O Brasil registrou média de quatro registros de feminicídios e 187 de estupro de mulheres por dia no primeiro semestre de 2025, mostra o Mapa Nacional da Violência de Gênero.

Com dados extraídos do Ministério da Justiça e Segurança Pública e organizados por Instituto Natura e Observatório da Mulher Contra a Violência do Senado, os números foram divulgados na manhã desta terça-feira (26/8).

O levantamento mostra que 718 mulheres morreram em razão do seu gênero de janeiro a junho de 2025, conforme registros de ocorrência. O estado de São Paulo lidera em número absoluto de casos oficiais (128), seguido por Minas Gerais (60), Bahia (52), Rio de Janeiro (49) e Pernambuco (45).

Leia também. Homicídios diminuem, mas número de estupros bate recorde no Brasil, com um caso a cada seis minutos

Desde a criação da Lei do Feminicídio, em 2015, o país registrou 12.380 vítimas desse tipo de crime, e a média de quatro mortes por dia se repete há cinco anos.

Os registros de estupro contra mulheres têm tendência de queda em 2025, mas se mantêm em patamares altos. Foram 33.999 casos registrados de janeiro a junho deste ano, resultando na média de 187 por dia.

Rondônia registrou a maior taxa do crime no mês de junho, por exemplo, com 16 casos por 100 mil habitantes, seguido por Amapá e Roraima (13). As menores taxas estão no Rio Grande do Norte, Distrito Federal e Ceará (3).

Em 2024, houve 75.061 registros de estupro, 205 por dia. Nos últimos cinco anos, a média é de 195 estupros notificados diariamente.

Para Beatriz Accioly, doutora em antropologia pela Universidade de São Paulo (USP) e líder de políticas públicas pelo fim da violência contra as mulheres no Instituto Natura, é urgente melhorar a articulação para enfrentamento da violência de gênero no Brasil. Hoje, os números são assustadores, diz.

"Infelizmente, o tema ainda é tratado como algo da esfera da moral e não como de responsabilidade da gestão pública, com prioridade, orçamento e planejamento. Precisamos fortalecer a rede de atendimento e enfrentamento, em especial fora das capitais, para garantir resposta rápida e eficaz às denúncias e pedidos de apoio", analisa a especialista.

Ela ressalta ainda que, mesmo com dados já alarmantes, é possível que o problema seja maior. Isso porque a tipificação do crime de feminicídio depende geralmente da análise da autoridade policial e há, até hoje, um esforço para diferenciar homicídios de feminicídios.

Vitória Régia da Silva, diretora-executiva da Associação Gênero e Número, é mais incisiva sobre os dados. Para ela, eles revelam a total omissão do Estado em seu dever de proteger, especialmente meninas e mulheres. "É preciso transformar informação em ação concreta. Não podemos naturalizar a morte e a violência como parte do cotidiano", diz ela.