Religiosidade

Anuário Folhinha de Mariana mantém tradição desde 1870

Edição de 2011 do calendário traz previsões do tempo e dicas de plantio

Por DOUGLAS COUTO
Publicado em 17 de dezembro de 2010 | 18:51
 
 
 
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Em plena era da internet, carros futuristas e dinheiro de plástico, uma publicação do século XIX desafia a tecnologia e resiste ao tempo em Mariana, cidade da região Central de Minas Gerais.
Trata-se da "Folhinha de Mariana", calendário criado em 1870 e que, além de registrar os dias do ano, faz uma previsão do tempo para os 12 meses e orienta sobre qual cultivo deve ser plantado em qual época. Por ela, é possível saber em qual período vai chover ou fazer sol. E tem gente que garante que a previsão não erra.

Ainda hoje, os moradores da cidade histórica mineira mantêm a tradição de seguir a "Folhinha Eclesiástica da Arquidiocese de Mariana", nome completo da publicação editada no começo de cada ano. O sucesso do periódico se deve, também, ao fato de ele trazer os nomes de santos para os 365 dias do ano, informação que, ao longo das décadas, vem servindo de inspiração para muitos pais e mães na hora de batizarem os filhos.

Criado por padres católicos, o calendário substituiu a antiga "Folhinha de Rezas do Bispado", de 1830. Para os moradores, o que mais chama a atenção é mesmo a previsão do clima.

Mistério. O cônego José Geraldo Vidigal, que dirigiu a publicação por 35 anos, revela que a origem das previsões é um estudo feito a partir do "Lunário Perpétuo", livro que contém tabelas com cálculos para descobrir o regulamento do tempo. O livro é raro e, segundo o religioso, só existem dois exemplares originais no mundo - um está em Portugal e o outro em Mariana. "O ‘Lunário’ foi escrito em terras lusitanas, no século XVII, por um autor desconhecido. É baseado em observações astrológicas feitas anos a fio pelo escritor. Nele, encontramos a fórmula para calcular períodos de plantio, clima e fases da lua. Vários leitores consideram as previsões infalíveis", explicou o cônego, lembrando que a origem de tal sabedoria é um mistério e que o livro é guardado em segredo.

Mas, para os moradores, isso não importa. O que vale é comprovar o que está escrito na folhinha. Para o funcionário mais antigo da gráfica Dom Viçoso, José Liberato, 74, não há dúvida. "É mais fácil nascer dente em galinha do que a ‘Folhinha de Mariana’ errar", diz, ao reproduzir um ditado popular. Desde 1963, Liberato é responsável pela impressão da publicação e um dos guardiões de seus segredos.

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