CIDADES

15 perguntas para se fazer antes do... quer se casar comigo?

Especialistas norte-americanos listam questionamentos a serem esclarecidos por noivos ou namorados antes do altar.

Por FLÁVIA MARTINS Y MIGUEL
Publicado em 28 de janeiro de 2007 | 00:01
 
 
 
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Quer se casar comigo" Para muita gente apaixonada, essa pergunta significa milhões de possibilidades e um sonho realizado. Mas antes de responder essa pergunta, especialistas norte-americanos sugerem pelo menos outras 15 para que a gôndola da paixão não se transforme numa canoa furada.

O questionário foi formulado a pedido do repórter Eric Copage para o jornal "The New York Times".

No rol de questões formuladas estão detalhes como: se haverá ou não uma televisão no quarto do casal, passando pelo grau de tolerância à família de cada um até mudança de cidade em caso de oportunidades na carreira.

Teoricamente, a discussão desses temas seria fundamental para minimizar problemas futuros ou eliminar surpresas desagradáveis. Entretanto, a psicanalista e professora de psicologia Ana Cecília Carvalho, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), critica esse tipo de abordagem.

Para ela, isso pressupõe um relacionamento totalmente harmônico, que na prática seria quase impossível de acontecer entre duas pessoas.

"No momento em que você está apaixonado, enquanto dura o encantamento, os pontos das perguntas ficam irrelevantes. A paixão obscurece tudo isso. Alguém apaixonado não dá importância às respostas", diz a psicanalista.

"Você sempre tem esperança de se adaptar à diferença. Tudo vai ser negociável, não vai ter problema sem solução. Existem áreas no relacionamento que são negociáveis e outras não. Aí, vai variar de acordo com cada um. Os casais que permanecem juntos são aqueles que enfrentam os conflitos", considera.

Psicólogos, terapeutas de casais e padres não se cansam de receber casais em crise no relacionamento com a velha e comum dificuldade de manter acesa a chama da paixão, já que as diferenças passam a ser intoleráveis.

Para que isso não aconteça ou pelo menos para que o relacionamento seja encarado com mais comprometimento, o casal deve usar a fase do namoro como um laboratório de experiências das manias e personalidades de ambos.

O campeão de motivos do fracasso do casamento, segundo especialistas, é a falta de sintonia entre o comportamento dos pares, que fica cada vez mais evidente quando passa a fase do idílio.

"As diferenças são as coisas complicadoras. Se você começa a prestar atenção nisso, significa que o que é atraente passa a ser conflito. São esses os aspectos que os casais começam a enumerar como a razão da discórdia. Eu imagino que é difícil ter essa percepção antes da convivência. O que percebo é que muitas vezes aquilo que foi o ponto de atração para o casal passa, com a convivência, a ser o ponto de conflito. É quase como se os dois se separassem pelo mesmo aspecto que os atraiu", explica Ana Cecília.

Questionário
A receita proposta pelo questionário inventado pelos norte-americanos incomoda alguns profissionais brasileiros pela abordagem técnica. Segundo eles, lançar mão dessa fórmula seria tratar questões extremamente profundas como algo meramente técnico e que é incapaz de contemplar a vida em toda a sua complexidade.

Essa opinião também é compartilhada pelo psicanalista e professor da UFMG Eduardo Gontijo. Ele diz que as questões fundamentais da vida são hierarquizadas e têm que contemplar a vida amorosa como um todo.

"As perguntas que terão importância seriam: eu fui um ser amoroso" Eu amei" A grande realização ou "irrealização" da vida do indivíduo é a amorosa. O cristianismo acertou ao mostrar que o sentido da nossa vida tem relação com o amor. Porém, não somente no contexto conjugal, mas nas relações de trabalho e amizades. Quando você se propõe a essas questões, você estará se remetendo a quem você é e o que realiza. Em cada escolha que eu faço eu me faço", filosofa.

A manutenção da identidade de cada um dentro do casamento é uma luta inconsciente de quem opta pela vida a dois. Nessa batalha pela permanência da personalidade é que está o grande desafio pela busca do reconhecimento sem que isso signifique uma queda-debraço sem vencedores.

"À medida que um não se reconhece na relação, o resultado é o fracasso. A possibilidade ou não de eu me realizar profissionalmente, ser submisso ao outro me traz frustração e mágoa. O grande problema das relações humanas é o desejo de reconhecimento."

