Minas Gerais registrou a primeira morte por febre amarela em 2025. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), nesta terça-feira (4 de fevereiro). O Estado está sob alerta do Ministério da Saúde para o aumento da transmissão da doença infecciosa febril aguda, que é transmitida pela picada de mosquitos. A situação traz um alerta para o Estado, uma vez que a primeira morte em 2024 foi confirmada no mês de abril. Neste ano, em fevereiro. Minas é o segundo estado a registrar morte pela enfermidade neste ano - o primeiro foi São Paulo.

A morte foi registrada na cidade de Extrema, no Sul de Minas. O paciente foi diagnosticado com a doença na última sexta-feira (31 de janeiro). Segundo a SES-MG, trata-se de um morador de Bragança Paulista, no interior de São Paulo, que se deslocava diariamente para o município de Extrema. O local provável de contaminação ainda é investigado pela SES-MG.

O Estado também registra um caso positivo de Febre Amarela em primata não humano (PNH), no município de Toledo, também no Sul de Minas.

Para o médico infectologista Leandro Curi, a situação é “assustadora”, uma vez que uma doença para a qual se tem uma vacina ainda está matando. Ele lembra que a cobertura está baixa no Estado (Veja mais abaixo) e isso torna a situação bastante preocupante. “É muito triste saber que uma vacina tão antiga não está atingindo a cobertura necessária. Com pelo menos 95% da população protegida, isso diminui as chances de propagação da enfermidade”, lembra ele.

O médico destaca que a situação liga um alerta no Estado e mostra, mais uma vez, a importância da prevenção. “Tem como prevenir: além da vacina, é importante estar atento ao ir em matas e praticar ações como passar repelente e usar roupa de manga comprida. No entanto, muitas vezes, só se dá importância à doença quando acontece algo trágico, como a morte neste ano”, diz ele.

Curi lembra que a febre amarela é uma enfermidade grave. Apesar de crianças e idosos serem mais vulneráveis, todos estão em risco. “A doença pode evoluir para morte em qualquer pessoa, de qualquer idade e mesmo que não tenha comorbidade”, diz ele.

Segundo o médico, atualmente estamos na fase de doenças como febre amarela, dengue e zika , portanto, o cuidado deve ser redobrado. 

A doença tem dois ciclos de transmissão: urbano e silvestre. Neste último, é transmitida por mosquitos com hábitos majoritariamente silvestres, sendo os gêneros Haemagogus e Sabethes os mais importantes. No urbano, a transmissão é pelo Aedes aegypti. No entanto, o último caso urbano no Brasil é de 1942.

Ministério da Saúde alerta para aumento de casos 

A confirmação da primeira morte em Minas acontece após o Ministério da Saúde divulgar alerta sobre o aumento da transmissão da febre amarela no Estado mineiro, além de São Paulo, Roraima e Tocantins. A nota técnica encaminhada às secretarias de saúde destaca que o período sazonal da doença vai de dezembro a maio e recomenda a intensificação das ações de vigilância e de imunização nas áreas consideradas de risco.  

O estado de São Paulo, de acordo com a pasta, concentra a maior parte dos casos de febre amarela registrados ao longo das primeiras semanas de 2025. “Por isso, o Ministério da Saúde decidiu ampliar o envio de doses do imunizante para o governo estadual. O estado receberá dois milhões de doses até o início de fevereiro, sendo 800 mil doses extras. Destas, um milhão foi entregue em janeiro”.

A febre amarela: transmissão 

A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda, transmitida pela picada de mosquitos. Embora não aconteça contágio de pessoa para pessoa, as notificações aumentam com a circulação do vírus pelos mosquitos. 

No ciclo urbano, a febre amarela é transmitida pelo Aedes aegypti (o mesmo transmissor da dengue, zika e chikungunya); e no ciclo silvestre, é transmitida principalmente pelos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes.

Risco de morte

De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 20% a 50% das pessoas que desenvolvem febre amarela grave podem morrer. Por isso, é fundamental procurar ajuda médica imediatamente ao surgirem os primeiros sinais e sintomas. 

Vacina 

A vacina é a principal ferramenta de prevenção da febre amarela. Desde abril de 2017, o Brasil adota o esquema vacinal de apenas uma dose durante toda a vida, disponível nos postos do Sistema Único de Saúde (SUS).

Atualmente, a cobertura vacinal contra a Febre Amarela em Minas está em 86,30%. A meta vacinal estabelecida pelo Programa Nacional de Imunização é de 95% de cobertura.

Conforme o Ministério da Saúde, o imunizante integra o Calendário Nacional de Vacinação da Criança. A recomendação é que seja aplicada uma dose aos 9 meses de idade e um reforço aos 4 anos. Já para os adultos que não tenham sido vacinados, é indicada uma dose única. O reforço é necessário se a primeira dose foi aplicada antes dos 5 anos.

A pasta informou que os estoques da vacina estão regulares, com envios realizados de acordo com as solicitações dos estados, que distribuem os imunizantes para os municípios. “Em 2024, o Ministério da Saúde distribuiu 20.882.790 doses da vacina contra a febre amarela e registrou a aplicação de 6.655.319. Em 2025, foram distribuídas 3.201.800 doses e aplicadas 170.336”, informou.

A aplicação da dose única é baseada na recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que afirma que o imunizante protege por toda a vida. A orientação foi acatada no Brasil em 2017.

Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi afirma que vários estudos comprovam que a proteção contra a doença realmente pode durar bem mais do que 10 anos na maior parte das pessoas. No entanto, para alguns indivíduos, isso pode não acontecer.

“A OMS, considerando que não haveria vacina para todo mundo, sempre otimiza as doses disponíveis. Isso acontece com outras vacinas também, como a de HPV. A recomendação da SBIm, porém, muda em relação a isso, pois estamos olhando para o indivíduo. Estamos olhando para a pessoa e não para o quantitativo de doses. Nesse caso, a nossa recomendação seriam duas doses”, diz ela. 

Conforme Mônica, nem todo mundo que recebe dose única vai ficar imune por duas razões: há aqueles que não fabricam um nível de anticorpos muito alto e há aqueles que têm uma perda ao longo do tempo.

“Considerando a situação do Brasil, qualquer cidadão brasileiro está sob risco. Portanto, é muito importante que quem não tomou a vacina se imunize”, afirma ela.

Em nota, o governo de Minas lembrou que o Estado em sua totalidade é Área com Recomendação de Vacina (ACRV) contra Febre Amarela desde o ano de 2008. "O Estado de Minas Gerais seguirá o esquema de vacinação recomendado pelo Ministério da Saúde. A vacina contra a febre amarela está disponível em todas as unidades de Saúde do Estado que possuem o serviço de vacinação", informou.

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que mantém, durante todo o ano, a vigilância epidemiológica e ambiental de casos de febre amarela na capital. Além da imunização, também é realizado o monitoramento de primatas, que não transmitem o vírus para os seres humanos, apenas são infectados e adoecem, assim como os humanos. "Esses animais atuam como importante indicador de locais com a circulação do vírus amarílico", informou a PBH.