Com o sucesso mundial de João Fonseca, milhares de tenistas amadores têm tirado as suas raquetes do armário e partido rumo às quadras do Brasil. Apesar de ser um hábito extremamente saudável,  cresce também um alerta: sem preparo adequado e cuidados preventivos, o que poderia ser fonte de saúde pode virar dor, lesão e frustração.

No recente torneio “Finals Supernosso dos Viciados no Tennis”, grupo de atletas amadores de Belo Horizonte, o fisioterapeuta esportivo Rodrigo Fadél Martins ofereceu apoio físico, de recuperação, além de orientações valiosas — principalmente sobre prevenção.

Ex-jogador de futebol profissional, com passagem internacional na carreira, Fadél acumula sete formações (entre graduação, pós e mestrados) e baseia sua prática na experiência como atleta lesionado — ele sofreu quatro cirurgias no joelho, lidando com lesões como LCA, menisco e estiramentos musculares. Essa vivência, diz ele, é que moldou sua vocação por fisioterapia esportiva.

“Eu sou um exemplo positivo dos dois mundos: atleta profissional, paciente que passou por cirurgias e hoje defensor da prevenção” — explica Fadél.

Alta do esporte é espetacular, mas é preciso prevenir

Rodrigo Fadel em atendimento em sua clínica, Workout Fisioterapia

 

Na era do incentivo ao movimento e da valorização da vida ativa, cresce o número de pessoas que buscam o esporte como ferramenta de saúde e bem-estar. No entanto, a empolgação da prática muitas vezes camufla um ponto essencial: a consciência sobre as próprias condições físicas. Em entrevista, o especialista alerta: o esporte, por si só, não machuca — o problema está em como o indivíduo se apresenta para praticá-lo.

“Não é simplesmente: "Ah, hoje eu acordei e quero jogar tênis, vou pegar uma raquete e jogar." Não. A gente entende que existe uma relação entre o que eu faço e como eu estou para fazer. Se essa relação não está equilibrada, minha chance de lesão aumenta muito”, disse. 

Fadel alerta para o perigo da desestimulação que a incapacidade física pode causar no praticante em caso de uma lesão séria. Ao invés de aproveitar a prática, o amador corre o risco de se distanciar do seu esporte. 

“Se estou inapto e quero praticar algo que não faço, eu aumento muito o risco de me machucar. E aí, aquilo que seria prazeroso vira desprazer. “Poxa, machuquei, voltei, machuquei de novo.” Mas será que a culpa é do esporte? O ser humano tem muito esse hábito de culpar a modalidade esportiva. O ser humano tem muito esse hábito de culpar a modalidade esportiva. Não é a modalidade — é o indivíduo. É como ele está para a prática esportiva”, analisou.

Por isso, ele reforça a importância de uma abordagem multidisciplinar. Avaliações ortopédicas, fisioterapêuticas, nutricionais e físicas devem anteceder a entrada mais intensa na atividade esportiva. “Se você entende como está, consigo ser intervencionista e trabalhar para performar melhor. Assim, minimizar o risco de lesão.”

Tênis amador: os riscos e potencialidades

As atletas do Viciados no torneio finals de beach tennis

 

No evento realizado no último final de semana, Fadel prestou auxílio de recuperação imediata para os atletas, com Crioterapia, botas pneumáticas, liberação miofascial, entre outros. Tenista amador e membro do Viciados no Tennis, ele foi incorporado ao grupo de apoio ao grupo exatamente nesse contexto de efervescência do esporte. 

Com o aumento da prática, aumento de lesões. Entre lesões comuns, Fadél destaca a prevalência de tendinites, bursites e inflamações no ombro, cotovelo, punho, joelho e tendão de Aquiles — causadas por acelerações, frenagens e gestos repetitivos típicos do tênis, sobretudo no saques e deslocamentos em quadra (ou areia, no caso do beach-tennis).

Contudo,  faz uma observação importante. De acordo com a sua prática, cerca de 80% das lesões em amadores são preveníveis, especialmente se houver avaliação, intervenção e recuperação adequadas.

 “O desafio dos profissionais de saúde é levar a informação correta. Muita gente não faz por falta de orientação. Se a gente mostrar a importância de entender o corpo, a prática esportiva muda. A pessoa pensa: "Poxa, talvez eu precise de um preventivo, de uma avaliação..." E não é só tomar anti-inflamatório e voltar a correr”, destacou Fadel. 

“A melhor fisioterapia não é a curativa — é a preventiva. A gente não quer pegar uma lesão grave. É muito mais legal pegar alguém fazendo manutenção, com uma expectativa positiva de competir, e ajudá-lo a crescer”, finalizou.

Carga de treino é o segredo

Por isso, na Workout, sua empresa de fisioterapia, ele busca entender a realidade dos praticantes que buscam melhorar as aptidões físicas e incorporar uma carga de treino 

“Cada biomecânica esportiva requer uma necessidade específica. Eu preciso ser individual e específico para aquilo. Então, se eu jogo tênis, eu faço um trabalho específico de tênis”, disse. 

Fadel aponta que, só puxar peso, de maneira desorganizada não ajuda em nada. 

Musculação trivial, aquela que eu faço na academia com a ficha normal... isso não te dá condições físicas para jogar, pode até te machucar, né? Às vezes você tá fortalecendo ou até sobrecarregando uma região que já está machucada”, apontou. 

Por conta disso, Fadel aponta para um horizonte otimista com a alta do número de praticantes no tênis. "O melhor cenário da fisioterapia não é o curativo. É o preventivo ``. educar, avaliar e preparar são as chaves para o esporte ser uma fonte de saúde e bem-estar — não de dor e afastamento.