Noivos buscam orientação na religião

Não só terapeutas de casais, psicanalistas e psicólogos podem dar um apoio para uma vida a dois harmoniosa. A religião também desempenha um papel fundamental para centenas de noivos e casais em crise, que buscam uma ajuda para a união.

Padres e orientadores estão mais que preparados para os dramas modernos que passam a ser cada vez mais comuns nas relações. Na igreja São José, aproximadamente 15 casais por mês optam pelo curso de noivos oferecidos pela paróquia.

Esse número triplica na paróquia de Boa Viagem, que recebe quase 50 casais mensalmente. Grande procura pelos cursos significa grande número de cerimônias. As datas para celebração de casamentos estão lotadas na Boa Viagem este ano e só restam alguns horários aos sábados para quem quer marcar a data para 2008.

Ao todo, são celebrados aproximadamente 350 casamentos por ano na igreja. O sábado à noite, de longe o preferido pelas noivas, só estará disponível para quem encarar dois anos de espera. A dinâmica do curso de casamento envolve vários exercícios.

Como explica o padre Dalton de Almeida, que é psicólogo e coordenador da comunidade de São José, às vezes os noivos são divididos em grupos de homens e mulheres para debaterem temas diversos sobre as questões do matrimônio.

"O que vejo nesses jovens e que discutimos durante o mês do curso é que o casamento jurídico ou não, sacramental ou não, vai ter o mesmo desafio: a atenção entre o desejo e a busca, entre o gosto pela dependência e o anseio pela autonomia, entre o impulso para a colaboração amorosa e a exigência pela privacidade auto-suficiente. Esse conflito é inerente a qualquer relação humana."

Padre Dalton comenta que a busca do prazer e emoções à flor da pele são dois fenômenos que impregnaram os objetivos do ser humano e que precisam ser combatidos.

"Eu diria que muito se fala do amor, mas o amor na cultura atual está ferido e às vezes ferido de morte. O amor como grande desejo de que as coisas dêem certo, eu quero dizer. O amor como forma de cuidado um do outro, o amor explícito no ato de casar, como sendo ao mesmo tempo uma escolha e uma aposta. Não basta escolher, se eles não apostam, se não têm projeto. Porque muitas das escolhas correspondem ao querer das pessoas, mas não correspondem aos desejos mais profundos delas", considera. (FMM)

Matrimônios aumentam 3,6% no país

Embora seja cada vez mais comum ouvir o contrário, o fato é que o casamento ainda continua na moda. Aquele mesmo: com direito a igreja ornamentada, padrinhos, damas de honra, véu e grinalda e noivo esperando nervoso no altar. Quem diz isso são os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para se ter uma idéia, em 2005 foram realizados no país 835.846 casamentos contra os 806.968 em 2004. Isso significa um aumento de 3,6% de casais que aderiram aos sagrados laços do matrimônio.

Uma tendência que vem acontecendo desde 2001. Na avaliação dos pesquisadores do instituto, os motivos desse crescimento, nada românticos por sinal, estão nas cerimônias coletivas realizadas em parcerias com prefeituras, cartórios e igrejas, além de uma prevalência na estabilidade econômica no Brasil.

Uma particularidade desse fenômeno está no perfil dos casais que decidem sacramentar a união. Os homens divorciados começam a se destacar em número, já que aumentaram as uniões entre mulheres solteiras e excasados. De 1995 para cá, o percentual desses casamentos passou de 4,1% para 6,2%.

Em relação às descasadas também houve um crescimento, embora menor, de casamentos com homens solteiros, com um aumento de 1,7% para 3,1%. Já as separações e o número de divórcios seguem crescendo paralelamente.

Em 2005 foram 100.448 separações judiciais concedidas, representando 7,4% a mais que em 2004. Entre todas as regiões, a Sudeste dispara como campeã de casais insatisfeitos com a união. O curioso é que em separações não consensuais, a proporção de mulheres requerentes é de 72% contra 26,3% dos homens. (FMM)

Falta de diálogo favorece fim da relação

O pouco tempo de namoro e a falta de diálogo foram "fatais" para o casamento da professora de dança Laura*, 22, com o ex-marido. A união acabou há menos de um mês, depois de terem vivido juntos por quatro anos e terem tido uma filha.

