ENTENDA

Na cabine ou no porão: como funciona o transporte de pets no Brasil e em outros países?

Agências especializadas prestam consultoria e realizam todos os procedimentos para tutores viajarem com seus animais; preço do serviço pode chegar a R$ 7 mil

Por Shirley Pacelli
Publicado em 07 de maio de 2024 | 08:00
 
 
 
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Não há quem não tenha ficado desolado ao ver o vídeo do caso Joca, o cãozinho que morreu, depois que foi ‘extraviado’, tal qual uma bagagem, para o aeroporto errado e mandado de volta para o terminal de origem. A comoção nacional após o erro da companhia levou o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) a anunciar a criação de uma Política Nacional de Transporte Aéreo de Animais. Atualmente, não há nenhuma regulamentação sobre o serviço e as regras são determinadas pelas próprias companhias aéreas. 

Para viajar com seu bichinho, há uma série de requisitos que devem ser cumpridos, demandando um planejamento prévio. O pet pode ir tanto ao lado do tutor na cabine como no porão da aeronave. No Brasil, somente Gol, Latam e Voepass oferecem o serviço, que é pago e pode custar de R$ 200 a R$ 1.000 a depender do tipo de viagem.

Para voos domésticos na cabine, as companhias exigem que os animais sejam transportados em caixas de transporte ou bolsas flexíveis. Normalmente, essas caixas não tem mais de 25 cm de altura e 28 cm de largura. Algumas empresas determinam o peso máximo de 10 kg do animal (somado ao peso da caixa). O pet deverá permanecer dentro dela durante toda a viagem e a bolsa deve ficar embaixo do assento dianteiro.  

Já as viagens no porão da aeronave não estabelecem peso máximo do animal, mas ele também deve ser transportado em caixas apropriadas, com a devida identificação. Muitas companhias proíbem viagens de cachorros braquicefálicos, com focinho encurtado, porque o ar rarefeito dentro das aeronaves representa um risco à saúde deles. E não: seu pet não chegará na esteira do aeroporto feito uma mala; é preciso buscá-lo numa área restrita do terminal. 

Idade mínima, vacinas e atestados de saúde específicos para a viagem aérea também são exigidos. Se não for possível comprovar a antirrábica, por exemplo, é preciso aplicá-la novamente dentro de um prazo mínimo antes do voo. Em geral, são ao menos 30 dias antes da viagem. Os animais não devem estar sedados e cães com comportamentos agressivos são impedidos de embarcar. 

No caso de viagens internacionais, cada país tem sua própria legislação, algumas mais restritas que as outras, exigindo, por exemplo, quarentena do animal em um local livre da raiva. E o Brasil não erradicou a doença. 

Nos Estados Unidos, por exemplo, cães vacinados no exterior, provenientes de países de alto risco de raiva, são obrigados a usar o registro de vacinação antirrábica e microchip do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) como prova de vacinação.

O pet também precisará de um Certificado Zoossanitário Internacional (CZI), que é expedido pela Vigilância Agropecuária Internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). 


Agência já levou até cachorros da Anitta para os EUA

O plano do MPor de criação da Política Nacional de Transporte Aéreo de Animais será realizado em conjunto com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), setor aéreo, entidades e sociedade civil. Além de uma consulta pública, aberta até o dia 14 de maio, na última semana houve a primeira audiência aberta para debater o tema. Durante a sessão em Brasília, houve contribuições de 56 pessoas, entre elas Juliana Stephani de Souza, médica veterinária e CEO da PetFriendly Turismo, agência especializada em viagens com pets. 

Desde 2018, a empresa já enviou para outros Estados e países cerca de 5 mil pets, sem nenhuma intercorrência. Até cães de celebridades como Anitta e o apresentador Rafinha Bastos já viajaram pela agência. Em média, o serviço completo custa R$ 7 mil. 

