Apontada como o quarto esporte mais praticado entre os brasileiros, a corrida de rua tem quebrado barreiras e conquistado novos espaços. São mais de 13 milhões de praticantes espalhados pelo país, segundo o relatório “Por Dentro do Corre”, desenvolvido pela Olympikus em parceria com a Box 1824. Com o crescimento da modalidade, surgem também questionamentos sobre quem realmente pode calçar o tênis e encarar os quilômetros. Entre os que sonham em começar, muitos carregam dúvidas ligadas ao peso corporal e à capacidade física: será que pessoas com sobrepeso ou obesidade conseguem encontrar na corrida um caminho seguro para o bem-estar?
Profissionais da saúde e do esporte são unânimes ao afirmar que sim, pessoas com sobrepeso ou obesidade podem praticar corrida de rua, desde que iniciem de forma gradual e com orientação adequada. O processo envolve respeitar os limites do corpo, fortalecer a musculatura e adotar acompanhamento médico para reduzir riscos de lesões. Mais do que uma barreira, o peso passa a ser um fator que exige atenção extra, mas que não impede o acesso aos benefícios da modalidade.
“Eu acredito que pessoas com sobrepeso e obesidade podem correr, desde que recebam acompanhamento adequado de profissionais de educação física, além de, quando necessário, suporte de uma equipe multidisciplinar com médicos e nutricionistas”, explica Daniel Teodoro, o Teo, de 51 anos, pós-graduado em treinamento esportivo e fundador da Assessoria Teo Esportes.
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Legenda: Atleta e educador físico, Teo prepara corredores para grandes provas Brasil afora / Foto: Gladson Raimundo de Souza / Divulgação
Lesões
Pessoas com sobrepeso ou obesas são mais propícias a terem lesões? Segundo Teo, a resposta é sim, porém, nem todas as lesões podem ser atribuídas ao índice de massa corporal mais elevado. “Fatores como falta de preparo muscular, sono insuficiente, alimentação inadequada, progressão rápida de volume e intensidade têm grande influência. Se o início for abrupto e sem orientação, o risco de sobrecarga é considerável, já que o corpo precisa de um período de adaptação. Por isso, a melhor estratégia é começar com caminhadas intercaladas com trotes leves, sempre associadas ao fortalecimento muscular. O ponto central é adaptar o treinamento ao perfil do corredor”, finaliza.
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De acordo com a fisioterapeuta, mestre e doutoranda em Ciências da Reabilitação pela UFMG, Renatha de Carvalho, de 38 anos, para diminuir o risco de lesões, o mais aconselhável é ter o acompanhamento de profissionais desde o início.
“Se houver um bom acompanhamento nutricional, físico, cardiológico, dentre outros, os riscos são minimizados e assim, a prática vira uma atividade mais segura, prazerosa e com possibilidade de ganhos reais de força, condicionamento físico e cardiorrespiratório, e uma maior qualidade de vida”, explica.
Legenda: Para a fisioterapeuta Renatha de Carvalho, a corrida de rua pode ser o início de uma grande mudança de vida / Foto: Arquivo Pessoal
Renatha de Carvalho acredita ainda que a corrida de rua pode ser crucial para aquelas pessoas que desejam sair do sobrepeso e da obesidade para uma vida saudável. “Acredito que é uma grande porta para essa transformação que tantos querem e buscam, mas é importante frisar a necessidade de praticar qualquer atividade física de forma segura e com acompanhamento multiprofissional, garantindo melhores resultados e minimizando os riscos”, reforça.
Legenda: Bruno Câncio se reenventou através da corrida de rua / Foto: Arquivo Pessoal
Do sedentarismo a treinador
A trajetória de Bruno Câncio e Santos, de 23 anos, é marcada por uma virada surpreendente. Durante a pandemia, ele levava uma vida totalmente sedentária, chegou a pesar 110 quilos e dependia de medicamentos controlados. O excesso de comida industrializada e a falta de atividade física resultaram em problemas físicos e emocionais, que se tornaram um alerta.
Foi nesse momento que Bruno decidiu mudar. “Esse cansaço foi se acumulando e chegou uma hora em que eu não aguentava mais. Era preciso fazer algo para aliviar a mente e o cansaço mental. Então, eu comecei a fazer muita coisa andando. Parei de ficar utilizando o transporte público com frequência e passei a caminhar. Chegou um momento em que eu comecei a inventar algumas caminhadas, não ia nem resolver nada, mas aí eu comecei a caminhar diariamente”, relata.
Com o tempo, as caminhadas trouxeram novos hábitos. Bruno se matriculou em uma academia e intensificou a rotina de treinos, mas nunca abandonou a prática de caminhar. Foi então que a corrida de rua, já conhecida por ele, voltou a fazer parte de sua vida. “A corrida voltou em uma época em que eu precisava mostrar a mim mesmo que eu era capaz de me superar, de ser melhor do que ontem, de mostrar que eu consigo vencer desafios. Iniciei na corrida e não conseguia fazer 5km. Com o tempo, os 5 km ficaram tranquilos, melhorei meu tempo, passei a treinar 10km e comecei a ver que eu era capaz”, revela.
O envolvimento com a corrida cresceu a ponto de transformar não só sua saúde, mas também sua carreira. Bruno passou de atleta a treinador e, atualmente, cursa educação física. A experiência pessoal, segundo ele, é uma aliada essencial no trabalho com os alunos. “Com certeza, a vivência pessoal do treinador na corrida faz total diferença, é essencial, porque você entende pelo o que o seu aluno está passando. Na hora de montar um treino, uma planilha, eu sei se o treino vai levar esse aluno ao seu objetivo. Você sabe quais são as sensações, o que você sente naquele treino, na hora que o aluno vai te mandar um feedback e o que você vai conversar com o aluno. A gente entende muito mais o que ele está querendo dizer”, finaliza.
*sob supervisão de Paula Coura.