A decisão de se casarem aconteceu com apenas cinco meses de namoro durante uma paixão que começou por acaso num encontro inesperado num bar.

"Nós nos conhecíamos pouquíssimo quando decidimos viver juntos. Ele era completamente diferente, gostava de sair comigo à noite, ia me ver dançar e adorava se divertir. Depois que casamos, tudo acabou."

A recém-separada confessa que desde o início notou que ambos tinham personalidades opostas. Ao ler as perguntas do questionário, concluiu que a maior parte delas nunca foi debatida durante o período de namoro nem após o casamento.

"Acho que se a gente tivesse namorado mais tempo, eu saberia melhor quem era ele. Talvez por isso nem casaria. Por exemplo, a questão que fala da relação com os amigos, eu nunca dei muito certo com os dele", revela.

Os motivos para o rompimento passam por detalhes que tornaram a convivência insuportável para Renata. A televisão que ficava no quarto do casal tornou-se um ponto de discórdia e motivo de início de várias discussões. "Eu queria colocar a nossa filha para dormir e ele não abaixava o volume da televisão."

A diferença de idade de quase 20 anos, segundo Renata, nunca foi problema na relação. A família e amigos da professora se preocupavam com o fato de o futuro marido já ser pai de outras três meninas e alertaram que os maiores obstáculos poderiam surgir dessa particularidade.

Como o rompimento é recente, Renata ainda não tem certeza de uma possível reconciliação. A única coisa que já está decidida é que o casal não vai dividir o mesmo teto, estando juntos ou não. (FMM)

* O nome da personagem foi trocado

PERGUNTAS E RESPOSTAS
O casal de noivos Gustavo e Flaida aceitou responder às perguntas elencadas por especialistas

1 - Já discutimos quanto a ter ou não ter filhos" Se a resposta for sim, quem será o principal encarregado de cuidar deles"
Gustavo: Teremos dois: Clara e Bernardo. Ambos serão encarregados da educação.

Flaida: Sou fascinada por criança e por mim teríamos uns seis filhos, mas sei que nos tempos atuais isso seria, no mínimo, loucura. Portanto, definimos ter dois filhos. Quanto aos cuidados, os dois deverão se envolver nessa tarefa.

2 - Temos uma idéia clara sobre os objetivos e as obrigações financeiras um do outro" Nossas idéias sobre gastar e economizar são semelhantes"
G.: Sim. Nos damos muito bem em relação ao dinheiro. Dividimos e nos ajudamos sempre. Temos praticamente um "caixa único". Eu sou mais econômico. Flaida, se deixar, gasta tudinho.

F.: Nossas idéias são bem discutidas, já sabemos que muita coisa muda também nessa área após o casamento. O Gu é muito organizado e já faz vários planejamentos sobre o orçamento. Estou aprendendo a me planejar melhor.

3 - Discutimos nossas expectativas sobre como o lar será mantido e estamos de acordo sobre quem gerenciará as tarefas domésticas"
G.: Conversamos superficialmente sobre o assunto. Penso que vamos gerenciar as atividades de comum acordo.

F.: A manutenção do lar já é entendimento pacífico em relação às questões financeiras. Quanto às atividades domésticas, esse é um assunto mais delicado. Acho que os homens nem pensam nisso.

4 - Revelamos totalmente nossos históricos de saúde, tanto física quanto mental"
G.: Eu revelei, até mesmo porque quando tive meu maior problema de saúde, já estávamos juntos.

F.: Acredito que não existe um histórico muito longo sobre esse assunto, mas temos consciência do principal e até mesmo do histórico das famílias.

5 - Meu parceiro é tão afetivo quanto espero que ele seja"
G.: Flaida tem mania de dizer que é seca. Entretanto, sempre brinco que a "Flaida-seca" eu não conheço. Às vezes, a sinto distante e menos afetiva. Mas, quando isso acontece, a convido para discutir o problema (ela odeia) e logo solucionamos.

F.: O Gu é muito, muito carinhoso. É um supercompanheiro.

6 - Conseguimos discutir aberta e confortavelmente nossos medos, preferências e necessidades sexuais"
G.: Acho que falamos até abertamente demais. Respeitamos as vontades um do outro.

