Foram dias empurrando carrinhos pesados, aguentando calor e “gastando gogó” para atrair a clientela. Apesar do esforço, muitos ambulantes que estiveram no Carnaval de Belo Horizonte afirmaram, nesta terça-feira (4/3), que chegaram ao fim da folia frustrados e não conseguiram bater suas metas de venda. Entre as razões apontadas estão os foliões “mão de vaca”, que levaram bebida de casa ou barganharam na hora da compra, e os “queimões” - expressão usada para designar a venda barata dos produtos.
Uma das ambulantes frustradas é a veterana Maria das Graças Gomes, 75 anos, que está trabalhando em seu sétimo Carnaval e estima que vai lucrar cerca de R$ 4 mil, frente a um investimento de quase R$ 2 mil. O valor é bem abaixo do “melhor ano”, que, segundo ela, ocorreu em 2023. “Consegui lucrar R$ 7 mil. Este ano será um dos piores”, revela.
De acordo com a pesquisa Observatório do Turismo, divulgada pela Belotur em fevereiro, o investimento médio dos ambulantes para atuar no Carnaval foi de R$ 2.632,30, com uma expectativa de faturamento médio de R$ 7.002,32 - e lucro médio estimado de R$ 4.370,02. Dos 10.287 cadastrados, 2.672 responderam ao questionário.
Outra empreendedora insatisfeita é Nayara Vivian Nunes Monteiro, 38 anos, que traçou a meta de faturar R$ 10 mil com a folia e, até a noite de segunda-feira (3/3), havia atingido metade do valor. Ela aponta que, apesar das vendas terem sido boas, a “concorrência desleal” e os “queimões” impediram que o faturamento fosse maior.
“Eu consegui vender, mas foi na força do ódio. Teve um dia que perdi cerca de seis vendas de Xeque Mate pois eu estava comercializando a R$ 20 e um casal ao meu lado estava anunciando por R$ 15. Isso acaba influenciando outros foliões a nos pedirem desconto. Mas, sou firme e não abaixo o preço”, desabafa.
A diarista Adelina Rosa, 64 anos, trabalha no Carnaval há quatro anos e avaliou que as vendas estão abaixo do normal. “As coisas estão muito caras e a gente acaba precisando repassar isso na hora de vender. Estou vendo muito folião trazendo bebida de casa, dentro do cooler. Isso acaba atrapalhando nossas vendas”, diz.
Já a estudante Lorena Amaral, 25 anos, saiu de Sete Lagoas para trabalhar como ambulante pela primeira vez em BH acompanhada do namorado Guilherme. Os ganhos não foram tão altos como ela esperava e, no fim das contas, ela espera lucrar cerca de R$ 1 mil. “Mas, no meu caso, foi erro de estratégia. Saí para vender a tarde, não sabia que as vendas eram melhores de manhã. No ano que vem vou corrigir isso para faturar mais”, garante.
Ruim para alguns, bom para outros
A opinião de que o Carnaval deste ano foi frustrante, no entanto, não é consenso entre todos os ambulantes. Trabalhando na folia há cinco anos, Michelle Fernanda afirmou que conseguiu boas vendas e que o faturamento só não foi maior por causa da restrição da venda de Heineken em algumas vias da cidade.
“O fato de o Carnaval ter caído antes do quinto dia útil em nada atrapalhou. A galera está tomando suas bebidas de qualquer forma. Já tenho até planos para o dinheiro da folia. Pretendo pagar o documento do meu carro e dar uma descansada com meus filhos”, diz.
Outro otimista é o representante comercial Wesley Fernando, 32 anos, que está em seu terceiro Carnaval como ambulante. “Acho que a diminuição no número de ambulantes cadastrados, em relação a 2024, me beneficiou. Investi R$ 5 mil e creio que conseguirei lucrar cerca de R$ 10 mil até o fim da folia”, comemora.