Belo Horizonte tem o transporte público mais eficiente para o trabalhador entre oito capitais do país. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo Instituto Cidades Responsivas, que analisou a qualidade do meio de locomoção para levar pessoas até o trabalho em um prazo de até 45 minutos. A capital mineira alcançou o índice de 0,36, ficando à frente de outras como Rio de Janeiro e São Paulo. Para usuários que enfrentam diariamente ônibus lotados, com diversas irregularidades e uma média de 105 reclamações por dia, ou uma a cada 15 minutos, o transporte de BH, contudo, está muito longe do ideal.
O levantamento analisou, além da capital mineira, as cidades de São Paulo, Florianópolis, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Fortaleza e Rio de Janeiro. Segundo a pesquisa, as cidades com maiores valores do indicador foram "aquelas cujo sistema de mobilidade conecta cada residência a mais oportunidades de trabalho". Dessa forma, cidades que tenham o número de casas cujo o sistema conecta a maior quantidade de vagas de trabalho em até 45 minutos terão a melhor taxa. Ou seja, o estudo não leva em consideração a qualidade do serviço ofertado pelo sistema de transporte e sim a funcionalidade dele para conectar pessoas ao trabalho.
Dessa forma, BH foi a capital com indicador que mais se aproxima da taxa "1", considerada a melhor, registrando 0,36. Na sequência aparece Curitiba, com 0,26, e Porto Alegre e São Paulo, que dividem a terceira colocação com 0,23. A cidade com pior desempenho foi o Rio de Janeiro, que registrou 0,13.
O pesquisador do instituto responsável pela pesquisa, Guilherme Dalcin, explica que a disposição geográfica compacta da capital mineira, com menor distância entre bairros e o centro, contribuiu para o bom desempenho no ranking. “BH e Curitiba, por exemplo, têm uma característica similar, um formato mais radial, que cresce a partir do centro e não tem barreiras geográficas. Já o Rio de Janeiro tem uma extensão gigantesca, com alguns bairros localizados a 40 quilômetros do centro, o que gera necessidade de uma estrutura de transporte mais robusta”, afirma.
Dalcin reforça que o estudo não leva em consideração o estado dos coletivos, o cumprimento de quadro de horários e os valores das tarifas. “A qualidade do transporte é difícil de levar em conta porque tem critérios subjetivos. Curitiba tem inúmeras reclamações de ar-condicionado, enquanto em BH é sobre qualidade do ônibus. Então não consideramos. Levamos em conta o tempo que é levado para deslocamento entre domicílio e trabalho”, explica.
O pesquisador, no entanto, avalia que a taxa alcançada pela capital mineira ainda está longe do ideal. “Ainda está longe do ideal. É comum que populações de menor renda acabem morando mais distantes do centro e exigindo que o transporte público chegue mais longe para alcançar essas pessoas. É preciso um transporte mais robusto para conseguir alcançar um índice maior”.
A pesquisa levou em consideração o pensamento do urbanista Alain Bertaud no livro "Ordem sem Design", que aponta que o trabalho é acessível em deslocamentos de até uma hora em grandes cidades. Conforme o estudo, a medição desses deslocamentos é essencial para definir a qualidade dos modais. Isso porque os trajetos entre casa e trabalho são aqueles que "mais exigem do sistema de transporte urbano e que mais tendem a gerar congestionamento e poluição, uma vez que os horários de pico do uso da infraestrutura de transporte de uma localidade tendem a ocorrer justamente no início ou fim do horário comercial".
Tarifa alta, qualidade baixa e reclamações
O acréscimo de R$ 0,50 na passagem no início de 2025 - valor que saltou de R$ 5,25 para R$ 5,75 - consolidou BH como a capital do Sudeste com a maior tarifa de ônibus. A cidade mineira cobra 15% a mais pela passagem do que São Paulo, onde o custo é de R$ 5 por viagem desde o início do ano.
Apesar do aumento, os passageiros ainda apresentam queixas frequentes do sistema de transporte. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), somente em dezembro de 2024, o sistema de ônibus na capital mineira foi alvo de 3.257 reclamações nas plataformas de Belo Horizonte, uma média de 113 por dia.
A estudante de arquitetura Sabrina Macedo, de 21 anos, é moradora do bairro Pousada Santo Antônio, na região Nordeste de BH. Usuária da linha 5502 C (Pousada Santo Antônio/Centro), ela afirma que o sistema de transporte público da capital tem potencial para ser melhor do que é atualmente e que a cidade cresceu de forma desordenada, o que provoca dificuldades no transporte e na mobilidade urbana.
“As empresas ganham muito pelo que a Prefeitura paga. Se os investimentos fossem assertivos, haveria a possibilidade de a tarefa ser zero para todo mundo e a qualidade do transporte, inclusive o metrô, seria melhor. Belo Horizonte foi construída há muito tempo e, antes da construção da cidade ser terminada, a população já era muito maior do que o previsto. Então, desde o início, foi uma cidade planejada para muito menos pessoas, que cresceu de forma desordenada e que o trânsito e o transporte não são funcionais”, opinou Sabrina.
Valéria Lage tem 55 anos, é cabeleireira e mora no bairro Tupi, na região Norte de Belo Horizonte. Ela, que utiliza a linha 1509 (Califórnia/Tupi), disse que não concorda com a pesquisa e faz uma reclamação a respeito da qualidade do transporte. “O estado dos ônibus está precário, a passagem muito alta, e, para piorar, está sempre lotado. É muito difícil para quem utiliza”, afirmou Valéria.
O pedreiro Edmar Macedo tem 49 anos e mora no bairro Goiânia, também na região Nordeste da capital. Edmar usa a linha 5503 A (Goiânia/Centro), e reclama da preservação dos ônibus e do tempo do trajeto realizado pelas linhas de BH. “O trânsito agarra demais, o que acaba nos atrasando. O trajeto é longo. E para piorar, quando chove, tem goteira dentro do ônibus”, ressaltou.
Dados do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) apontam que, em 2024, foram 6,6 milhões de viagens realizadas - 250 milhões de passageiros transportados - 144 milhões de quilômetros percorridos - 175 milhões de passageiros pagantes.