Juliana conta que acabou tendo a ideia de criação da empresa devido a uma necessidade própria. Entre 2008 e 2015, a médica veterinária morou na Espanha, Canadá e Estados Unidos para estudar e trabalhar, sem nunca ter conseguido levar o Thor, seu cãozinho consigo. “Não era comum levar os pets como é hoje. Era angustiante ficar esse tempo sem ele. Eu falava pelo Skype com ele para ele não esquecer de mim... Mas o medo de alguma coisa acontecer [durante uma viagem] foi maior”, destaca.  

De volta ao Brasil, ela abriu a PETFriendly Turismo para “manter as famílias multiespécies reunidas ao redor do mundo”. A agência faz desde a parte burocrática, de documentação, até a parte do real acompanhamento do pet, fazendo a viagem junto ao animalzinho, para entregá-lo em mãos ao seu tutor.

Restrições

Para Juliana, a maior dificuldade do serviço é entender os detalhes das normas de cada país, fora as regras, extremamente restritas, das companhias áreas. “Cada vez mais eles restringem a entrada na cabine e no porão eles não dão segurança nenhuma para os tutores. Então, a gente tem que encontrar rotas e companhias em que consiga colocar o pet na cabine. Existem tutores, por exemplo, que o destino é a Europa e fazem escala no México, nos Estados Unidos… Uma viagem de 10 horas acaba virando de 24 horas. Fora o valor, né? Uma passagem direta seria R$ 5 mil e para você fazer escala nos EUA já vai para R$ 10 mil”, diz. 

A médica veterinária questiona, por exemplo, a regra de limite máximo de 10kg ou do cão ter que caber na caixa de transporte de 25cm de altura. “Qual cachorro consegue ficar lá dentro? A gente está falando de animais que são ‘ratos’ praticamente, porque até o yorkshire mini, na hora que você vai colocar ele em pé, vai passar os 25 cm. E ele é pequeníssimo”, reclama. 

Ela conta que já teve cliente que precisou fazer uma viagem de carro de São Paulo para Manaus, ao custo de R$ 30 mil, porque não conseguiu levar seu cão na cabine. A família gastou uma semana para chegar ao destino, que era de difícil acesso por via terrestre. “Em um avião eles poderiam comprar os assentos ao lado do tutor, caso tivesse essa regra, para o pet não ter contato com outras pessoas, e uma viagem de quatro, cinco horas, resolveria”, diz. 

Juliana lembra ainda que há animais que não conseguem ficar na bolsinha, tem problemas de saúde para ir na área de carga das aeronaves e os tutores acabam recorrendo ao judiciário. “Animais de focinho curto as companhias aéreas não aceitam no porão, porque tem risco, mas não são pequenos para ir dentro da bolsinha”, lembra. 

Além dessas restrições e questões sanitárias, Juliana lembra que países como Austrália, Nova Zelândia e Jamaica, que  são livres da raiva, ao contrário do Brasil, exigem que o pet passe seis meses fora, de quarentena, em outro local seguro antes de desembarcar no destino. “Aí o pet precisa se preparar ali por um ano pelo menos”, lembra Juliana. 

A empresária explica que as companhias aéreas têm que se adequar à legislação de cada país e que destinos como os Estados Unidos, o México e a Colômbia já preveem o transporte de cães além dos de serviço, como aqueles de apoio emocional, e de assistência para pessoas com autismo, diabetes ou problemas de locomoção. “Hoje cada companhia faz o serviço que quiser. Estamos pedindo à Anac que faça uma regulamentação mínima. Elas precisam oferecer o serviço, que é de utilidade pública, é um serviço essencial de transporte para a população”, afirma. A expectativa da sociedade civil é que cães de estimação também possam viajar na cabine. 

Como preparar seu pet para a viagem?

A médica veterinária Juliana de Souza orienta que os pets têm que ser preparados, ao menos, seis meses antes da viagem. “Ele precisa ser adaptado à caixa de transporte, ao barulho da turbina de avião, a locais movimentados e, principalmente, a passar muito tempo dentro da caixa. Ele tem que reconhecer a caixinha, a bolsinha, como o lugar seguro dele; como a casinha deles”, explica. 

