"Deus, o que você quer de mim?". Esse foi o questionamento feito pelo ex-padre Bernardino Batista dos Santos, de 77 anos, ao ser preso nesta quarta-feira (23 de outubro), num sítio na zona rural de Juatuba, na região metropolitana de Belo Horizonte. Local em que ele residia há cerca de três anos. Até agora, 28 vítimas já foram identificadas e 10 já foram ouvidas.
De acordo com a Polícia Civil, os primeiros abusos sexuais contra crianças e adolescentes, com idades entre 3 e 11 anos, ocorreram no ano de 1980 e o último em 2016. As violências aconteciam num sítio comprado pelo ex-padre, para encontros religiosos, em Tiros, no Alto do Paranaíba. Contudo, as forças de segurança só começaram investigar o caso após a primeira denúncia, feita em 2021.
A prisão
No momento da detenção, o suspeito estava em casa com uma mulher. A suspeita da polícia é que essa mulher, na infância, tenha sido uma das vítimas do agressor.
Antes de ser preso, o ex-padre pediu para tomar uma série de medicamentos com leite. Na sequência, ele foi levado até a viatura. Os próprios agentes de segurança registraram em vídeo o momento da prisão.
"Deus, o que você quer de mim?" Esse foi o questionamento feito pelo ex-padre, Bernardino Batista dos Santos, de 77 anos, ao ser preso nesta quarta-feira (23), num sítio, na zona rural de Juatuba, na região metropolitana de Belo Horizonte. O idoso é alvo de denúncias de abusos… pic.twitter.com/FR3kctcGqj
— O Tempo (@otempo) October 23, 2024
Agressor sexual possuía uma predileção
Durante coletiva de imprensa promovida nesta quarta-feira (23), o delegado Bruno de Deus informou que, o ex-padre possuía uma predileção para cometer os abusos sexuais: meninas com idades entre 3 e 11 anos.
"Durante as investigações, percebemos que esse suspeito agia sempre do mesmo modo, violentava sexualmente meninas entre 3 e 11 anos. Ele violentava as crianças nos curtos momentos em que ficava a sós com as vítimas. As violências ocorriam no sítio que ele havia comprado para realizar encontros religiosos", esclareceu delegado Bruno de Deus.
Início das investigações
De acordo com a Polícia Civil, as investigações tiveram início, em 2021.Uma mulher, de 23 anos, procurou as forças de segurança para denunciar que havia sido abusada, na infância, pelo sacerdote. As violências sexuais teriam ocorrido em 2001, quando a vítima tinha 4 anos, no sítio em que o padre havia comprado para realizar encontros religiosos, em Tiros.
Durante as investigações a polícia concluiu que o caso já havia prescrito, passado 20 anos do abuso. Contudo, as apurações levaram a polícia até uma nova vítima, que reside atualmente nos Estados Unidos. A menina, que hoje tem 11 anos, denunciou ter sido violentada, no ano de 2016, pelo sacerdote aos 3 anos, no mesmo sítio da cidade mineira. Foi com base nesta nova denúncia que a polícia conseguiu chegar até as outras vítimas.
Ainda conforme o delegado, o sítio, local onde os abusos eram cometidos, foi vendido pelo sacerdote, em 2021. "Provavelmente ele vendeu o sítio porque já temia que poderia ser preso por conta dos abusos", declarou Bruno de Deus.
Vítimas fizeram uma página nas redes sociais
Ainda segundo a Polícia Civil, após a localização das vítimas, elas conseguiram reunir forças e se juntar nas redes sociais. As mulheres criaram um perfil no Instagram com o intuito de reunir ainda mais vitimas. "Quanto mais vítimas forem encontradas maior será a pena dele, então essa iniciativa é muito valorosa. Acreditamos que ele tenha violentado mais de 50 meninas. Por isso, é importante a denúncia", pontuou o delegado Bruno de Deus.
Afastamento das funções religiosas
O ex-padre foi afastado das funções por suspeita de assédio cometido contra um grupo de mulheres quando elas ainda eram crianças. Durante anos, o religioso atuou como pároco da igreja Santa Luzia, no bairro Paraíso, região Leste da capital mineira.
Depois de vir à tona uma série de denúncias contra o sacerdote, o padre foi transferido para a paróquia Cristo Rei, no bairro Industrial, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Desde novembro de 2021, porém, ele não exerce mais as funções como padre.
Por meio de nota, a arquidiocese informou à época que, após as denúncias, começou um processo de investigação no qual ouviu vítimas do ex-padre. Relatou ainda que os trâmites ocorrem em sigilo.
Trabalho voluntário interrompido
O delegado ainda revelou que após o sacerdote ter sido afastado pela igreja católica de suas funções religiosas ele tentou trabalhar de forma voluntária num presídio de Belo Horizonte. Contudo, o ex-líder religioso foi 'dispensado' do voluntariado após os funcionários da unidade penitenciária descobrirem "que o ex-padre era suspeito de cometer dezenas violências sexuais contra crianças", destacou.