Neste domingo, os arredores do Centro Cultural Pampulha se tornaram palco de uma celebração que tem a tradição e a fé como suas raízes. Cerca de 30 guardas de Congado de diversas localidades de Minas se reuniram para o 56º Festejo de Nossa Senhora do Rosário.
“O congado mineiro é uma manifestação folclórica e religiosa que surgiu como forma de resistência e preservação da identidade cultural dos povos africanos escravizados”, explica Gleisson Rodrigues, Capitão Neguh da Guarda de Congo Nossa Senhora do Rosário Urca Pampulha.
Inspirado em celebrações e rituais africanos provenientes, principalmente, do Congo, de Moçambique e de Angola, o congado homenageia divindades, reis e rainhas africanos, incorporando também a devoção a santos católicos negros, como São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário.
Gleisson é neto de um dos fundadores do evento, que já ocorre no bairro há 56 anos. De acordo com ele, o festejo anual é uma das maiores festas de Congado de Belo Horizonte.
União da comunidade
Mas, além da tradição, o evento também une a comunidade em torno da fé. Como explica Rafael Bernardino, 55 anos, morador do bairro há 30 anos: “É uma festa que junta as pessoas. O povo doa alimentos, a senhora ali na esquina abriu a casa dela para fazer a alimentação. Une a comunidade”, afirma. Durante o almoço, cerca de 2.000 marmitas foram distribuídas para os moradores e demais pessoas da região.
Na hora da festa, mesmo com crenças distintas, o encanto toma conta. Maria de Lourdes de Paula, uma das primeiras moradoras do Bairro Urca, acompanha a celebração desde o início. Ela se declara evangélica e, embora o Festejo de Nossa Senhora do Rosário tenha raízes afro-brasileiras e católicas, para ela o congado é uma história dos seus antepassados. “O Congado, para mim, é uma lembrança dos meus antepassados: meus pais, bisavós, tataravós. Então, cada batida dessa caixa bate no fundo do meu coração, no fundo da minha alma. Eu escuto o foguete estourando e corro para ver o Congado”, afirma.