A Polícia Federal (PF) cumpre, nesta sexta-feira (28 de março), uma operação contra pai e filho suspeitos de esquema de migração ilegal que levou mais de 700 brasileiros para os Estados Unidos, por meio da fronteira com o México. Do total, 227 eram menores de idade à época das viagens. Os mandados são cumpridos em Ipatinga, no Vale do Aço, e Bugre, na região do Rio Doce.
Segundo a PF, a investigação teve início a partir de informações sobre os dois homens, responsáveis pelo envio de brasileiros a países da América Central, como México, El Salvador, Panamá e Costa Rica, com a finalidade de ingressar ilegalmente nos EUA através da fronteira mexicana.
Como pagamento pelos serviços de tráfico de migrantes, os "coiotes" cobravam entre 15 mil e 21 mil dólares por pessoa. A dívida era quitada, entre outros meios, com veículos pertencentes aos migrantes, os quais eram entregues junto com procurações registradas em cartórios, autorizando a transferência dos bens. Isso permitia que os investigados negociassem os veículos diretamente com terceiros.
Conforme a PF, os investigados chegaram a alugar um galpão para armazenar os veículos em virtude da quantidade recebida e, em seguida, estruturaram uma empresa para comercializar os bens, visando quitar a dívida pelos serviços ilegais prestados.
A investigação revelou ainda que os “coiotes” se especializaram na promoção da migração ilegal, organizando viagens para grupos inteiros, muitas vezes compostos por pais e filhos menores de 18 anos. Além de adquirir passagens aéreas para os migrantes em um único localizador por grupo, os criminosos garantiam o transporte terrestre e reservas de hotéis até a travessia da fronteira com os EUA.
As vítimas, além de transferirem veículos e imóveis, também recorreriam a opções financeiras para pagar pelos serviços dos “coiotes", utilizando contas bancárias de familiares para realizar as transações e receber os valores.
Autoridades mexicanas agiam para evitar deportações
As apurações da PF também revelaram que pai e filho mantinham articulações com autoridades mexicanas para evitar a captura, detenção e deportação dos migrantes enviados ao país, contratando “coiotes” locais que acompanhavam os grupos até a fronteira dos Estados Unidos.
'Coiotes' mantinham vida de luxo
Até o momento, mais de 700 migrantes brasileiros foram identificados como vítimas do esquema, entre 2018 e 2024. Desses, 227 eram menores de idade à época das viagens.
Para a PF, o número de pessoas enviadas ilegalmente para os EUA, aliado aos altos valores cobrados por cada migração bem-sucedida, explica o estilo de vida ostentoso dos investigados, que exibiam carros de luxo, imóveis de alto padrão e viagens internacionais, além de fotos com grandes quantias de dinheiro e refeições em restaurantes sofisticados.
Nesta sexta-feira, foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva. A Justiça também determinou o sequestro de bens móveis e imóveis dos investigados, até o limite de R$ 62,6 milhões.
Se comprovado os crimes, os suspeitos poderão responder pelo crime de contrabando de migrantes, que é cometido quando alguém promove a entrada ilegal de estrangeiros no Brasil ou de brasileiros no exterior, com o intuito de obter vantagem econômica, e pelo crime de promover ou auxiliar o envio de crianças ou adolescentes para o exterior sem seguir as formalidades legais.