Olhar abatido, choro constante, amparada por familiares e com um único desejo: "Justiça". Foi assim que a empresária Isabela Almeida, de 29 anos, mãe de Ian Cunha, chegou ao Fórum Lafayette, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, na manhã desta terça-feira (10 de dezembro). O local será palco do julgamento do pai e da madrasta do garoto, acusados de espancar e matar o pequeno de apenas dois anos na região Norte da capital mineira, em janeiro de 2023.
A foto do filho era exibida na camisa vestida pela mãe. Na roupa, a frase "violência é covardia, é crime" marcava a dor carregada pela mãe. "Eu exijo Justiça no meu coração. Meu filho não vai mais morar comigo, vai ficar só nas lembranças. Mas eu sei que ele está aqui do meu lado, e eu vou buscar justiça por ele", disse Isabela à reportagem de O TEMPO.
O julgamento do caso está marcado para às 8h30 da manhã desta terça-feira (10 de dezembro), no Fórum Lafayette, no Barro Preto. Não há previsão para o fim da audiência. Testemunhas e acusados devem ser ouvidos durante todo o dia. Segundo o advogado de acusação, Fabrício Cassanjo, as oitivas podem se "arrastar" até esta quarta-feira (11 de dezembro).
'Criança era estorvo financeiro para casal'
Para Cassanjo, o julgamento deve provar que o crime foi cometido por motivo torpe (infame), já que o processo apontou que o pequeno era visto como um "estorvo financeiro" para o pai e a madrasta de Ian. "Essa criança era um estorvo financeiro para a família, inclusive, a madrasta assumiu os ônus para pagamento da pensão e outros gastos da criança", afirma.
O defensor garante ainda que não há dúvidas de que o crime foi premeditado pelo casal. "Não resta dúvida que os dois contribuíram premeditadamente para a morte dessa criança. O pai iniciou a agressão, o golpe fatal foi executado pela madrasta, mas o pai demorou cinco horas para socorrer essa criança. O socorro imediato poderia ter evitado a morte", avalia.
Denúncia
De acordo com denúncia do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a madrasta é suspeita de matar o menino ao feri-lo com um ‘instrumento contundente’. Muito machucada, a criança teria agonizado por horas em casa.
Já o pai do menino, conforme a denúncia, ‘concorreu para a consumação do crime’, já que tinha o dever legal de proteção, cuidado e vigilância. Após saber das agressões, ele estaria ciente de que o menino apresentava graves ferimentos, mas teria se omitido. Ele esperou algumas horas para levá-lo ao hospital. Com isso, impediu que o menino recebesse tratamento eficaz a tempo.
O homem tinha a guarda compartilhada da criança, que ficava aos cuidados dele e da madrasta aos fins de semana. A mulher também é acusada de utilizar recurso que dificultou a defesa da vítima, já que aproveitou o momento em que estava em casa sem a presença ou vigilância de outro adulto. Conforme a denúncia, o crime foi cometido porque a mulher estava insatisfeita com o fato de o menino ser fruto de uma relação extraconjugal do companheiro.
“Com relação à acusada, o crime foi cometido por motivo torpe, consistente na insatisfação da acusada em ser a vítima gerada em relação extraconjugal do acusado, estabelecendo com a criança relação de repulsa. Com relação ao acusado, o crime foi cometido por motivo torpe consistente no fato da vítima representar uma fonte de conflito com a companheira ante a criança ser fruto de um relacionamento extraconjugal mantido com terceira pessoa”, diz a denúncia.