Segundo Juliana, animais que não estão adaptados à caixa de transporte correm risco de vida, devido ao estresse, que pode afetar frequência cardíaca, pressão sanguínea e respiração, levando a um colapso do organismo. 

Ela lembra que os pets não têm a mesma sensibilidade dos humanos e, não necessariamente, reconhecem a caixa como uma “prisão”. “A partir do momento que você adaptá-lo à caixa de transporte, ele vai se sentir super seguro ali”, explica. Alguns países, inclusive, só aceitam animais como “cargas”, no porão. 

O compartimento de carga do avião é pressurizado e a temperatura é regulada pelo piloto. Para Juliana, no caso Joca, o erro foi a logística da operação. “Antes de chegar no porão e depois, o pet tem que estar condicionado num lugar climatizado. Joca ficou uma hora e meia na pista num calor de 38 graus de Fortaleza”, lembra.

Ela também defende a presença de um veterinário para liberar o pet para o próximo voo, fora o cuidado com a caixa. “Precisa de algum profissional técnico para dizer se ele pode continuar a viagem ou não. Se ele vai ter que melhorar, dar água, descansar, para depois continuar a viagem. Precisa de uma legislação e um regulamento para as companhias aéreas cumprirem”, diz.   

 

Transporte de pets: veja regras das companhias aéreas no Brasil

  • Gol

Na cabine, são aceitos cães e gatos até 10 kg (com a caixa de transporte), com no mínimo 6 meses de idade e com atestado do veterinário com informações completas do animal: raça, nome, idade, origem e pedigree (se houver). O bichinho precisa caber na caixa de transporte oferecida pela companhia.

Animais acima de 30kg, de qualquer espécie, viajam no porão, na caixa de transporte pelo serviço GOLLOG Animais. É preciso fazer reserva antecipada. 

A companhia não aceita o transporte de cães braquicefálicos, com focinho encurtado. 

O serviço pode custar de R$ 250, nos casos dos voos nacionais a R$ 1.150, em viagens internacionais. Os valores são por trecho e por animal. O transporte de cão-guia ou cão-ouvinte é  gratuito.

Informações completas no site: voegol.com.br/servicos-gol/viajando-com-animais-de-estimacao

  • Latam

O pet pode viajar no mesmo voo com seu responsável, seja na cabine ou no bagageiro do avião, ou através da LATAM Cargo. Independente do peso, sempre que atenda aos requisitos de tamanho (altura= 25 cm x Largura= 28 cm x Comprimento= 40 cm), o animal poderá viajar com o passageiro na cabine. Neste caso, numa bolsa flexível ou numa caixa de transporte rígida.

Além disso, a Latam conta com o transporte de cães de serviço e, nos países onde está permitido, são aceitos também os animais de apoio emocional.

Os valores do serviço dependem do trecho. Dentro do Brasil é cobrado R$ 200, mas voos de longa distância podem custar US$ 250.

Informações completas no site: latamairlines.com/br/pt/experiencia/prepare-sua-viagem/transporte-de-animais-de-estimacao/cabine

  • Azul

Não realiza o transporte

 

Confira dicas gerais para viajar com seu pet: 

  • Na véspera da viagem, é recomendado dar banho e aparar as unhas do animal;
    No dia da viagem, ofereça alimentos leves e, para evitar enjoos, a última refeição deve ser de duas a três horas antes do embarque;
    Dê água em casa, no aeroporto e antes do voo para ele se hidratar o suficiente para a viagem;
    Antes do embarque, passeie um pouco com seu animal;
    Evite embarcar muito antes, a não ser que o animal esteja nervoso no aeroporto. Brinque com ele para ajudá-lo a relaxar.

Mais informações: abear.com.br/transporte-de-animais-em-aviao

Fonte: Associação Brasileira de Empresas Aéreas

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