Exatos 2.192 balões subiram aos céus de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, no início da tarde deste sábado (25 de janeiro). Pouco antes, exatamente às 12h28, centenas de pessoas presentes na praça Saudade das Joias fizeram um minuto de silêncio. Há exatos seis anos, em 25 de janeiro de 2019, neste mesmo horário, no lugar do silêncio, ecoava o som da barragem Córrego do Feijão se rompendo e a lama descendo pela cidade, ceifando 272 vidas.
Os 2.192 balões, enviados por familiares e amigos das vítimas, representam não apenas uma homenagem às vidas interrompidas pela tragédia, mas também os dias sem respostas efetivas, que se completam neste 25 de janeiro de 2025. O ato faz parte da tradicional semana de homenagens às vítimas do rompimento, que começou na última quinta-feira (23), com seminários e palestras sobre a tragédia.
Neste ano, a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM) escolheu o lema "Memória Irreparável - Uma tragédia que rompeu histórias não será esquecida" para a homenagem. O objetivo é protestar contra o termo "reparação", frequentemente utilizado para se referir às ações de mitigação dos efeitos do rompimento.
Moradores de Brumadinho, na região metropolitana, relembram neste sábado (25) os 6 anos do rompimento da barragem da Vale em um ato na cidade. O ato é em homenagem às 272 vítimas da barragem Mina Córrego do Feijão, que se rompeu em 25 de janeiro de 2019. Às 12h28, horário exato… pic.twitter.com/foQE00XpgQ
— O Tempo (@otempo) January 25, 2025
A soltura dos balões foi acompanhada pela cozinheira Janaína Moura, de 37 anos, que perdeu o marido no dia da tragédia. Erídio Dias tinha 38 anos e era inspetor de solda. Janaína garante que o marido estava em felicidade plena quando teve sua vida ceifada pela lama.
"A Vale ofereceu um curso para ele, para inspetor de solda. Ele não tinha essa qualificação, então estava transbordando de alegria, cheio de planos, queria fazer faculdade. Ele tinha os dentes bem separados e estava com um projeto de colocar aparelho, estava cheio de projetos, cheio de sonhos. Tudo foi interrompido", lamenta a viúva.
O momento de soltura dos balões é um grito de justiça, que Janaína, assim como outros familiares, ainda aguarda. "Nesses eventos, sempre há uma tristeza geral, como se tivesse algo apertando o coração. É uma homenagem aos nossos e uma lembrança de luta por justiça, uma cobrança à Vale, que até hoje não foi criminalizada", comenta.
'Memória Irreparável'
O lema da homenagem deste ano é "Memória Irreparável - Uma Tragédia que Rompeu Histórias Não Será Esquecida". A presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pela Tragédia do Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM), Nayara Porto, explica que o lema visa lembrar que nenhum dinheiro pode reparar as perdas de vidas.
"Seis anos que os nossos foram embora da pior maneira possível. Nós estamos aqui para mostrar o que é irreparável. Muitos falam, hoje em dia, sobre reparação. Mas sabemos que para a morte não há reparação. O que perdemos não volta mais. E é isso que queremos mostrar, através do ato de hoje", argumenta.
Nayara também protesta contra a falta de condenação e prisão dos responsáveis. Em 2022, o Supremo Tribunal Federal retirou da Justiça mineira a competência para julgar o caso, transferindo a jurisdição para o judiciário federal. A medida, na prática, postergou o julgamento dos réus.
"Muitos falam conosco que é um processo muito complexo. Mas sabemos que complexo foi o que fizeram conosco. Eles mineraram os nossos como se fossem minério. Sabemos o que encontramos nos nossos. Hoje, no Brasil, as pessoas esquecem muito rápido das coisas, e outro foco nosso também é que hoje as pessoas não se esquecem", afirma.
Memorial
Às 16h, o Memorial Brumadinho será inaugurado na cidade, exatamente no local do rompimento da barragem. Além de guardar e preservar os fragmentos corporais das vítimas, o espaço se dedica a rememorar e honrar as 272 vidas, a partir da produção de exposições, pesquisas e acervos. Também serão realizadas dinâmicas de reflexão e educativas sobre a tragédia, para que ela não se repita.