Pandemia

São Paulo investiga mais quatro mortes por coronavírus

Os pacientes estavam internados na mesma rede particular de hospitais, em São Paulo, onde foi registrada a primeira morte por coronavírus no Brasil

Por Lara Alves e Natália Oliveira
Publicado em 17 de março de 2020 | 13:45
 
 
 
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O Estado de São Paulo, que registrou a primeira morte pelo novo coronavírus nesta terça-feira (17), investiga ainda outros quatro óbitos de pacientes que estariam contaminados pela Covid-19. Os cinco pacientes, ao todo, permaneciam internados na mesma rede particular de hospitais, mas a Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo não soube detalhar se todos ficaram na mesma unidade de saúde. Famílias dos quatro pacientes mortos aguardam laudos a partir de amostras colhidas para que seja confirmado ou negado o óbito por coronavírus. 

A primeira morte por coronavírus aconteceu na noite dessa segunda-feira (16), mas a notificação chegou à secretaria apenas na manhã desta terça. O homem de 62 anos, com problemas cardíacos e diagnosticado com diabetes, não viajou para fora do Brasil recentemente e começou a apresentar os sintomas da Covid-19 em 10 de março. Internado em uma UTI em 14 de março, ele morreu dois dias depois. A rapidez da evolução do caso aumenta o alerta nas autoridades, que recomendam, inclusive, mudanças nas orientações quanto tempo de quarentena. 

"O paciente grave caminha rapidamente. Antes nós imaginávamos que o período de incubação do vírus era de 14 dias, mas estamos percebendo que ele é mais curto. Uma média de três a oito dias. Vamos, inclusive, sugerir ao Ministério da Saúde que mude o critério da quarentena, que reduza de 14 dias para 10. Isso faz toda a diferença", explica o dr. David Uip, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo. 

Ao todo, o Estado de São Paulo calcula existir cerca de 30 pacientes internados em estado grave, nos hospitais da rede pública e particulares, contaminados por coronavírus – acredita-se que sejam cerca de 5% do número total de pessoas contaminadas, como explica Paulo Menezes, coordenador do Controle de Doenças da Secretaria de Estado de Saúde. 

"Nós temos 162 casos em São Paulo, sendo 154 na capital. Estimamos que 80% deles são casos leves, quando não há necessidade internação. O restante são pacientes que precisaram ser internados. Apenas 1/4 desses 20% são considerados casos graves, cerca de 30", detalha. 

Segundo ele, a confirmação da primeira morte e a explosão da epidemia em São Paulo apontam para a necessidade de um novo sistema de notificação de casos do novo coronavírus. "Inicialmente estivemos preocupados com um sistema de notificação para os casos leves. Agora precisamos de outro, para contabilizar os casos mais graves. Nós já temos informação suficiente para saber que a epidemia está subindo rapidamente. Os números crescem a cada dia. Neste momento é pouco informativo sabermos os casos com sintomas leves. Precisamos saber os graves, as internações", explica. 

Além do óbito confirmado por coronavírus, a secretaria já descartou outras duas mortes suspeitas no Estado. Os dois pacientes morreram após complicações por gripe comum – pelo vírus da influenza. O secretário de Saúde, José Henrique, detalhou a necessidade de medidas de prevenção, elevada após o óbito do paciente cuja transmissão aconteceu de forma comunitária – ele não viajou e não há laço com algum infectado direto. 

"Nós lastimamos esse óbito. Para nós é muito triste. Esse óbito não deve criar pânico na população, essa é uma circunstância de quem lida com doentes graves. Esperamos que não ocorra mais nenhum óbito em São Paulo, mas cuidar de doentes graves implica perdas", comentou o dr. David Uip.

Aumento no número de leitos

O Estado de São Paulo criará, nos próximos dias, 1.460 leitos de UTI em hospitais da rede pública para atender à população com sintomas e que não possui acesso ao atendimento médico privado. "O paciente grave precisa de UTI. O estrangulamento do sistema acontece justamente pelo paciente que está na UTI. Nós precisamos criar esses leitos e, se possível, até um número maior, para atendê-los (os pacientes) sem impactar tanto o sistema público. Nós sabemos que 80% dos casos não requerem atendimento hospitalar. Foram feitos os cálculos, e sabemos que a criação de 1.460 leitos é suficiente", explica o dr. David Uip. 

Outra medida requerida pelo Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo ao governo do Estado é a ampliação dos centros de diagnóstico. "O adequado é ampliá-los, mas o governo precisa avaliar essa possibilidade. O ideal é que haja exames para todos, mas isso não é real. São quase 3.000 amostras no Adolfo Lutz, a maioria dos resultados confirmou influenza, não coronavírus. Neste momento continuaremos a fazer exames em pacientes internados, em clínicas sentinelas... Nós tentaremos criar mais centros", pontua. 

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