Foliões vestidos de verde, com adereços de plantas e cigarros de maconha na mão. O público do bloco Manjericão tem a tradição de trazer no corpo os símbolos da luta canábica, pela descriminalização da droga. Este ano marca o primeiro desfile após a despenalização do porte de até 40 gramas de maconha para uso pessoal, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) — um dos motivos de festa para o bloco nesta Quarta-Feira de Cinzas (5 de março).
O cortejo acontece nos arredores do Parque Municipal Jacques Cousteau, no Betânia, na região Oeste da capital, e, ao contrário de anos anteriores, a concentração iniciou às 8h20, e não às 4h20 — horário conhecido pelos fumantes como “da maconha”. No Manjericão, os foliões são conhecidos como os “sobreviventes” dos quatro dias de feriado do Carnaval.
Foto: Fred Magno / O TEMPO
“Este bloco é, para mim, um dos melhores. Dá para curtir tranquilo. Eu me sinto um sobrevivente desse Carnaval. Meu maior sonho é almoçar, depois de quatro dias sem comer direito”, brinca Leonardo Gonçalves Nunes, de 29 anos. Ele carrega um planta de bananeira nos ombros e se diz à favor da legalização do plantio livre de maconha. “O ideal mesmo seria todos poderem ter um plantio em casa. Assim, não ajudaria nenhum tipo de crime, tráfico, etc”, fala.
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Para Lívia Aguiar, de 38 anos, que não perde o desfile do Manjericão há quase 10 anos, a descriminalização do consumo parcial de maconha é só o começo de uma luta maior, que para ela deve terminar na legalização plena do uso. “Essa planta não é mais maléfica que o álcool e o cigarro comum, que todos os dias destroem famílias. Por isso essa pauta do bloco é tão importante. Nós viemos festejar, protestar e queimar até a última ponta (de cigarro de maconha), porque hoje é quarta de Cinzas”, disse, vestida de verde, com adereço de planta na cabeça e um colar de bala chita.
Foto: Fred Magno / O TEMPO
Outra que chegou cedo para o cortejo do Manjericão é a advogada Elisa Borges, de 31 anos. Com um grupo de amigos, todos de verde, ela contou ter um “apego” com o bloco. “Eu venho desde que ele saia de tarde, no Santa Tereza. Nós somos apegados a ele, temos carinho com esse cortejo. Essa descriminalização é motivo de comemorar. Ainda temos muito pela frente, muito conservadorismo a enfrentar, mas já é um avanço na pauta da cannabis”, diz.
O bloco do Manjericão já tem 14 anos de história e de relação com a bandeira canábica. O cortejo desfila da praça Luiz Antunes Pereira, no Betânia, até o Parque Municipal Jacques Cousteau, com dispersão prevista para o início da tarde. Apesar da decisão do STF, portar e usar maconha continuam sendo infrações. A mudança é que, quem é flagrado pela polícia com até 40 gramas da substância, não sofre mais punição de caráter penal.
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Fotos por Fred Magno / O TEMPO.