DIVERSIDADE

Pela primeira vez em BH, Parada Negra LGBT pede igualdade de oportunidades, mais políticas públicas e fim do preconceito

Evento reuniu pessoas no Centro da capital mineira e contou com apresentações artísticas

Por Bruno Daniel
Publicado em 25 de maio de 2024 | 17:33 - Atualizado em 25 de maio de 2024 | 18:49
 
 
 

Um grito por inclusão e igualdade e a favor da diversidade tomou conta do Centro de Belo Horizonte neste sábado (25). Em contraste com os prédios cinzentos da região, as várias cores do movimento LGBTQIAPN+ deram o tom nas vias durante a 1ª Edição da Parada Negra LGBT em Belo Horizonte. O evento foi organizado pela Rede Afro LGBT.

O resgate histórico do movimento LGBT na capital mineira foi um dos objetivos da parada. Houve homenagem a figuras importantes do movimento, que se mostraram fundamentais na luta pelos direitos da população LGBTQIAPN+. Duas figuras citadas foram Soraya Menezes e Carlos Magno.

"São pessoas que construíram não só a luta pelas políticas públicas para a população LGBT, mas também atuaram em defesa da educação, da saúde e diversas outras pautas da cidade", ressalta o estudante de Serviço Social, Thiago Santos, que também é coordenador da Rede Afro LGBT em Minas Gerais.

Nas palavras do jovem, o silenciamento sofrido por essas personalidades impactou nas discussões das políticas públicas para a população negra LGBT, o que, nas palavras do organizador, é mais um combustível para ir à luta. Com o tema  “Do Erê ao Ancestral - Pela Vida das Juventudes Negras”, o socorro à juventude negra também está na pauta do movimento.

"Queremos debater as periferias de Belo Horizonte, o saneamento básico dos nossos territórios e o nosso acesso à educação na sua forma universal, desde a perspectiva primária até o nível superior. Está faltando para essa juventude espaço e acesso à saúde mental. Infelizmente, parte do nosso público, por falta de oportunidades, acaba tirando sua própria vida", lamenta Thiago. 

Quem sofre o preconceito na pele relata episódios em diversos ambientes, em formas variadas. No caso da cuidadora de idosos Gabriela Camargo, de 27 anos, que se declara mulher trans, a discriminação aconteceu no mercado de trabalho, durante uma entrevista de emprego.  

“Eu não fui selecionada pelo fato de eu ser trans”, relata a mulher. Mas o pior veio em seguida, quando tentou denunciar o fato. “Eu pedi ajuda à polícia, mas a polícia falou que era uma coisa da minha cabeça, que não tinha nada a ver (com precondeito)”, relembra. A mulher avalia que situações como essa contribuem para marginalizar esse público.  

“A população quer trabalhar, mostrar que é capaz, mas o empresário não dá oportunidade. A gente já não tem o apoio da família, nem trabalho, a pessoa acaba indo para a prostituição ou outra coisa”, diz.

Também mulher trans, a cabeleireira Paula Rodrigues, de 43 anos, relata que a aparência dela já foi usada como motivo para atacá-la. “Neste final de semana, eu estava em um espaço e fui questionada pelo meu cabelo, pela cor do meu olho, pois eu estava de lente, e pela minha roupa. Depois a pessoa perguntou se eu era um menino fantasiado. E no final, ele disse que não era preconceito. Então eu pergunto: o que é preconceito?”, desabafa. 

Vestida com trajes da cultura afro, a designer Natália Manga, de 34 anos, marcou presença na parada e também já sofreu preconceito no ambiente corporativo, após fazer um projeto com linguagem da cultura afro. A mulher enxerga avanços na luta contra o preconceiro, mas entende que só a conscientização e a educação podem melhorar o cenário, que ela ainda avalia como crítico. 

“É a população criar empatia, começar a entender de fato, que não existe essa questão de ser menor, menos importante, menos humano, porque eles tiram nossa humanidade”, afirma. A jovem avalia que aumentar a presença dos públicos negro e LGBT nos espaços de poder é fundamental.

“Acredito que falta mais acesso, visibilidade, dar voz pra gente e mais representantes na política. Isso é importantíssimo. A gente precisa cada vez mais ter representantes da comunidade negra, LGBT, mulheres... A gente precisa cada vez mais dessas pessoas alcançando posições altas na política”, pede.

Thiago Santos, coordenador da Rede Afro LGBT em Minas Gerais, entende que as políticas para o público LGBTQIAPN+ existem, mas precisam ser colocadas em prática de forma mais efetiva, “Falta prioridade. Existem políticas, mas elas têm um investimento muito pequeno, aquém do que elas precisavam ter”, reclama. 

A Parada Negra LGBT ocorre exatamente no Dia da África, também comemorado no dia 25 de maio, e tem inspiração no movimento "Black Pride", que teve início em 25 de maio de 1991, nos Estados Unidos. A Parada Negra já está no calendário da população LGBT de outras cidades do Brasil, como São Paulo e João Pessoa. 

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