NOVA YORK, EUA. A coragem é algo que queremos ter para nós em grandes porções e que adoramos ver em outras pessoas sem qualificação. Entretanto, apesar de estar presente em praticamente toda narrativa sobre a grandeza humana, só recentemente os pesquisadores começaram a estudá-la sistematicamente para tentar definir o que é e o que não é coragem, de onde ela vem, como ela se manifesta no corpo e no cérebro, quais animais podem tê-la e por que a adoramos tanto.
Um novo relatório na revista "Biologia Atual" descreve o caso de uma mulher cuja síndrome congênita rara a deixou completamente sem medo, levantando a questão quanto a ser melhor vencer o medo ou nunca tê-lo sentido. Em outro estudo recente, neurocientistas escanearam os cérebros de voluntários enquanto eles lutavam de forma bem-sucedida para superar seus horrores a cobra, identificando regiões do cérebro que podem ser a chave para nossos atos heroicos de cada dia. Pesquisadores da Holanda estão explorando a coragem entre as crianças, para ver quando a incitação de coragem surge pela primeira vez e o que as crianças querem dizer quando se chamam de valentes.
Virtude. O tema da coragem tem um histórico longo e privilegiado. Platão incluiu a coragem (ou fortaleza) entre as quatro virtudes cardinais ou principais, junto com sabedoria, justiça e moderação (temperança). "Como uma grande virtude, a coragem ajuda a definir a pessoa excelente e não é uma mera característica opcional", escreve George Kateb, teórico político e professor emérito da Universidade Princeton. "Uma das piores acusações no mundo é ser chamado de covarde".
Entretanto, a definição de o que é ser corajoso tem se mostrado uma tarefa tão difícil quanto distinguir os espertos dos tolos. Para Platão e muitas outras autoridades, a coragem é, acima de tudo, uma arte marcial, prontamente exibida em um campo de batalha - o icônico soldado corajoso correndo para a linha de fogo para resgatar um companheiro ferido. Mas Kateb destaca que, se a coragem encontrar sua mais alta expressão na guerra, então, essa característica paradoxalmente se torna uma virtude imoral, enobrecendo a guerra e a carnificina ao insistir que é só na batalha que os homens - e geralmente são apenas os homens - podem descobrir as profundezas da sua dignidade.
Sociedade. Marilynne Robinson, romancista e crítica social, relatou que a coragem é "dependente da definição cultural" e "raramente é expressada, exceto onde há consenso suficiente para apoiá-la". Onde o martírio religioso é celebrado, haverá mártires; onde o protesto social ou político é visto como algo glorioso, haverá "caras pintadas" em cada esquina.
Em um trabalho pioneiro realizado a partir dos anos 1970, Stanley J. Rachman, da Universidade de British Columbia, e outros pesquisadores canadenses estudaram a fisiologia e o comportamento das tropas enquanto os paraquedistas se preparavam para seu primeiro salto de paraquedas.
O trabalho revelou três grupos básicos: os sobrenaturalmente sem medo, que demonstravam sinais suficientes de coração disparado, palmas suadas, aumento da pressão sanguínea e outras respostas associadas ao medo comum e que pulavam sem hesitação; os preocupados, cuja resposta forte ao medo no momento crítico os impediu de saltar; e, finalmente, aqueles que reagiram fisiologicamente como os preocupados, mas que saltaram.
Esses últimos, Rachman considerou corajosos, definindo a coragem como "uma abordagem comportamental apesar da experiência do medo". Através dessa definição expansiva, a coragem fica democratizada e desmilitarizada, propriedade de qualquer excluído que consegue fazer um discurso em uma convenção ou daquele que tem medo de matemática e decide estudar cálculo.