A cada dez minutos, um usuário do transporte público de Belo Horizonte reclama das condições do serviço na capital mineira. Esse número corresponde a uma média de 149 acionamentos dos canais de denúncia por dia — pelo aplicativo BH Digital ou pelo WhatsApp. Do dia 1º de janeiro até o dia 10 de setembro deste ano, foram 37.713 queixas, e a principal razão é o descumprimento do quadro de horários, com um índice de 28,37%. Já o funcionamento inadequado do ar-condicionado aparece em segundo lugar (12,27%). O terceiro lugar no ranking está relacionado ao descumprimento do ponto de embarque/desembarque, com 12,10% das reclamações. Para além das queixas cotidianas, um engavetamento entre um ônibus municipal e dois intermunicipais, ocorrido na manhã desta quarta-feira (25 de setembro), alerta também para a segurança do transporte público. Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) afirma que houve uma intensificação da fiscalização do transporte coletivo e que tem sido registrada queda no número de reclamações. Leia nota completa abaixo.
O especialista em trânsito Silvestre Puty Andrade considera que, principalmente após a pandemia, quando houve uma redução da procura, o transporte público da capital passa por uma crise. “Há consequências como a deterioração do serviço e a piora na manutenção, mesmo com o subsídio da Prefeitura de Belo Horizonte”, afirma. A análise é corroborada pelo índice de 11% de reclamações relacionadas à conservação dos veículos. Andrade considera que a solução para melhorar o transporte na capital é o investimento no metrô, no BRT e no VLT. “O metrô, por exemplo, tem sistemas de segurança próprios. Precisamos de um sistema, de uma rede mesmo, na qual você possa trocar um transporte pelo outro sem muita dificuldade”, afirma. Ele ressalta que o transporte público precisa ser atrativo, já que, atualmente, o transporte privado tem ganhado cada vez mais espaço.
A vendedora ambulante Selma Aparecida da Silva, de 55 anos, convive diariamente com problemas relacionados ao transporte público. Ela tem um filho de três anos e, com frequência, se atrasa para pegá-lo na escola. “Eu preciso pegá-lo por volta das 17h, mas, às vezes, chego às 18h porque o ônibus demora muito e preciso pedir que um vizinho o busque”, conta. Ela ainda ressalta que, além da passagem cara, os veículos estão sucateados. “Quando chove, entra mais água dentro do ônibus do que fora. Outro dia, um rapaz encostou na porta e quase caiu. A gente se sente triste, não tem conforto nenhum”, detalha. A diarista Vilma Sabino Moreira, de 57 anos, também percebe o descumprimento do quadro de horários. “Às vezes, o ônibus demora 20 minutos, às vezes 30. Uma vez, quando eu trabalhava fichada, o patrão reclamou do atraso. Já vi veículo estragado e precisamos esperar para trocar o carro e embarcar novamente”, conta.
Conforme o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram), um dos veículos metropolitanos estava parado na via, já em processo de recolhimento para a garagem. Um segundo veículo metropolitano estacionou atrás, e, conforme o sindicato, o ônibus da frota municipal bateu na traseira do veículo, causando o engavetamento. Trabalhadores da rua Padre Pedro Pinto informaram à reportagem que ficaram surpresos com a batida entre os três coletivos.
O construtor Jairo de Lima, de 61 anos, estava trabalhando em uma obra em frente ao local da colisão — que ocorreu entre 6h e 6h30. “Nós ouvimos o barulho e vimos que o ônibus arrebentou a traseira do outro”, detalha. A vendedora Vilma Aparecida, de 59 anos, chegou mais tarde ao local, por volta de 8h. Ela encontrou a via totalmente fechada e percebeu a presença da PMMG e do Samu. “Pareciam assustados, estavam muito machucados e em choque por causa da batida tão perto assim", relata.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram) informa que dois ônibus das frotas de suas empresas associadas se envolveram nesta manhã (25) em um acidente com um terceiro ônibus, da frota municipal, na avenida Padre Pedro Pinto, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte. Com a colisão, nove passageiros que estavam no ônibus da frota municipal apresentaram ferimentos. O SAMU, a BHTrans e a Polícia Militar foram imediatamente acionados e prestaram toda a assistência aos envolvidos, redirecionando o trânsito (que retornou ao fluxo normal por volta das 10h), prestando os primeiros socorros no local e encaminhando as vítimas que necessitavam à UPA e a hospitais da região. Oito passageiros apresentaram escoriações leves, e um deles apresentou trauma na face. Todos têm quadro de saúde estável.
