Após anos sonhando com a maternidade, Magna Laurinda Ferreira Pimentel teve, em 2021, a sua primeira filha. Desde então, ela passou a trabalhar de casa justamente para ter mais tempo com a criança, hoje com 3 anos. Infelizmente, o sonho durou pouco, já que a vida da mulher de 42 anos foi brutalmente interrompida, na última sexta-feira (23 de agosto), após ela ser assassinada e concretada na cisterna da casa do próprio pai, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte. Os suspeitos do crime são a madrasta e os filhos da mulher, que teriam desviado benefícios do pai para apostar no "jogo do tigrinho"

Em entrevista a O TEMPO, nesta quarta-feira (28 de agosto), Eliane Almeida, de 49 anos, que era amiga de longa data da vítima, deu detalhes sobre Magna, apontada por ela como uma "amiga amável e carinhosa" e uma mãe "zelosa". 

"Ser mãe era algo que ela já sonhava há muitos anos. Quando a conheci, ela tinha acabado de perder a mãe e isso deixou ela meio deprimida, chateada. Quando veio a criança (filha de Magna), acho que deu para ela um acalanto. Ela (vítima) chamava a minha mãe de mãe. Quando minha mãe ficou doente, ela me ajudou muito. Então, a Magna era uma pessoa amiga, amável, carinhosa, uma mãe zelosa e, agora, fica uma lacuna entre nós. Um ser humano incrível e com um coração gigante", disse, emocionada, a amiga. 

Eliane lembra ainda que o pai de Magna, de 74 anos, perdeu as duas filhas em um intervalo de menos de um ano. "A irmã dela faleceu no início do ano, teve um AVC e não resistiu às complicações", lembra. Após a polícia encontrar uma grande quantidade de medicamentos na casa, após o encontro do corpo de Magna, a família da mulher suspeita que o idoso possa ter sido dopado pelos suspeitos

"A Magna era uma mulher muito alegre, aquela moça que queria reunir todo mundo para fazer churrasco, sair, ir para a balada após o trabalho. Ela era uma menina animada, muito amiga, um ombro amigo mesmo. Quando alguém precisava dela, ela saia de onde estivesse. Eu falava que ela guardava em um potinho os problemas dela e vinha cuidar da gente", completou a amiga. 

Crime poderia ter ocorrido dois dias antes

A amiga da mulher assassinada contou ainda que a morte poderia ter ocorrido dois dias antes. A madrasta teria a chamado na quarta-feira (21), alegando que o pai estaria com "dor de cabeça". 

"Só que ela falou que, se fosse só uma dor de cabeça, esperaria um pouco pois estava trabalhando e não daria tempo. Mas ela resolveu ir na sexta e isso aconteceu", lembra Eliane. "A Magna sempre se mostrou uma filha muito amorosa, muito cuidadosa mesmo. Eu lembro que, quando nós nos conhecemos, ela falava sempre do pai", concluiu. 

Empréstimo e apostas no "tigrinho" foram descobertos há cerca de 1 mês

Ainda de acordo com a amiga de longa data, há aproximadamente um mês, Magna teria descoberto um empréstimo de cerca de R$ 40 mil em nome do pai e que a família da madrasta teria gasto cerca de R$ 9 mil em jogos de azar na internet, popularmente conhecido como "jogo do tigrinho". 

"Ela resolveu deixar para lá pois conversou com o pai e ele falou que estava ciente do empréstimo. Mas ela cobrou deles (família da madrasta) a devolução de pelo menos a parte que foi perdida em jogos. Isso porque o valor era debitado na pensão dele e ela queria que eles devolvessem para que ele pudesse usar, para o bem dele", contou Eliane. 

Após o encontro do corpo da filha e a prisão da família da companheira, o idoso está recebendo os devidos cuidados, ainda conforme a amiga da vítima. "O que sei é que tem uma pessoa, não sei se é parente ou vizinho. Mas a Magna era uma filha muito amorosa, cuidadosa mesmo", disse. 

O crime

O corpo de Magna foi encontrado na terça-feira (27 de agosto), após quatro dias desaparecida. Magna trabalhava com recursos humanos e estava de home office — trabalho remoto. Segundo vizinhos, que a descrevem como uma pessoa tranquila e pacífica, as atividades externas se resumiam a compras e levar a filha de 3 anos para a escola. Foi justamente após não aparecer para buscar a filha, na sexta-feira (23 de agosto), depois de levá-la para a aula, que o desaparecimento dela foi notificado para as autoridades pelo marido dela.

A madrasta e quatro filhos dela (dois homens e duas mulheres) foram conduzidos ao Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) na tarde de terça, após o corpo da mulher ser "desenterrado". A vítima foi esfaqueada e golpeada na cabeça antes de ser concretada em uma cisterna.

Um dos filhos da madrasta de Magna teria confessado o crime. Ele alegou à polícia que Magna chegou à casa de sua mãe, em Venda Nova, nervosa, e que não teria gostado da atitude da mulher com a mãe e, por isso, a matou. A Polícia Civil investiga os crimes de homicídio e ocultação de cadáver. Os outros três conduzidos alegaram que não participaram do crime.

A suspeita é de que o crime tenha sido motivado por uma discussão entre Magna e a madrasta, que tinha como pano de fundo questões financeiras. Isso porque a vítima teria descoberto que o dinheiro do pai havia sido desviado e usado em jogos de azar.