Em tempos de propostas pra mudar as regras da Previdência, é comum as pessoas começarem a pensar mais sobre a aposentadoria, cogitando investir num plano privado ou complementar. Mas será que é uma boa opção? Para os especialistas, a resposta não é tão simples e depende de diversas variáveis, como tempo de investimento, renda, despesas e o quanto a pessoa consegue economizar. Eles também alertam que não basta analisar a rentabilidade, é preciso ficar atento às taxas cobradas.
No país, cerca de 13,1 milhões de pessoas têm planos de previdência complementar aberta, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). Em 2018, o crescimento foi de 10,54% nas reservas frente ao ano anterior, chegando à marca de R$ 836 bilhões.
Para o coordenador do curso de administração do Ibmec BH, Eduardo Coutinho, o ideal é que as pessoas não contem apenas com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “Não precisa necessariamente fazer uma previdência privada, o fundamental é que as pessoas consigam economizar para ter uma reserva no futuro”, diz ele, ressaltando que falta cultura de planejamento financeiro no país.
A previdência privada é um produto de banco, uma aplicação, como várias outras existentes por aí. Antes de definir qual o melhor tipo de investimento, Coutinho aconselha as pessoas a buscarem informações, analisando a rentabilidade, as taxas cobradas, além de fazer simulações. “O ideal é buscar uma diversificação do investimento”, frisa o docente. Tudo depende do quanto é investido, do tempo e dos planos futuros.
Contraindicações
Para quem tem renda baixa e não consegue guardar uma quantia considerável, a previdência complementar pode não ser uma boa opção por causa das taxas de carregamento e de administração cobradas pelos bancos. A taxa de carregamento incide sobre cada depósito que é feito no plano. Já a taxa de administração é a remuneração paga pelo investidor sobre os serviços de gestão do plano de previdência.
A escolha do tipo de investimento vai depender também do perfil da pessoa. “Quanto maior o ganho, maior o risco”, observa. No caso de um investidor mais moderado, uma das opções, segundo Coutinho, são os títulos do governo. Há a opção de carteira de ações, que, por contemplar várias empresas, reduz o risco para o cliente.
Presidente do Instituto de Estudos Previdenciários (Ieprev), o advogado Roberto de Carvalho Santos também alerta que planos de previdência complementar são um investimento como qualquer outro. “Não é só olhar a simulação de rentabilidade, é preciso avaliar a taxa de administração, que varia de 0,5% a 3%. No caso da taxa de carregamento, é preciso ficar atento. Ela pode chegar a 9%, mas há entidades que podem não cobrar. Tais taxas vão influenciar no valor a ser recebido no futuro, bem como o tempo de investimento”, alerta.
O especialista observa que, enquanto a Previdência Social leva em conta a idade de uma pessoa para se aposentar, o mesmo não acontece nos planos de previdência privada aberta. “Há pessoas que pretendem resgatar os valores para pagar a faculdade dos filhos”, explica ele. Assim como o coordenador do curso de administração do Ibmec BH, Santos aconselha diversificar os investimentos para garantir a aposentadoria. “A pessoa pode aplicar de 50% a 60% do valor destinado à aposentaria na previdência complementar e escolher outras modalidades”, aconselha.
“Muitos não têm renda para investir no fim do mês”
A previdência complementar aberta, que é administrada por seguradoras e bancos, não é uma opção acessível para toda a população, conforme a diretora do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), Jane Berwanger. “É fato que há falta de cultura financeira no país, só que também temos que considerar que muitas pessoas não conseguem ter sobra de dinheiro no fim do mês para investir, pois a renda é baixa”, diz. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento domiciliar mensal per capita (por pessoa) no Brasil ficou em R$ 1.373 em 2018.
Para ela, quem pode poupar não deve depender apenas da Previdência Social. “É importante ter uma reserva para tentar manter o padrão de vida da ativa. O ideal é diversificar os investimentos”, diz.
Por não ter fins lucrativos, a previdência privada fechada – administrada por empresas, sindicatos, associações de classe e de profissionais – é mais atrativa do que a aberta. “Só que as fechadas não são acessíveis para todo mundo, já que é necessário que exista algum tipo de vínculo, seja com a empresa ou a categoria. Agora, é melhor ter um plano de previdência privada aberta do que nada”, avalia ela.
A especialista em previdência complementar do IBDP, Suzani Ferraro, alerta que os investimentos nos planos de previdência são de longo prazo. Já na modalidade aberta, é preciso ficar atento às taxas.
Estatística
Alta. Nos últimos cinco anos, as reservas dos planos de previdência privada aberta cresceram em média 12% ao ano, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi).