Crime na Brasilândia

Laudo atesta culpa de Marcelo e o compara a “Dom Quixote”

Para psiquiatra, garoto tinha transtorno deflagrado por incidente em hospital


Publicado em 24 de setembro de 2013 | 03:00
 
 
 
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São Paulo. Um laudo psiquiátrico elaborado sobre Marcelo Pesseghini, 13, compara o adolescente ao personagem Dom Quixote, da obra de Miguel de Cervantes. O laudo foi elaborado pelo psiquiatra forense Guido Palomba e aponta que Pesseghini teve falta de oxigenação no cérebro, desenvolveu “encefalopatia”, o que o levou ainda a portar um “delírio encapsulado”.

O documento reforça que tiros e homicídios eram assuntos recorrentes na casa de Marcelo, por conta da profissão dos pais, e ressalta que o adolescente era influenciado por jogos violentos. As ideias delirantes que misturam imaginário à realidade foram comparadas ao personagem de Cervantes. “Sofrendo de encefalopatia, desenvolveram sobre esse terreno (inconsciente neural) ideias delirantes sistematizadas e circunscritas (delírio encapsulado), nas quais a imaginação e a realidade se misturam morbidamente”, diz o laudo.

“Ao matar os familiares viu-se livre para o mundo imaginado, tornou-se de fato um justiceiro e forniu a mochila com perfume, uma calça, uma faca, um pequeno revólver e alguns rolos de papel higiênico – isso porque sabia que sem medicação (sua mochila não tinha remédios) sofreria diarreias e secreções, dadas as graves lesões pancreática e pulmonar - e saiu para dar andamento ao seu ideal quixotesco, na acepção exata do termo”, diz o laudo.

O laudo psiquiátrico retoma a comparação com Dom Quixote: “Recordando, Dom Quixote perdeu a razão depois de ler muitos livros de cavalaria (Marcelo depois de muitos videojogos) e partiu para se tornar um cavaleiro errante (Marcelo, justiceiro errante). O automóvel de Marcelo no lugar do cavalo Rocinante; a faca e o revólver em vez da lança e do escudo; Sancho Pança (o escudeiro) seria os amigos da escola, convidados no dia seguinte; a saída de Dom Quixote de um lugar de La Mancha, tal qual Marcelo de casa. E em ambos, a empreitada que daria realidade a um ideal justiceiro e andante, com a diferença de que Dom Quixote tinha por amada Dulcineia de El Tobos e Marcelo nunca namorara”. “E ainda mais, o fim de ambos é igual em um ponto: ao retornarem ao lugar de origem, sentiram-se fracassados; porém, o cavaleiro andante morreu de tristeza e o justiceiro andante se suicidou”, diz o laudo psiquiátrico.

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