Uma história que começou no século XIX foi reduzida a escombros e poeira nesta quarta-feira (15). Parte da paisagem do Centro Histórico de Itabira, na região Central de Minas Gerais, foi ao chão. O casarão histórico que foi erguido na rua Tiradentes, no número 194 precisou ser demolido por causa de danos severos na estrutura da casa — provocada por uma obra irregular feita ao lado, de acordo com a prefeitura da cidade. 

O casarão pertencia, desde a sua construção, à herença das famílias Sampaio e  Chiquinho Delegado. A construção ficava perto da casa do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. O escritor vivia na mesma rua, a alguns metros do casarão."É uma rua histórica, a rua Tiradentes, no final dela morou Carlos Drummond de Andrade e tantos outros personagens da história de Itabira. Essa casa mesmo pertenceu às famílias Sampaio e Chiquinho Delegado, que são uma famílias tradicionais da cidade que ajudaram a construir a nossa cidade de Itabira. É um pedaço da nossa memória no chão nesse dia de hoje", lamenta o prefeito Marco Antônio Lage (PSB).

Morador do bairro há 73 anos, o comerciante Luiz Alfredo Martins Rosa, de 75 anos, tem memórias afetivas com o casarão. O homem conta que tinha certa proximidade com os donos da casa e, por isso, sempre brincava no imóvel com os amigos quando criança. "Era muito grande, não sei se tinha cinco ou seis quartos. Tinha um porão muito grande, o fundo da casa dava em um brejo, uma água que escorria. Família grande", relembra Luiz.

Flavio Tavares / O TEMPO

Obra irregular causou danos

No final de 2022, conforme o município, uma obra começou sem autorização em um terreno na avenida Daniel Jardim de Grisolia, que fazia parte do quintal do casarão. Segundo a prefeitura, foi realizado um desaterro no terreno, o que danificou a estrutura da casa. Com isso, a edificação histórica passou a representar risco de desabamento e, consequentemente, de atingir casas e comércios no entorno.

A prefeitura chegou a multar duas vezes o responsável pela obra, além de enviar notificações, mas os trabalhos continuaram, sendo interrompidos apenas em janeiro de 2024. 

Laudos técnicos do Judiciário, da Defesa Civil Municipal e do Ministério Público de Minas Gerais atestaram que a estrutura do casarão representava um risco. Dessa forma, uma liminar foi expedida na manhã da última segunda-feira (14), autorizando a demolição.

Casarão antes de vir abaixo (Flavio Tavares / O TEMPO)

"A única solução encontrada foi exatamente a demolição da casa para preservar os outros imóveis e também preservar vidas. Mas é uma cena que não queremos ver mais em Itabira", afirmou o prefeito Marco Antônio Lage, que também enviou um projeto de lei para a Câmara Municipal com o intuito de fortalecer as leis de proteção ao patrimônio histórico. Medidas também serão tomadas contra o responsável pela obra.

"Vamos mover outras ações exatamente para ressarcir o erário público, ao município, de todos os custos e, a partir daí, vamos tentar reconstruir esse imóvel ou, pelo menos, a fachada dele, para que ele se torne um equipamento cultural, preservando e reconstituindo essa parte do nosso centro histórico", afirmou o prefeito.