Uma movimentação silenciosa começa no Carnaval de Belo Horizonte assim que o sol se põe sobre os viadutos e a maioria dos foliões finalmente busca o sossego de casa. Eles chegam em caminhões, andam em bando e não estão atrás de festa. Apesar do número — 80 pessoas, em 40 veículos —, o grupo quase passa despercebido. O desembarque acontece nos pontos de banheiros químicos, onde, em rápidos três minutos, eles transformam as cabines até parecerem intocadas. Na manhã seguinte, um folião vai agradecê-los, sem chamá-los pelo nome: “Ufa, está limpo”.
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Os “heróis da higiene” são auxiliares de serviços gerais, motoristas de caminhões e trabalhadores da área de logística da Liderban, empresa responsável pela locação de 1.800 banheiros químicos para a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) durante o Carnaval — o total dos banheiros alugados não foi informado pelo executivo. A equipe da Liderban organiza uma verdadeira operação que envolve, além da limpeza, a movimentação das cabines pelas regionais de BH e a destinação correta dos dejetos. Pelo menos 1,8 milhão de litros de resíduos devem ser recolhidos pela empresa e encaminhados às Estações de Tratamento de Esgoto (ETE's), retornando ao ambiente após o manejo adequado.
“Durante o dia, os caminhões são carregados e fazemos o planejamento de pessoal, segurança e trajeto para a verdadeira ‘operação de guerra’. À noite e de madrugada, saímos com equipes com caminhões de limpeza e de carga para higienizar e transportar as cabines, além de fazer a sucção dos dejetos. São 10 mil ordens de serviço”, afirma a diretora administrativa da Liderban, Lussana Neves. A maior demanda da empresa, de fato, é pela movimentação das cabines após os cortejos dos blocos, já que é regra que tenham sanitários na concentração, percurso e dispersão dos desfiles.
Ponto fixo de banheiros da Liderban próximo ao Mineirão. / Foto: Liderban / Divulgação
Dos 1.800 banheiros alugados pela Liderban, 1.400 são móveis, ou seja, trocam de localização conforme a demanda. Nesses casos, o trabalho precisa ser ainda mais preciso. “Nos pontos móveis, os banheiros são transportados para o próximo local enquanto estão sendo limpos”, diz Lussana. Um dos membros do “bando da madrugada” é o motorista Wellington Ferreira, de 42 anos. Durante o Carnaval de BH, é ele quem dirige um dos 40 caminhões da equipe. “É um orgulho para mim fazer parte dessa grande operação por trás dos banheiros químicos do Carnaval de BH. É um momento de diversão, alegria e música boa, e estaremos atendendo os foliões”, fala, animado.
Para a folia de 2025, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) anunciou a locação de 13.610 diárias de banheiros químicos. Isso significa que, ao longo dos cinco dias de festa, essas estruturas permanecerão disponíveis por períodos de 24 horas, sendo distribuídas conforme a demanda. Cerca de 2% dos alugueis (318 cabines) são adaptados para pessoas com deficiência. Além dos banheiros que acompanham os blocos, foram instalados 103 locais fixos para os sanitários, em bairros como Barro Preto, Santa Tereza, Santa Amélia, Centro e Savassi.
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De acordo com a prefeitura, cada ponto poderá ter de 5 a 50 cabines sanitárias, dependendo do público esperado. Na Praça da Estação e na rua Sapucaí, por exemplo, dois dos locais mais movimentados, serão mais de 40 banheiros disponíveis durante todo o feriado. “Esses são os bastidores, e os foliões nem dimensionam como é colocar uma estrutura assim na rua. Desde o banheiro químico, tudo o que colocamos na rua tem um processo de licenciamento e fiscalização para garantir uma cidade acessível e segura para o folião”, afirmou a presidente da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), Bárbara Menucci, em visita de fiscalização da infraestrutura da Carnaval na última quinta-feira (27 de fevereiro).
Banheiros autolimpantes em BH
Quando o assunto é higiene em meio à maratona de blocos de rua no Carnaval de BH, os foliões vão poder contar com uma novidade. Dois banheiros autolimpantes, os primeiros já instalados na capital, estão disponíveis para uso nas praças da Estação e Rio Branco, no hipercentro.
Cada equipamento conta com duas cabines, vaso sanitário, papel higiênico, torneira, sabonete e secador de mãos. O sistema de limpeza é automatizado, com acionamento feito por sensores de presença. Ou seja, assim que o usuário deixa o banheiro, a higienização começa por sprinklers (chuveiros hidráulicos) instalados no chão e no vaso sanitário, utilizando produtos de limpeza.
A estrutura gratuita fica aberta das 6h às 22h, com permanência limitada a 10 minutos por usuário. “Use com moderação e use para sempre”, orientou o prefeito em exercício, Álvaro Damião (UB), ao inaugurar o banheiro autolimpante na praça da Estação.
Pode ou não pode em banheiros químicos
- Jogar camisinhas, latas, garrafas, copos descartáveis ou qualquer outra coisa que não papel higiênico no vaso: Não pode. Isso dificulta o processo de tratamento dos rejeitos e o descarte correto.
- Compartilhar o banheiro com uma ou mais pessoas: Não pode. Os banheiros químicos são cabines únicas.
- Fumar dentro dos banheiros: Não pode. O material é inflamável, o que causa risco de acidentes graves.
- Utilizar o banheiro químico com a consciência de que ele é público e compartilhado com outras pessoas: Pode! Você ajudará os outros foliões e também a equipe de higienização.
Cuidado: 'xixi' na rua dá prisão!
O folião que for flagrado urinando em vias públicas pode responder por atentado violento ao pudor (artigo 233 do Código Penal), com detenção de três meses a um ano ou pagamento de multa.