MANIFESTAÇÕES

As diferenças do terrorismo em Brasília com protestos de 2013 e 2017; entenda

Rastro de destruição é extenso na capital nacional e não há base de comparação com outros momentos de tensão como em 2013 e 2017


Publicado em 09 de janeiro de 2023 | 15:02
 
 
 
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Após a destruição provocada por bolsonaristas em atos nos prédios da Praça dos Três Poderes em Brasília neste domingo (08), apoiadores e simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro foram às redes sociais e compararam a ação terrorista do grupo, contrário à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com os protestos realizados em junho de 2013 em todo o Brasil. Os bolsonaristas também citaram a sequência de manifestações realizada por movimentos sociais e partidos de esquerda em 2017 na capital federal. 

Mas há semelhanças entre os três momentos? De acordo com o professor do Departamento de Ciência Política (DCP) da UFMG Ricardo Fabrino Mendonça, o terrorismo em Brasília que ganhou as manchetes em todo o mundo desde a tarde de domingo não tem precedentes recentes no país. “Não cabe qualquer comparação entre 2013 e 2017 e o que se observou em 2023. E não cabe por várias razões. Em primeiro lugar, pelas intenções das pessoas ali presentes. Há claramente em 2023 o propósito de derrubada de um governo legitimamente eleito, uma tentativa de sedição, de tomada de poder e destruição das instituições democráticas”, avaliou o docente. 

Mendonça destaca que colocar os movimentos de 2013, 2017 e 2023 no mesmo patamar “é sinal de profundo desconhecimento”. “É uma tentativa de relativizar e dar um caráter de normalidade a algo que é absolutamente sem precedentes”, comentou o professor sobre a invasão e destruição provocada por bolsonaristas no Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal e no Congresso Nacional. 

‘Vem pra rua’ 

Em 2013, ao contrário do que tem sido anunciado nas redes sociais, as manifestações que ficaram conhecidas como ‘Jornada de Junho’, reuniram movimentos e partidos, da esquerda à direita. Milhares de pessoas que não estavam necessariamente ligadas aos dois espectros políticos também foram às ruas. Os gritos de ‘vem pra rua’ tornaram-se comuns nas manifestações que também usavam lemas como o ‘gigante acordou’.

O movimento foi iniciado em São Paulo, em atos contra o aumento de R$ 0,20 nas tarifas do transporte público, e se espalhou por todo país, em meio à Copa das Confederações, ganhando dezenas de outras pautas e gerando uma divisão entre os participantes. Parte do grupo que iniciou os manifestos deixou as ruas, enquanto outros coletivos ocuparam vias dando fôlego ao movimento. 

Foi em 2013, por exemplo, que o Movimento Brasil Livre (MBL), que posteriormente apoiaria o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), a eleição de Jair Bolsonaro e condenaria o terrorismo em Brasília, ganhou popularidade e adesão.  Apesar da forte concentração nas capitais, houve atos em Brasília que culminaram com a invasão da Praça dos Três Poderes. À época, manifestantes ocuparam o teto do Congresso Nacional e foram registradas poucas ocorrências de depredação do patrimônio, após forte repressão policial.

O relatório ‘Protestos no Brasil 2013, produzido pela ONG internacional de direitos humanos Artigo 19, contabilizou quase 900 pessoas feridas, 2.608 manifestantes presos, e 117 profissionais da imprensa agredidos ou feridos. 

Contra reformas e impeachment

Em maio de 2017, movimentos sociais capitaneados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical convocaram protestos em Brasília contra as reformas da previdência e trabalhista - propostas que seriam aprovadas posteriormente. Os atos também pediam a convocação de novas eleições, em meio à insatisfação de apoiadores da ex-presidente Dilma Rousseff com o governo do então presidente Michel Temer (MDB). 

À época, os integrantes do movimento acessaram a Esplanada dos Ministérios, depredaram prédios das pastas, mas não houve nenhum tipo de invasão às edificações da Praça dos Três Poderes. Os manifestos também tiveram forte atuação policial, à época com apoio das Forças Armadas após o empenho, por Temer, de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na capital federal. 

Ao todo, 49 pessoas acabaram feridas. Um manifestante foi baleado e outro teve a mão decepada. Oito prisões foram feitas. 

Diferença entre ações policiais 

Em 2013, manifestante protestou contra a repressão policial nos protestos

Se em 2013 e 2017 a ação da polícia foi alvo de críticas pela dureza no enfrentamento aos manifestantes, em 2023 um dos principais pontos de críticas feitas à segurança do Distrito Federal foi a facilidade de acesso que bolsonaristas tiveram à Praça dos Três Poderes e aos prédios públicos. Em ambos os casos, na opinião do professor Ricardo Fabrino Mendonça, a atuação policial foi equivocada. 

“As forças coercitivas não parecem ter agido de forma adequada nas duas situações por razões opostas. São forças que precisam agir de acordo com a lei e tratar manifestantes de acordo com a lei. Em uma situação de extrema violência em que se reprime manifestantes, a atuação policial pode ter sido equivocada, assim como em uma situação de absoluta leniência que não há uma atuação adequada”, observou o professor. 

Segundo ele, a demanda por uma atuação correta dos militares não pode significar uma repetição de erros cometidos anteriormente. “É muito importante que se aplique as regras previstas no estado democrático de direito, o que não significa apaziguar ou negligenciar os crimes. É importante investigar, identificar e punir criminosos de acordo com as regras legais existentes e mostrar que o estado brasileiro existe e que as instituições conseguem lidar com esses atos”, observou. 

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