O vigia Marco Antônio de Jesus, de 53 anos, já perdeu as contas de quantas corridas participou. Foi preciso arrumar várias caixas para guardar todas as medalhas que ganhou em provas pelo país. A secretária-executiva Thanise Natali, de 42, é outra colecionadora de medalhas e guarda cada uma delas com muito carinho em um cômodo da sua casa. A educadora física Jéssica Amanda Pereira, de 33, mandou emoldurar algumas medalhas e troféus mais importantes, que decoram seu estúdio de pilates no bairro Ouro Preto, na Pampulha, em Belo Horizonte.
Mais do que as honrarias conquistadas com muito orgulho ao final de cada prova, eles colecionam histórias. Com a explosão da prática de corridas de rua pelo Brasil nos últimos anos, o número de provas se multiplicou na mesma proporção. Motivados por doses extras de endorfina, substância química liberada pelo corpo humano com a prática esportiva, muitos atletas cruzam o país em busca da prova ideal.
Uma a uma, Marco Antônio vai tirando as medalhas das caixas e relembrando as provas de que já participou e as medalhas que já colocou no peito. “Imagino que já tenha disputado pelo menos umas 400 provas. Cada medalha, cada prova tem uma história. É um desafio pessoal mesmo. A medalha no final da prova representa o final de um ciclo de treinamento e o início do próximo”, diz o vigia, que imagina já ter gastado cerca de R$ 20 mil para correr, entre inscrições, passagens e hospedagens.
Além de Belo Horizonte, Marco disputou provas no Rio de janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Cabo Frio, Vitória e Aparecida. Entre as centenas de provas, duas ele guarda com carinho: a Volta da Pampulha, em 2014, e a Maratona do Rio, em 2016. “A Pampulha foi a minha primeira de longa distância, e a do Rio a minha primeira maratona. Essas marcaram e são especiais”, relembra. “No Rio, eu estava acima do peso, ninguém acreditava que eu ia conseguir completar os 42 km. Só eu acreditei em mim”, conta.
Thanise Natali começou a correr em 2016 e acumula mais de cem medalhas e 40 troféus. “Colecionar medalhas é o mesmo que colecionar conquistas. Cada uma tem uma história e um valor simbólico muito grande para cada corredor”, diz ela, que já disputou provas no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Brasília. A Meia Maratona de Belo Horizonte, em 2016, que tinha também opção de 5 km, tem um lugar especial. “Foi a minha primeira prova. Foram 5 km que abriram portas para muitas outras”, recorda. Dos 5 km daquele ano para os 42 km da Maratona de Florianópolis, em 2002, foi um pulo. Agora, Thanise já está de malas prontas para a Maratona de Buenos Aires, em 21 de setembro, e sonha em correr em Berlim.
Uma amadora prá lá de profissional
A educadora física Jéssica Amanda Pereira, de 33 anos, começou a correr despretensiosamente aos 19 anos. Primeiro foi na esteira. Gostou tanto do esporte que passou a ir para a faculdade correndo. “Eu morava em São Joaquim de Bicas e estudava em Betim. Ia correndo toda terça e quinta”, relembra. “Me inscrevi em uma prova de 5 km em 2011. Fiquei em terceiro lugar e nunca mais parei”, conta a orgulhosa Jéssica, que segue acumulando resultados expressivos em provas pelo país.
“Hoje sou maratonista e subi no pódio em algumas das principais do Brasil. Em 2023 e 2024 estive na lista das dez brasileiras melhores maratonistas do país”, enumera a corredora, que foi campeã da Maratona de Florianópolis, em 2023.
Mesmo com tantas marcas, Jéssica mantém a humildade. “Não sou profissional, sou uma amadora”, diz ela, que hoje faz acompanhamento com uma equipe multidisciplinar para seguir quebrando recordes e contando medalhas.
“Tenho que ter muita dedicação, mas não é fácil. Fico feliz por estar inspirando, principalmente os meus alunos, com o esporte. Isso é o que me move hoje em dia”, completa a corredora.
Treinos têm que se encaixar na rotina
Elas cuidam da casa, trabalham fora e vencem os 42.195 km das maratonas com muita tranquilidade. A rotina de um atleta amador que resolve competir em alto nível não é fácil, mas é recompensadora.
Muitas vezes, os treinos são feitos de madrugada para não atrapalhar a rotina de um trabalhador comum. “Costumo começar meus treinos antes das 5h da manhã para depois ir para o trabalho”, conta Thanise Natali. Quando volta para casa, nada de descanso. Ainda tem que cuidar da casa e de dois cachorros.
Quem vive rotina semelhante é Jéssica Amanda, que também acorda de madrugada para treinar. “Minha missão com a corrida é inspirar pelo exemplo. Mostrar, através da minha própria jornada, que é possível cair, sentir dor, duvidar e ainda assim levantar, correr, conquistar”, encoraja Jéssica. “Conciliar os treinos é o maior desafio”, relata.
A paixão pela corrida de rua faz com que muitos atletas, amadores ou não, viajem o país em busca de provas, marcas, histórias e superação. Até falta espaço em casa para tanta medalha e troféu. O vigia Marco Antônio de Jesus Nascimento, de 53 anos, já perdeu as contas de quantas… pic.twitter.com/00q1KqPpwL
— O TEMPO (@otempo) September 5, 2025