A violência doméstica, em muitos casos, acontece de forma escalonada – ou seja, começa com xingamentos e evolui, com o tempo, para agressões físicas e até para o feminicídio. Isso leva algumas pessoas a pensar e até mesmo a questionar a vítima sobre ela não ter notado os “sinais iniciais” dos abusos. Mas a sociedade deve apoiar uma mulher agredida com menos perguntas e mais compreensão.

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É o que propõem Carla Sabrina Xavier Antloga, pós-doutora em psicologia pela USP e professora da área na Universidade de Brasília (UnB), e a assistente social Cláudia Helena Oliveira, que atua com meninas e mulheres vulneráveis há duas décadas em BH.

“Temos combatido muito, do ponto de vista científico e psicológico, a ideia da escalada (da violência) e de ‘aceitar’ o relacionamento abusivo, porque isso leva a uma culpabilização da vítima. Muitas vezes, a mulher sofre a violência e não percebe o que está acontecendo, ou mesmo acredita que o homem é assim e que não vai acontecer de novo”, explica Carla.

“A questão de ‘aceitar’ é complexa. Na relação, cria-se uma dependência emocional e até financeira. A mulher adoece. Oitenta por cento das mulheres que atendi têm pensamentos de morte”, completa Cláudia, que diz ser, assim, ainda mais difícil sair da situação de violência.

Educação. Para mudar o cenário de violência doméstica, Carla propõe educação direcionada ao público masculino. “A fonte do problema é o homem. É o homem que agride. Qual homem? Qualquer homem, porque todos são educados na estrutura patriarcal, em que os homens acreditam que têm direitos sobre a mulher”, afirmou Carla Sabrina. Por isso, segundo ela, é preciso esforço para intervir nos ambientes educativos e corporativos.

“Uma intervenção na escola surte efeito no presente, não só nas gerações futuras. A criança vai contar na aula (o que viu em casa), e o colégio vai acionar a polícia. Para além disso, após um registro de agressão, a delegacia deve comunicar o trabalho do agressor, para que essa empresa promova a conscientização dos funcionários sobre violência doméstica”, sugere.