Em resumo, um dos veículos metropolitanos estava parado — e sem passageiros — em processo de recolhimento para a garagem. Um segundo carro metropolitano estacionou logo atrás quando o terceiro, da frota municipal, colidiu em sua traseira, causando engavetamento. As reais causas do acidente serão esclarecidas após perícia técnica. Tanto as empresas envolvidas quanto o Sintram já estão focados em acompanhar de perto as investigações junto às forças de segurança. Além disso, o Sintram e as empresas já se colocaram à disposição para dar todo o suporte aos passageiros mais afetados. Assim que tivermos mais atualizações, comunicaremos a todos.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) lamentou o incidente e informou que os demais passageiros foram embarcados em segurança em outros veículos. “Representantes da empresa municipal se dirigiram ao local do acidente e estão acompanhando toda a ocorrência para colaborar com as autoridades e prestar toda a assistência necessária às pessoas envolvidas”, garantiu. O sindicato afirmou que as causas do acidente serão esclarecidas após perícia técnica das forças de segurança. O veículo já foi substituído por carro reserva.
O Setra-BH pontua que o sistema municipal de transporte conta com mais de 2.600 ônibus em circulação pela cidade, realizando quase 24.000 viagens por dia para atender mais de 970 mil passageiros. Nesse contexto de vias com alta densidade de tráfego, como Belo Horizonte, é inevitável que esses veículos enfrentem ocasionalmente acidentes, apresentem problemas, entre outros contratempos operacionais.
As evoluções e avanços são evidentes e contínuos. Desde a implementação da Lei nº 11.458/2023, que viabilizou significativas atualizações no sistema, as empresas já incluíram 648 novos ônibus no sistema e ampliaram consideravelmente o número de viagens oferecidas.
O sindicato reitera o empenho contínuo de todas as empresas de transporte público em garantir à população de Belo Horizonte um serviço de transporte de qualidade; para isso, continuamos a trabalhar incansavelmente para atender e superar as expectativas dos usuários.
A Prefeitura de Belo Horizonte informa que, desde janeiro de 2024, houve uma intensificação da fiscalização do transporte coletivo da capital. Isso propiciou uma queda acentuada no número de reclamações dos usuários. De 5.238 manifestações dos passageiros no mês de janeiro de 2024 chegamos a agosto com 3.613 contribuições. É importante ressaltar que o número de passageiros registrados no mês de agosto de 2024 foi de 23.742.537 e o número de viagens foi de 620.481.
Outro fator que contribuiu para a redução das reclamações de usuários foi a renovação da frota de ônibus. Desde julho do ano passado, mais de 800 ônibus novos entraram em operação no sistema de transporte coletivo de Belo Horizonte, o que representa a renovação de um terço da frota, o que permitiu que Belo Horizonte fosse a capital com a frota com a menor idade média, com 5 anos e 4 meses.
Na política de Tolerância Zero já foram realizadas mais de 3.500 ações de fiscalização, onde foram vistoriados mais de 20 mil ônibus, alguns deles mais de uma vez. Essas operações geraram mais de 20 mil autuações, várias autorizações de tráfego foram recolhidas e alguns veículos foram encaminhados ao pátio do Detran-MG.
As fiscalizações são realizadas por agentes da Sumob, BHTrans e Guarda Municipal nas portas das garagens, nas estações, ao longo dos itinerários das linhas - inclusive nos pontos finais e no Centro Integrado de Operações de Belo Horizonte (COP-BH) através do SITBus, um sistema conectado ao GPS dos ônibus que monitora cada viagem do transporte coletivo. Essas ações de fiscalização têm resultado em mais segurança e qualidade no transporte da capital.
A participação da população, por meio dos canais da Prefeitura, é fundamental para identificar os locais e as linhas que apresentam problemas e irregularidades. Esse esforço conjunto direciona as ações de fiscalização para onde a população necessita, seja nas estações ou nos pontos finais dos bairros.
A Prefeitura de Belo Horizonte, em julho de 2023, publicou a Lei nº 11.458/23, que instituiu a remuneração complementar ao transporte coletivo da capital. Essa lei estabeleceu, também, uma série de obrigações para as empresas consorciadas, entre elas a renovação da frota e o aumento do nº de viagens. Hoje, já são realizadas mais de 24 mil viagens por dia. Esse acréscimo também contemplou as viagens noturnas e aquelas realizadas aos sábados, domingos e feriados. O não cumprimento das obrigações estabelecidas propicia desconto no pagamento da remuneração complementar.