No último fim de semana, o Brasil registrou ao menos 4.463 focos de incêndio. O dado é do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo o levantamento, os estados com maior número de focos de queimadas em 48 horas foram: Pará (1.103), Mato Grosso (752), Amazonas (720), Minas Gerais e São Paulo (307). Dentre os municípios, São Félix do Xingu (PA) foi o mais afetado, com 272 pontos em chamas. A Amazônia foi o bioma mais atingido, com 60,7% da área contaminada pelo fogo. 

O impacto das queimadas ganhou força nos últimos dias após os incêndios florestais em São Paulo avançarem pelas cidades paulistas e refletirem em várias partes do país. Houve registro de mortes, bloqueio parcial de rodovias e restrição de atividades em aeroportos. Por causa disso, o governo paulista decretou emergência em alguns municípios na última sexta-feira (23). 

Conforme dados coletados por meio de satélites do Inpe, São Paulo vive o pior mês de agosto em termos de incêndios desde o início dos registros, em 1998, com 3.480 focos identificados, mais do que o dobro do total do ano passado. Mas a propagação do fogo - favorecida por um período prolongado de seca - é reforçada também pelos incêndios florestais que devastam a Amazônia. 

Segundo o World Wide Fund Brasil (WWF - Fundo Mundial para a Natureza no Brasil), o número de queimadas na região que abriga a maior floresta tropical do planeta explodiu no mês de julho deste ano. Entre os dias 1º e 31, foram registrados 11.145 focos de incêndios no bioma, o maior número para o mês desde 2005, de acordo com dados do Sistema Deter, do Inpe.

O registro é 93% maior que os 5.772 focos registrados em julho do ano passado e 111% maior que a média para o mês nos últimos 10 anos (5.272). De acordo com os dados, a situação se agravou na Amazônia nos últimos dias: dos mais de 11 mil focos de queimadas registrados em julho, metade ocorreu nos últimos oito dias do mês.

Para a diretora de Estratégia do WWF-Brasil, Mariana Napolitano, alguns fatores influenciam para a seca extrema na Amazônia. “É uma combinação de um El Nino intenso, de outros impactos das mudanças climáticas e do desmatamento acumulado na região, nas últimas cinco décadas. A seca, do ano passado, foi a mais extrema desde que alguns parâmetros, como o nível do Rio Negro – em Manaus – começaram a ser medidos em 1902. Com isso, a temporada de chuvas na Amazônia entre 2023 e 2024 foi muito abaixo das médias históricas, o que fez com que o bioma entrasse num novo período de seca, agora com rios em níveis baixos e vegetação mais suscetível aos efeitos das queimadas.” 

Outros biomas

Outro levantamento do WWF Brasil mostra que o Cerrado teve 10.647 focos de queimadas no primeiro semestre de 2024, um aumento de 31% em comparação ao mesmo período no ano passado, quando foram registrados 8.157 focos entre 1 de janeiro e 17 de junho. Nesse período, 52,3% das queimadas detectadas no bioma ocorreram nos quatro estados do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde se situa atualmente a principal fronteira de expansão agrícola do país. 

Segundo a organização, a situação é especialmente crítica no Tocantins, atingido por 2.707 focos de queimadas desde o início do ano no bioma, um aumento de 48% em comparação ao mesmo período em 2023, quando foram registrados 1.823 focos.

A especialista em Conservação do WWF-Brasil, Bianca Nakamato, enfatiza a importância do Cerrado para o país. “O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, atrás apenas da Amazônia. Ele também é um bioma extremamente importante em termos de serviços ecossistêmicos fornecidos pelo Brasil. É no Cerrado que a gente tem oito das doze principais nascentes das bacias, e também é onde se localizam os principais aquíferos. Além disso, tem um papel fundamental em termos do ciclo hidrológico do Brasil, porque trabalha junto à Amazônia, para absorver toda essa água que é formada em chuvas - que migram da Amazônia - para o resto do nosso país.” 

Minas Gerais

O Estado de Minas Gerais registra, em 2024, o maior número de incêndios dos últimos cinco anos. Conforme o balanço divulgado pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), na última sexta-feira (23/8), de janeiro a agosto deste ano, foram 14 mil ocorrências, crescimento de 50% em relação ao mesmo período do ano passado. A corporação afirmou ainda que, cerca de 4.000 hectares de vegetação em unidades de conservação foram devastados pelas chamas. Também destacou que, 90% dos incêndios registrados são causados por ações humanas.