reflexos

Brasileiros ficaram mais sedentários, obesos e diabéticos no pós-pandemia

Pesquisa da UFMG revelou mudanças ocorridas nos comportamentos de brasileiros no que diz respeito ao risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)

Por Nubya Oliveira
Publicado em 16 de janeiro de 2024 | 06:00
 
 
 
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Entre todos os malefícios herdados pela pandemia de Covid-19, os relacionados à saúde humana certamente são alguns dos mais impactantes. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicado em 2023, revelou que, após o período pandêmico, os brasileiros se tornaram ainda mais sedentários, obesos, hipertensos, diabéticos, além de terem deixado de lado os exames preventivos. 

Intitulada “Mudanças nas doenças crônicas e os fatores de risco e proteção antes e após a terceira onda da Covid-19 no Brasil”, a pesquisa analisou uma série histórica (2006/2021), do sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), com destaque para os anos de 2019 (pré- pandemia) e 2021 (pós). O levantamento foi feito com cerca de 54 mil pessoas, em todos os estados brasileiros. 

Conforme o estudo, a inatividade física (ausência total de exercícios físicos) na população aumentou de 13,9% em 2019 para 15,8% em 2021 — 1.9 ponto percentual. A alta foi maior entre as mulheres, de 14% para 16%. O comportamento sedentário (pessoas que passam grande parte do tempo sentadas) também evoluiu entre os brasileiros, passando de 62,7% para 66% — 3.3 pontos porcentuais. Entre os homens, o indicador saiu de 63,9% para 66,7%, e entre as mulheres de 61,7% para 65,4%.

“A atividade física traz muitos benefícios para a prevenção de doenças crônicas, por isso esses resultados representam um mal muito grande para a população. Podemos notar, por exemplo, que os índices de diabetes e hipertensão, que vinham em curva estável até 2007, acabaram crescendo após a pandemia,” destaca a primeira autora da pesquisa e professora da Escola de Enfermagem da UFMG, Deborah Carvalho Malta. 

Obesidade

O aumento de pessoas com excesso de peso foi outro ponto de destaque. De 55,4% em 2019, a estatística passou para 57,2% em 2021/22  — 1.8 ponto percentual. A prevalência de obesidade (número total de casos de uma doença), que era de 20,3% em 2019 subiu para 22,4% em 2021/22. Nos homens, o acúmulo de gordura corporal 
cresceu de 19,5% para 22%.

A psicóloga, Luana Cristina de Andrade, 29, integra essas estatísticas. Em 2020, a jovem tinha acabado de iniciar o curso acadêmico, quando a pandemia de Covid-19 surgiu abalando o mundo. Ela, que até então, mantinha hábitos saudáveis, como exercícios físicos e alimentação adequada, viu a sua vida mudar completamente, quando teve que começar a estudar e trabalhar remotamente. 

“Eu parei de sair de casa e de fazer qualquer tipo de exercício físico. Desenvolvi transtorno de ansiedade, o que me fez passar a comer muito mal. Como minha rotina mudou completamente, acabei abandonando tudo que fazia para melhorar minha saúde e qualidade de vida. Quando assustei, eu já tinha ganhado 12 quilos. Fiquei desesperada, acima do peso, mas sem força alguma para tentar mudar a realidade,” relembra a psicóloga. 

Para a pesquisadora, Deborah Carvalho Malta, um dos principais desencadeadores do sedentarismo foi a transformação de atividades presenciais em virtuais. “A redução no deslocamento ativo foi de cerca de 30%. Ou seja, após dois anos do início da pandemia, os níveis de distância percorrida se mantiveram baixos, possivelmente por persistirem o trabalho e os estudos a distância, e também pelo aumento do desemprego”, enfatiza. 

Hipertensão, diabetes e preventivos 

O estudo ainda mostrou alta na prevalência de hipertensão na população total. O aumento registrado foi de 1.8 ponto percentual — de 24,5% em 2019 para 26,3%. O destaque foi para o salto do número entre homens — de 21,2% para 25,4%.  O indicador de diabetes também seguiu a tendência, elevando de 7,5% para 9,1% entre todos os brasileiros. 

O retrocesso na realização de exames de detecção precoce de câncer em mulheres também foi identificado pela pesquisa. A cobertura de mamografia nos últimos dois anos, por exemplo, caiu de 76,9% em 2019 para 72,8% em 2021/2022  — 4.1  pontos percentuais. Já o exame de citologia do colo de útero, nos últimos três anos, reduziu de 81,5% em 2019 para 77,2% em 2021/2022 — 4.3  pontos percentuais

Cenário pouco animador 

Os reflexos da pandemia de Covid-19 — reconhecida em 11 de março de 2020 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e que matou mais de 700 mil brasileiros, segundo o painel de monitoramento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) — não devem deixar de serem percebidos num curto prazo. Isso porque, de acordo  com a pesquisadora, Deborah Carvalho Malta, a análise dos dados de 2023 não é muito positiva. 

“Já temos o estudo do ano passado, mas ainda não o divulgamos. Os números demonstraram que, em relação à atividade física, retomamos alguns indicadores, mas não todos. O sedentarismo, por exemplo, permaneceu. O que revela que esse é um hábito que veio para ficar. O deslocamento ativo também não voltou ao patamar de antes, porque as pessoas continuam caminhando menos,” evidencia a professora da UFMG. 

Deborah ainda destaca que os índices de diabetes e hipertensão aumentaram ainda mais. “E a tendência é de que esses dados sigam em alta, o que faz com que a preocupação em torno do assunto continue. Por isso, é muito importante o investimento em políticas públicas, para que os gestores chamem atenção da população para um estilo de vida mais saudável.” 

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