Gritos por justiça ecoaram na porta da Escola Municipal Eloy Eraldo Lima, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, no fim da manhã desta sexta-feira (27). País de alunos da instituição fizeram um protesto após divulgação de possível violência física e sexual sofrida por um aluno de 11 anos com microcefalia, no último dia 13 de setembro, dentro do banheiro da escola. Familiares de estudantes denunciam que este seria apenas um um universo de diversos casos de agressões na instituição.
A dona de casa Lídia Maria, de 38 anos, acompanhou o protesto na manhã desta sexta-feira e afirma que também teve já teve o filho de 11 anos agredido dentro da escola. A criança é autista não verbal e teria sido agredida por um dos monitores que trabalha na instituição. "Foi no dia 18 de abril do ano passado, ele foi agredido com beliscões, apertões, com xingamentos, os próprios alunos disseram que meu filho estava apavorado. Eu procurei a escola, trazendo meu filho todo cheio de hematomas, e a escola disse que não podia fazer nada, porque ele era um funcionário terceirizado", relata a mulher. Segundo ela, nenhuma providência teria sido tomada. O suposto agressor, segundo ela, continua trabalhando na escola.
"Fui na Secretaria de Educação, denunciei, no Conselho Tutelar, e não foi tomada providência nenhuma. Ele continua trabalhando aqui na escola, normalmente, cuidando de outras crianças", desabafa.
Quem também afirma ter tido a filha agredida na escola, mas por alunos, é o técnico de soldagem Tomás Edson Pereira, de 38 anos. Ele relata que a filha dele, de 11 anos, começou a sofrer bulliyng após dois meses na escola, e a situação teria evoluído para agressões físicas. "Levaram minha filha para o banheiro e a cortaram com gilete. Teve outro caso em que quatro alunas a levaram para a quadra e chutaram a cabeça dela, já cortaram o cabelo dela. A direção sempre dizia que ia resolver e nunca resolvia", diz o homem.
O TEMPO solicitou um posicionamento à prefeitura de Belo Horizonte e aguarda retorno. A reportagem será atualizada em caso de resposta.
"Muito abalados", diz familiar de criança supostamente vítima
O protesto também foi marcado pela presença da irmã do menino que, conforme relato de familiares, teria sido agredido e estuprado no último dia 13 de setembro. Em anonimato, a jovem conta que a família está lutando para ficar bem diante da situação.
"Está todo mundo bem abalado, o que nós queremos mesmo é a justiça. E que protejam não só meu irmão, como as outras crianças também que já sofreram aqui na escola, ou qualquer outra criança de outra escola da região, de Minas, BH", afirma a jovem.
Sobre o irmão, ela conta que há um cuidado para tentar blindá-lo. "O que ele quer mesmo é voltar a estudar, mas vai ficar um tempo sem estudar depois disso. Ele agora está fazendo um acompanhamento psicológico, mas de certa forma, ele está não é nem lidando bem, mas está tentando viver a vida como criança mesmo", diz a familiar, que também descreve o irmão como "muito doce".
"Ele é uma criança que gosta muito de brincar, uma criança carinhosa, que gosta de ser criança mesmo. Não tem nenhuma maldade", resume.
"Não é um caso isolado", diz defesa da vítima
A advogada da família da criança que teria sido estuprada dentro da instituição de ensino, Carla Rodrigues, que também é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Com Deficiência da OAB-MG, relata estar recebendo muitas denúncias de agressões na rede municipal de saúde.
"Eu recebo diversas denúncias de várias escolas da rede municipal. Só ontem eu recebi quinze. Não é um caso isolado, e um caso grave e tem vários outros. Após a divulgação deste caso, estou sendo procurada por várias outras famílias que estão tendo coragem de denunciar", revela.
Carla Rodrigues também cobra mais diálogo por parte da Secretaria Municipal de Educação a respeito do caso envolvendo o aluno de 11 anos da escola do Barreiro. "Apesar de a secretaria ter se posicionado, a defesa ainda não foi procurada. Precisamos que a Secretaria de Educação se comunique conosco, pois existem vários casos na rede municipal de educação", afirma.
Carla afirma ainda não pode dar detalhes sobre as providências jurídicas que serão tomadas, já que o caso envolve menores e corre em segredo de justiça. Segundo a defensora, um dos alunos que supostamente teria agredido a vítima ainda não foi transferido da instituição de ensino.