POLÊMICO

Alguns policiais já defendem a legalização de todas drogas

Redação O Tempo

Por JOSÉ VÍTOR CAMILO
Publicado em 28 de maio de 2014 | 03:00
 
 
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Apesar da maior parte dos policiais pregarem que a guerra às drogas é a melhor alternativa, alguns trabalhadores da forças policiais do país concordam que a legalização pode ser uma melhor saída para o país. É o caso de Orlando Zaccone, delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro e membro da Law Enforcement Agaist Prohibition (LEAP) – Servidores da Lei Contra a Proibição, em tradução livre – que reúne policiais, juízes e advogados favoráveis à mudança na política de combate às drogas.

“No início eu entendia a ideia da descriminalização do usuário, mas, com o tempo, observei bem o que acontecia à minha volta e vi não existia a possibilidade de reduzir os danos sem a regulamentação de todas as drogas. Por isso me filiei ao LEAP”, explica o delegado. Para ele, o verdadeiro dano das drogas está na condição da guerra contra elas, que, segundo ele, mata muito mais gente nas periferias do que o consumo dos ilícitos em si.

O policial cita o tabaco e o álcool como drogas que causam danos à saúde, mas que, por serem legalizadas, não causam os problemas relacionados ao tráfico. “Essa violência existente não é causada pela existência das drogas, mas sim pela corrupção policial. O sistema atual praticamente coloca a polícia em uma cilada, que é a meta de acabar com o tráfico. Chega a ser ridículo, qualquer pessoa com dois neurônios sabe que a polícia jogava nisso sabendo que não cumpriria a meta”, afirma Zaccone.

Para o LEAP, com a legalização de todas as drogas o tráfico simplesmente desaparece, já que, assim como com o mercado ilegal de álcool e cigarro que continuam existindo, mas passam a configurar o crime de descaminho. “Se legalizar só a maconha está É como o que aconteceu com a Lei Seca dos Estados Unidos. A proibição criou violência e traficantes como Al Capone, que tiveram seu fim com a regulamentação do mercado”, garante o policial.

Orlando Zaccone afirma que com a legalização os principais problema da violência nas favela e periferias do Brasil acabariam, uma vez que a própria atuação da polícia na guerra contra as drogas acabaria. Com esse sistema de guerra instalado, a repressão recai apenas sobe o varejo, que é quem menos lucra com o tráfico. Enquanto isso, os verdadeiros grandes traficantes estariam  resguardados pelo sistema atual, conforme o LEAP.

“Segurança pública não se faz só com aumento de pessoal, ma também com descriminalização. As pessoas falam que teremos uma cidade de zumbis. Parece até que da forma como está as coisas estão bem”, diz o policial. Segundo ele, um estudo feito pela Fiocruz mostrou que a região com menor índice de consumo de crack é o Norte do país. Lá, por ser na fronteira com a Bolívia, tem uma grande oferta de cocaína em estado puro e barata.

“A molécula da cocaína e do crack só se diferem por um sal, que não tem qualquer efeito no cérebro. A diferença é que, por ser inalado, a fumaça do crack faz muito mais mal do que a cocaína, que é uma droga tida como a do glamour. Se os viciados tivessem acesso à cocaína de qualidade e com um preço acessível, regulamentada, o crack estaria ameaçado”, finaliza Zaccone.

Tenente usuário de maconha

O tenente da Polícia Militar (PM) de Minas Gerais, Paulo Braga*, é usuário de maconha desde a adolescência. “Muito antes de eu entrar para a polícia eu já fazia o uso recreativo. É a substância que me leva à satisfação, e vejo que faz muito menos mal do que as outras substâncias que uso, como o cigarro e o álcool”, defende o militar.

Durante os vários anos de trabalho, o militar precisou efetuar diversas prisões de usuários e traficantes de maconha. “Por mais que eu use, eu trabalho justamente com o combate dessas substâncias que são estabelecidas como proibidas pela lei. Eu não fazia as prisões por que queria, mas sim cumprindo o que me era exigido”, explica Braga.

Apesar de não acreditar que os usuários da planta alimentam o tráfico, o policial é favor da legalização do uso recreativo da Cannabis no Brasil. “Tem que legalizar, estamos todos cansados de fumar porcaria”, brinca o policial. Segundo ele, a questão da maconha já está banalizada até mesmo dentro da polícia e está na hora de legalizar. (Com Lucas Buzatti)

*Nome fictício

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