Pesquisa

11% dos adolescentes e jovens não frequentam a escola no Brasil

Dados divulgados pela Unicef ainda mostram que 48% afirmam ter deixado os estudos porque precisam trabalhar fora de casa

Por Juliana Siqueira
Publicado em 15 de setembro de 2022 | 16:29
 
 
 
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No Brasil, 11% dos adolescentes de 11 a 19 anos não estão frequentando a escola, o que representa cerca de dois milhões de meninos e meninas distantes das salas de aula, ou mais de um a cada 10. Os dados do estudo feito pelo IPEC e divulgados nesta quinta-feira (15) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostram ainda que, desse total, 48% afirmam que deixaram de estudar por ter que trabalhar fora de casa.

A pesquisa foi realizada no último mês de agosto e revela que essa realidade atinge principalmente as crianças e adolescentes que pertencem à classe DE - nesse caso, o percentual de ausentes das salas de aula chega a 17%. O número é bem inferior ao verificado na classe AB (4%).

Apesar de quase metade dos meninos e meninas alegarem que não estão na escola por precisarem de trabalhar, outros 30% afirmam que deixaram os estudos por não conseguirem acompanhar as explicações ou atividades. Já 29% dizem que não estão no colégio porque as escolas não tinham retomado as atividades presenciais. Outras motivações citadas foram ter que cuidar dos familiares (28%), falta de transporte (18%), gravidez (14%), desafios por ter alguma deficiência (9%), racismo (6%), entre outros.

Chefe de Educação do UNICEF no Brasil, Mônica Dias destaca que, quando o assunto é ter que cuidar dos familiares, muitas vezes as meninas são as que tomam a dianteira, sendo as mais afetadas por essa realidade.

“Há crianças que têm de cuidar de familiares. Esse é um fenômeno que se agravou na pandemia. A gente conhece crianças que perderam pai, mãe, quando não perderam pai e mãe e tinham esse papel de cuidador. Muitas vezes é a menina que assume, as meninas sentem mais”, diz ela.

O estudo ainda revela que mesmo entre os que estão na escola, a situação não está de todo solidificada. Só nos últimos três meses, 21% afirmaram que já pensaram em desistir dos estudos, sendo que, destes, 50% destacaram ter pensado em deixar as salas de aula por não conseguirem acompanhar as explicações ou atividades passadas pelos professores. Já 38% pensam que a escola é desinteressante e 35% não se sentem acolhidos na instituição de ensino. Além disso, 29% sentem que a escola é pouco útil e 22% não gostam dos colegas ou professores.

Saúde mental 

Quando o assunto é a saúde mental, 80% dos estudantes afirmam que é preciso que as escolas ofereçam atendimento psicológico e 74% consideram importante haver espaços para que possam falar sobre os sentimentos. Esses dois itens, no entanto, foram oferecidos somente por 39% e 43% das instituições de ensino, respectivamente. 

O apoio da escola, conforme salienta Mônica Dias, é muito importante. Ela afirma que, nos últimos anos, aumentaram vários casos de automutilação e depressão entre crianças e adolescentes. “Isso vem preocupando uma série de especialistas. Foi observado o agravamento dessa situação no momento da pandemia”, afirma.

Segundo Mônica Dias, é muito importante que as escolas sejam mais acolhedoras. “Todo adolescente passa por mil mudanças físicas, emocionais, existenciais. A escola precisa acolher essas questões. Não há como ir apenas para a escola para aprender português e matemática. Vou para a escola para aprender quem eu sou, propósito no mundo, o que fazer pela sociedade, pela família, que mundo é esse que a gente vive, qual meu projeto de vida, coisas quero conhecer”, enumera.

Reflexos da pandemia 

Já sobre os impactos da pandemia da Covid-19, a pesquisa revela que 3% dos estudantes ainda estão tendo apenas aulas remotas, enquanto 5% têm aulas presenciais e remotas e 92% apenas presenciais.  “Nós temos escolas ainda fechadas em setembro de 2022. Isso é inadmissível”, destaca Mônica Dias.

Por outro lado, ao comparar as instituições de ensino com o período anterior à pandemia, a maior parte dos estudantes (66%) afirma que a escola está mais preocupada com cuidados de higiene. Outros 56% dizem que cresceu o nível de exigência dos professores, 55% destacam que aumentou o quanto aprende nas aulas e 52% dizem que cresceu a frequência escolar. 

Os alunos ainda alegam que houve esforço da instituição de ensino em realizar avaliações do que cada um aprendeu durante a pandemia e suas dificuldades (79%), e 71% dizem que a escola está desenvolvendo atividades que favorecem um bom relacionamento entre os estudantes.

“A gente observa que a escola é o equipamento público que a maioria das crianças e adolescentes frequentam de segunda a sexta-feira, onde a gente observa uma série de questões”, diz Mônica Dias, salientando que é nas instituições de ensino que se tem condição de garantir uma série de direitos. “A maioria das escolas se prepararam para receber os adolescentes. Essa é uma boa notícia”, afirma.

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