Alvo de polêmica nesta sexta-feira (13 de setembro), após a PM reprimir um encontro para uma "guerra" em uma praça do Barreiro, em Belo Horizonte, as arminhas de gel são a nova febre da internet, virando desejo de consumo de crianças e jovens. Em uma semana, o preço do "brinquedo" quase quadruplicou e já está em falta em alguns estabelecimentos da capital mineira. O preço, que até semana passada estava em cerca de R$ 120, agora já está chegando a quase R$ 500 em shoppings populares da capital mineira.

Segundo o barbeiro Gabriel Fernando dos Santos, de 22 anos, ele comprou a sua arma pelo dobro do valor que era cobrado uma semana atrás. "Paguei R$ 230,00, mas antes ela custava R$ 120,00, R$ 130,00. Até por R$ 100 você achava. Mas virou febre, né?", disse. Para ele, que participou da "guerra" que foi alvo da PM, tudo não passa de uma brincadeira. "Acho que quem confunde com crime, não entende nada. É legal demais e se tiver outro evento na praça (Mil e vinte), vai ser da hora", completou.

Veja o vídeo da batalha da madrugada desta sexta: 

Nos shoppings populares da região central de BH, do lado de fora já se ouve gritos de "Olha a arminha" dos vendedores. Porém, devido à grande procura, quem quer entrar para a febre pode até encontrar dificuldade para comprar. 

"Não se acha para comprar, está uma loucura", afirmou o vendedor Rodrigo Gabriel, que trabalha em uma loja do shopping Xavantes, no hipercentro de Belo Horizonte. Ele saiu do centro comercial, atravessou a avenida e foi na concorrência tentar achar. "Vou tentar achar aqui, mas tá difícil", disse na porta do shopping Oiapoque, também no centro da capital mineira.

Dentro do centro comercial o produto até era encontrado, mas com preço nas alturas. "Estamos vendendo a R$ 490,00 e está saindo. Acabamos de receber 50 unidades, até umas 15h, já vai ter vendido tudo, pode apostar", disse o comerciante.

Na loja dele, onde costuma-se vender produtos para celular, as armas tomaram conta do balcão. "Fornecedor tá vendendo a R$ 350,00", disse.

O brinquedo

O item, chamado de "brinquedo lançador de bolinhas de gel", pode ser comprado pela internet e em sites de loja de departamento. O preço varia de R$ 199,00 a mais de R$ 600. Os produtos acompanham óculos de proteção e carregador.

Já a "munição", um saco com 2.500 unidades está custando cerca R$ 20. Para usar, é preciso hidratar as bolinhas por aproximadamente 20 minutos em água para, somente depois, carregar o copo que vem acoplado à arma.

Procurada pela reportagem de O TEMPO, a PM informou que, apesar da ação com viaturas no local, nenhuma ocorrência foi registrada.

Por telefone, a comandante do 41º Batalhão da PM, tenente-coronel Ivana Ferreira Quintão, confirmou que a corporação enviou viaturas para o endereço marcado e, após a mudança de local, conteve rapidamente o que ela chamou de "bagunça".

Apoio e críticas 

O assunto está dividindo opiniões entre a população. Uma moradora ouvida por O TEMPO, disse que o evento foi "tranquilo". "Pareceu uma brincadeira muito pacífica. As pessoas foram para o meio da praça, atirando as bolinhas de gel umas contra as outras. Tinha família e até um pessoal com uns carros de luxo, não eram vândalos, não", disse uma moradora que pediu anonimato.

Apesar do tom de brincadeira que a moradora cita, há quem discorde que a ação seja saudável. Um comerciante do bairro, que também pediu anonimato, foi categórico em afirmar que "arma, nem de brincadeira". "Acho que para virar criminalidade não demora. Não vejo motivo de fazer isso, é inseguro, pode virar uma guerra de verdade, não concordo", afirmou.

Nas redes sociais, uma outra moradora reclamou do barulho. "Foi um caos na rua, correria, gritaria, chutavam os portões, som berrando, quem passava na rua se assustava achando que era briga de verdade e arma de verdade. Pode até brincar sim, mas em local fechado, tipo escola, quadra. E não meia-noite, na rua. No final quem ficou no prejuízo foram os moradores, que ficaram assustados e não dormiram para trabalhar", protestou uma moradora nas redes sociais. 

Prisões e ferido em SP 

À venda em lojas de brinquedo e na internet por preços que variam de R$ 100 a até mais de R$ 600, a nova febre é descrita nos anúncios como "lançador de bolinhas de gel elétrico recarregável". O produto sempre vem acompanhado de um número de bolinhas, que são compostas 90% por água, e de um óculos de proteção para os olhos. 

"É seguro para crianças. Melhor escolha de jogo ao ar livre. Excelente diversão para crianças e também para adultos. Em quintais, sítios, praia, a diversão é garantida em qualquer lugar e sem preocupação com quebra de objetos ou ferimentos", diz um dos anúncios em uma famosa rede de comércio online. 

Apesar de ser apontado como seguro, na última quarta-feira (11), um destes eventos terminou com 18 pessoas detidas - entre elas vários menores - e um homem ferido após ser atingido no olho por uma das bolinhas. O caso foi registrado no bairro Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo. 

Em vídeos que circulam nas redes sociais também é possível ver um dos participantes sendo atropelado por um carro durante outra destas "guerras" promovidas na capital paulista. 

É permitido? 

A legislação Brasileira prevê que armas de pressão (airsoft) não são consideradas simulacros de arma de fogo, sendo os últimos proibidos pela lei.

O Decreto 10.030, de setembro de 2019, prevê que esse tipo de "brinquedo" não demanda Certificado de Registro (CR), devendo apenas ter uma marcação na ponta da arma, nas cores laranja ou vermelho vivo, para dintingui-los de armas reais.