Com um título belo, mas enigmático, dia 30, às 20h, o Grande Teatro Cemig Palácio das Artes abrigará mais um imperdível concerto, “Homenagem aos Brasileiros”, parte da série “Concertos da Liberdade”. Se fosse “Homenagem ao Brasileiro”, ainda poderíamos lembrar certo Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, mas não é o caso. Quem sabe um dia!
Foto: Arquivo Pessoal
Homenagem aos guerreiros
A apresentação celebra o Dia do Trabalhador, o Dia de Tiradentes e o Dia dos Povos Indígenas, com repertório que destaca a diversidade e a riqueza da música brasileira. Sob regência da maestra Ligia Amadio, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais recebe, como solistas, os músicos Hercules Gomes (piano), Danilo Penteado (contrabaixo) e Lucas Casacio (percussão).
Homenagem aos mártires
O programa reúne três obras de grandes compositores brasileiros, que sintetizam diferentes expressões culturais do país: Heitor Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e Radamés Gnattali, ídolos e faróis de Jobim. A abertura do concerto será com a estreia mundial da obra “A Lenda do Boto Cor-de-Rosa”, composta por Alexandre Kanji, spalla da OSMG.
Foto: Arquivo Pessoal
Homenagem aos pilares
Trata-se da abertura de uma ópera inspirada por uma viagem a Manaus. Em seguida, vem a “Suíte Vila Rica”, de Camargo Guarnieri, baseada na trilha sonora composta para o filme “Rebelião em Vila Rica” (1957). A obra, posteriormente adaptada para orquestra, traduz musicalmente o Brasil colonial com influências de modinhas, toadas, cantigas infantis, danças africanas e viola caipira.
Homenagem aos sobreviventes
É a única obra de Guarnieri originalmente concebida para o cinema e foi dedicada ao então Ministro da Educação e Cultura, Clóvis Salgado – que, nos anos 1970, foi quem mais levantou recursos financeiros para viabilizar a retomada e conclusão das obras do Palácio das Artes. Posteriormente, será apresentado o “Concerto Carioca nº 2”, de Radamés Gnattali, peça histórica por ser a primeira composição brasileira a trazer a bateria como instrumento solista ao lado de uma orquestra sinfônica.
Homenagem aos fortes
Escrita nos anos 1960, a obra homenageia a música popular brasileira por meio dos gêneros samba e choro. Encerrando a programação, a “Bachianas Brasileiras nº 7”, de Heitor Villa-Lobos, une a estrutura da música barroca ao espírito brasileiro. Composta em 1942, a obra é dividida em quatro movimentos e reflete o ideal nacionalista do compositor, que via a cultura popular como fonte legítima da identidade musical brasileira.
Homenagem aos resilientes
A peça é uma síntese das expressões indígenas, folclóricas, rurais e urbanas do país; é parte de uma série de nove composições de Heitor Villa-Lobos, escritas entre 1930 e 1945. Nelas, o compositor mistura o material folclórico brasileiro, em especial a música caipira, às formas pré-clássicas de Bach.
Homenagem aos resistentes
Radamés Gnattali compôs “Concerto Carioca nº 2” em 1964. Porém, a obra ficou esquecida por quase meio século até ser descoberta por um grupo de músicos: o “Quatro a Zero”, que tem, entre os integrantes, os solistas do concerto Danilo Penteado e Lucas Casacio. Em sua tese de doutorado, Casacio analisou, especificamente, essa obra de Gnattali.
Homenagem aos fortes
“O ‘Concerto’ foi dedicado ao Tamba Trio e composto pelo Radamés a pedido do percussionista Hélcio Milito, um dos fundadores do Tamba. É um concerto para um trio solista, com bateria, piano e contrabaixo, que era a instrumentação básica do grupo. Mas o Tamba Trio não chegou a tocá-lo. O material ficou guardado por um bom tempo, até que nós - o ‘Quatro a Zero’ - conseguimos acesso a ele e trabalhar na revisão, edição e finalmente na interpretação musical”.
Foto: Paulo Lacerda/Divulgação
Homenagem aos oprimidos
“A partir do trabalho feito no doutorado, com as revisões e a editoração das partituras, pudemos gravar o concerto a convite da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, além de termos tocado com diferentes orquestras no Brasil e no exterior”, explica o músico. “O pianista Hércules Gomes não integra o grupo, mas participou das apresentações sinfônicas da obra desde então”.
Homenagem à Liberdade
Pensando bem, “Homenagem aos Brasileiros” é uma homenagem a todos nós, 211,1 milhões de pessoas ou espectros, em dados de 2023. Uma homenagem que rima com o roteiro do show “Brasileiro: Profissão Esperança” (1970), de Paulo Pontes (1940-1976) e claro, com o livro maldição/sina, “Brasil, País do Futuro” (1941) do autor judeu-austríaco Stefan Zweig (1881-1942), que fugiu do Nazismo para o país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Paulo Pontes morreu aos 36 anos, de câncer; Stefan Zweig, se matou, aos 60, em Petrópolis (RJ).
Foto: Paulo Lacerda