Em meio ao aumento de casos confirmados de dengue em Belo Horizonte, a baixa adesão à vacinação tem sido motivo de alerta para especialistas. Atualmente, conforme levantamento da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), entre o grupo-alvo composto por crianças e adolescentes na faixa etária de 6 a 14 anos (220 mil pessoas), 40,7% compareceram ao posto de saúde para receber a primeira dose da Qdenga — 90 mil moradores da capital. Já em relação à segunda dose, somente 13,77%, ou 30 mil crianças e adolescentes, completaram o esquema vacinal.

A baixa adesão à vacinação não ocorre só em BH, mas em todo o Brasil, segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Conforme a instituição, o Brasil registrou mais de 6,6 milhões de casos prováveis da doença em 2024. No total, 6.068 pessoas morreram em decorrência da enfermidade. No mesmo período, apenas 59% do imunizante distribuído pelo Ministério da Saúde foi utilizado.

O pediatra infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm, cita dois fatores para a baixa vacinação: a divulgação nacional do imunizante e a escassez de vacinação dentro das escolas. “As vacinas não estão sendo aplicadas em todo o país, mas só em alguns municípios específicos, o que dificulta a divulgação nacional da vacinação, dos locais de aplicação e das faixas etárias que podem ser imunizadas. Dessa forma, os municípios enfrentam muita dificuldade para divulgar a campanha”, analisou.

O outro ponto, conforme Renato, é a falta de imunização dentro das escolas. O médico afirmou que os programas de sucesso de vacinação dos adolescentes incluem sempre a vacinação em base escolar.

“O fato de esperarmos os adolescentes procurarem as unidades de saúde para tomar a vacina tem um custo e uma demanda muito inferior ao de vacinarmos em uma escola, onde pode-se vacinar centenas de adolescentes em uma única tarde, por exemplo. O cuidado na observação de eventuais reações e alergias é o que tem feito com que a vacinação não tenha sido liberada no ambiente escolar. Esses aspectos precisam ser melhor observados. E, à medida que tivermos mais vacinados, a imunização será uma importante estratégia no controle da dengue”, enfatizou Renato.

No ano passado, conforme o Ministério da Saúde, o número de casos de dengue foi recorde no Brasil: 6.629.595 casos prováveis e 6.103 mortes, além de 761 óbitos que ainda estão em investigação. Em 2025, segundo o órgão, são 101.485 casos prováveis e 15 mortes confirmadas até o momento — sendo ao menos duas em Minas Gerais.

Comprovante de vacinação não será exigido nas escolas de BH

A Prefeitura de Belo Horizonte informou, em nota, que a falta da Declaração de Vacinação Atualizada (DVA) não impedirá a efetivação ou a renovação da matrícula, devendo o responsável legal ser notificado para apresentar o comprovante à instituição escolar em um prazo de até 30 dias.

“Não cumprida a exigência, caberá à Secretaria Municipal de Educação, no prazo de 30 dias, encaminhar à Secretaria Municipal de Saúde a relação nominal completa das crianças, dos adolescentes e dos respectivos responsáveis legais que não apresentaram o documento com indicação de irregularidades. Caberá à Secretaria Municipal de Saúde analisar o documento e realizar a busca ativa para regularizar a vacinação. Findado o prazo sem que a carteira vacinal tenha sido regularizada, a Educação comunicará o fato ao Conselho Tutelar para a aplicação das medidas de proteção cabíveis”, disse a PBH.

A vacina Qdenga segue sendo aplicada no público de 6 a 14 anos. A imunização acontece nos 153 Centros de Saúde e também no Serviço de Atenção à Saúde do Viajante.

Como funciona o esquema vacinal da Qdenga?

O esquema vacinal da Qdenga é composto por duas doses, que devem ser aplicadas em um intervalo de três meses. A orientação para quem teve diagnóstico recente de dengue é aguardar seis meses após o início dos sintomas para iniciar o esquema vacinal contra a doença. Caso a pessoa tenha dengue após o recebimento da primeira dose, não há alteração no intervalo entre as aplicações, desde que a segunda dose não seja aplicada em um período inferior a 30 dias do início da doença.