Há anos, moradores do bairro Xodó Marize, região Norte de Belo Horizonte, convivem com o medo de atravessar uma passarela que tem no local no período da noite. O equipamento, que liga dois pontos da rua das Gaivotas, está sem iluminação pública no entorno, o que faz com que, ao anoitecer, quem passa pelo trecho fique na escuridão. Com isso, pedestres temem ser vítimas de assalto e outros crimes.  


A passarela fica bem ao lado da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Vila Clóris e passa por cima de um córrego. Tanto pedestres quanto carros passam pelo local, o que é errado, conforme os moradores, já que a estrutura foi construída inicialmente para os pedestres. No entorno do equipamento, áreas de mata que, sem iluminação pública, podem ser esconderijo para possíveis criminosos.  


Uma moradora do local, que se identificou apenas como Elaine, conhece pessoas que já sofreram assaltos no trecho. "Foi há cerca de cinco anos. Eu e minha sobrinha vínhamos da academia, um rapaz veio e disse: 'Passa a bolsa' e minha sobrinha teve que passar. O outro episódio foi com minha irmã. Estava escuro o rapaz veio e falou para ela entregar a bolsa. Foi por volta de 19h30", recorda a mulher, que admite o temor de usar o equipamento à noite.  


"Eu não gosto de passar, é muito perigoso. Se tivesse iluminação, daria para enxergar, mas não tem", lamenta.  A escuridão torna praticamente impossível de se identificar as pessoas, como relata o engenheiro e teólogo Pedro Silva, de 34 anos, um dos líderes da comunitários da região. 


"Fica muito escuro, principalmente em época de chuva, quando o mato cresce de forma mais rápida. Gera muita insegurança pra gente", afirma. No local há poucos postes de iluminação, que, conforme Pedro, não funcionam de forma plena. "Alguns têm lâmpada, outros ficam intermitentes, quando chega à noite, eles ficam piscando. Está precária a manutenção", critica. No local, a reportagem também flagrou alguns postes sem lâmpadas. 


Abandono 


 A falta de iluminação é apenas um dos problemas que incomodam os moradores, que também denunciam uma falta de zelo e cuidados com a passarela. No interior da estrutura, não há nenhuma lâmpada no teto, mas é possível ver muitas teias de aranha, indicando falta de limpeza. Em alguns pontos, as grades de proteção na lateral da passarela - chamadas de 'guarda-corpo' - estão quebradas. "A gente está na rota de uma Emei, com um tráfego muito grande de crianças. O guarda-corpo (grade de proteção) é muito alto. As chances de uma criança passar, tropeçar e cair no córrego é muito grande", alerta Pedro.  


Ao lado da passarela maior, há uma estrutura menor, que também é utilizada pelos pedestres e causa preocupação, pelo risco de as crianças que passam no trecho pisarem no buraco e se machucarem. Outro incômodo é a falta de limpeza das margens do córrego, que são usadas como 'bota-fora'. O acúmulo de lixo, segundo os moradores, atrai animais que podem trazer riscos à saúde. 


"Cobra, rato, escorpião, o que mais tem aqui é isso, infelizmente. Na minha casa eu faço de tudo. Se vem cobra, a gente tenta tirar, se vem rato, a gente liga no 156. Mas é muito difícil combater por causa do córrego a céu aberto e do entulho", afirma a moradora Elaine. 


Os moradores também pedem que a passarela seja substituída por uma estrutura por onde possam passar ônibus. Na situação atual, os coletivos ficam restritos à apenas um lado do bairro. "Se tivesse o ônibus, seria mais fácil, pro morador descer mais perto do bairro, porque descer da Cristiano Machado para cá é complicado", diz Elaine. 


Falta de soluções

 
Elaine mora na região do Xodó Marize desde 1991 e afirma que, desde que chegou ao bairro, os problemas existem e nunca foram solucionados. Conforme Pedro Silva, há pelo menos cinco anos a população pede soluções à prefeitura de Belo Horizonte, sempre em vão. 


"A resposta é sempre a mesma: dizem que não tem recursos financeiros e que vão jogar para o próximo orçamento participativo. É sempre uma resposta negativa em relação à execução. A mensagem que passa é de que não é prioridade", desabafa o representante. 


Posicionamento  


Procurada pela reportagem, a prefeitura de Belo Horizonte negou a falta de iluminação no local, mas disse que uma equipe da BHIP, empresa responsável pela iluminação pública na capital, vai ao local para realizar uma avaliação técnica. Sobre a limpeza do entorno da passarela, a PBH respondeu que o serviço foi realizado ainda na última terça-feira (4) e que os trabalhos de limpeza do entulho às margens do córrego já estão em andamento, com previsão de término na próxima sexta-feira (7).  

Questionada a respeito das falhas estruturais no equipamento, o executivo municipal afirmou que uma vistoria recente da Subsecretaria de Zeladoria urbana não apontou riscos e prometeu uma nova vistoria para avaliar a situação.  


Confira a nota da prefeitura de Belo Horizonte na íntegra:

"A Prefeitura de Belo Horizonte informa que o serviço de limpeza no local se encontra em andamento desde o dia de ontem. A limpeza da passarela já foi finalizada. Quanto ao córrego, a remoção dos entulhos está sendo feita, com prazo de término para a próxima sexta-feira (7). Solicitamos a colaboração dos moradores para manter o local limpo. 

Sobre a passarela, a Subsecretaria de Zeladoria de Urbana informa que, em vistoria rotineira realizada no início deste ano, verificou-se que a passarela em questão não apresenta risco estrutural. Uma nova vistoria será realizada para verificar a situação atual da passarela".