F.: Conversamos sim sobre esses assuntos, mas eu tenho um pouco mais de dificuldade que ele para me expressar.

7 - Haverá uma televisão no quarto"
G.: No que depender de mim, com certeza. Já conversamos sobre isso e, apesar de Flaida não concordar, devemos ter sim.

F.: Sim, o Gu não dorme sem televisão, nunca vi gostar tanto.

8 - Ouvimos um ao outro verdadeiramente e consideramos ponderadamente as idéias e reclamações dele"
G.: Adoro discutir a relação. Ela odeia. Penso que esse ponto é um detalhe que faz toda a diferença. Quando tem alguma coisinha pendente, incomodando, conversamos.

F.: Sim, nos respeitamos demais e ele adora discutir a relação.

9 - Chegamos a um entendimento claro das crenças e necessidades espirituais do outro e discutimos quando e como nossos filhos serão expostos a educação religiosa/moral"
G.: Não combinamos muito nesse ponto. Flaida é católica fervorosa. Eu acho interessante o espiritismo, gosto de ler sobre ocultismo, ouço rádios evangélicas. Quanto aos filhos, já conversamos e como para Flaida é importante a formação religiosa católica, portanto, assim será.

F.: Esse é um tema mais conflituoso. Nossas crenças e necessidades espirituais são um tanto divergentes, em alguns momentos sinto que ainda estamos engatinhando na nossa fé e muitas vezes temos pontos de vista diferentes. Sobre os filhos, ainda não há uma definição, mas sei o que o Gu gostaria.

10 - Gostamos e respeitamos os amigos do outro"
G.: Impossível gostar de todo mundo.

F.: Sim, nos damos muito bem com os amigos tanto dele quanto meus.

11 - Valorizamos e respeitamos os pais do outro" Algum de nós está preocupado quanto aos pais interferirem no relacionamento"
G.: Gostamos das famílias uns dos outros e as respeitamos muito. Flaida, muitas vezes, se preocupa mais com as coisas "lá de casa" do que eu. Quanto a se preocupar, eu me preocupo sim. Não só de pais, como de quaisquer terceiros. Não gosto de opiniões não pedidas e "entronices".

F.: Sim, temos uma relação muito boa e tenho muito carinho pelos pais do Gu. Essa é uma questão que não me preocupa.

12 - O que minha família faz que te irrita"
G.: Na verdade, não sei dizer se irritar é a palavra. O que me incomoda é mais como Flaida lida com algumas situações. Ressalto que hoje já melhorou e muito. Não gosto que Flaida seja chamada para resolver qualquer problema e me incomodam um pouco algumas cobranças.

F.: Não há nada que me irrite. Essa palavra é muito forte. As famílias têm características próprias e muitas vezes percebemos diferenças de hábitos e costumes.

13 - Existem coisas que eu e você não estamos preparados para abrir mão no casamento"
G.: Eu me sinto preparado para conviver com a Flaida. Não sei bem se existe algo concreto que não estejamos preparados para abrir mão porque, sinceramente, tenho a Flaida como a companheira que sempre sonhei.

F.: O casamento exige adaptações e isso é normal diante de qualquer mudança de vida. Acredito que já estejamos preparados para elas. Afinal, o casamento é um processo. Viemos nos preparando para isso.

14 - Se a um de nós for oferecida uma oportunidade de carreira em uma cidade longe da família do outro, estamos preparados para nos mudar"
G.: Por mim, tranquilo. Se for para pensar em ficar longe, não se está preparado para constituir família. E quem ama não consegue ficar longe.

F.: Sim. Aliás, já existe uma decisão sobre isso. A proposta só será aceita se tivermos condição de irmos os dois.

15 - Cada um de nós se sente totalmente confiante no comprometimento do outro no casamento e acredita que o laço pode sobreviver a qualquer desafio que venhamos a encarar"
G.: Sinto-me extremamente confiante, apesar de, como qualquer ser humano, surgir uma insegurançazinha, principalmente quando há algum atrito. Nos amamos e nos respeitamos. Há coisas que são mais importantes para ela que para mim, aí eu abro mão. Há coisas que eu me importo mais, aí ela cede.

F.: Totalmente confiante e acredito piamente que todos os momentos serão vividos a dois.

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