Bahia

‘Amoras’ livro infantil do rapper Emicida é alvo de intolerância religiosa

Livro adotado por uma escola particular em Salvador foi rabiscado com críticas a religiões africanas


Publicado em 08 de março de 2023 | 11:01
 
 
 
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Um exemplar do livro infantil Amoras, escrito por Emicida, foi alvo de intolerância religiosa praticada pela mãe de um aluno do Ensino Fundamental de uma escola particular de Salvador, na Bahia. 

Ao ter acesso ao livro, a mãe de um dos alunos se revoltou com citações às religiões de matriz africana e escreveu frases de cunho cristão, com citações da Bíblia, classificando informações sobre orixás como falsas.

De acordo com a reportagem da TV Bahia, logo na contracapa a mãe do aluno escreveu "antes de começar essa leitura, leiam ou peça para lerem o Salmo 115;4-8".

Além das críticas religiosas, a mulher também rebateu teorias científicas como a de que a raça humana surgiu no continente africano. A mãe ainda sugere que as crianças busquem informações sobre a criação do ser humano no livro Gênesis, da Bíblia, onde é citada a história de que somos descendentes de Adão e Eva.  

Já no trecho que do livro que aborda a escravidão no Brasil, quilombos e Zumbi dos Palmares, ela diz. "Ao longo dos anos, a história da humanidade e do Brasil vem sendo modificada a fim de esconder a verdade para que vivamos no engano. Não se limitem a uma versão da história."

Lançado em 2018, o livro ‘Amoras’ narra a história de uma menina negra que está aprendendo sobre sua identidade. Em conversas com seu pai, ela tem acesso a conhecimentos ligados a culturas e religiões diferentes. O livro também apresenta grandes nomes que fizeram parte  da luta dos povos negros no mundo, como Zumbi dos Palmares, Martin Luther King e Malcolm X.

O que dizem os envolvidos

Em nota, a direção da escola menciona que é contra as declarações escritas no livro e assegurou que a obra será reposta, para que os estudantes continuem tendo acesso ao conteúdo do livro. Outra medida que deve ser tomada é a convocação da família para uma reunião.

Em entrevista à TV Bahia, a mãe, que não quis se identificar, disse que não praticou intolerância religiosa. Ao deparar com citações às religiões africanas, ela quis somente apresentar um "contraponto" para que "os pais pudessem ler diferentes versões a seus filhos". Além disso, ela cita que a instituição de ensino não havia informado que não abordaria religiões neste ano, mas a obra trata sobre o assunto.

Pelas redes sociais, o rapper Emicida, autor do livro "Amoras", disse que ficou triste ao saber do episódio de intolerância religiosa, mas "não derrotado". "A tristeza é por essas pessoas que querem que a sua religião, no caso o cristão, protestante, conhecidos como evangélicos, seja respeitada, e deve ser respeitada, mas não se predispõem nem por um segundo a respeitar outras formas de viver, de existir e de manifestar sua fé", pontuou.

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