Uma clínica de reabilitação foi interditada pela Prefeitura de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, nesta terça-feira (29 de abril). Familiares e os próprios recuperandos denunciam que os pacientes eram submetidos a maus-tratos, cárcere privado e que eram medicados por profissionais não habilitados para a função. Os proprietários da unidade foram presos.

"Recebemos uma ligação de representantes da prefeitura nos informando que a clínica seria fechada. Fomos até lá e, de fato, encontramos os pacientes muito dopados. Eles nos contaram que apanhavam dos profissionais que deveriam cuidar deles e que eram impedidos de ter contato conosco", denuncia a familiar de um recuperando, que opta pelo anonimato.

Um paciente da clínica relatou à reportagem o que viveu no período em que esteve na unidade. "O tratamento era péssimo. O pior possível. A gente não recebia visitas, a alimentação era muito ruim. No café da manhã, apenas pão e café; o almoço era arroz, feijão, macarrão e um bolinho de soja, tudo misturado com a mão. Lá também não tinha bebedouro."

O assistido, que também terá a identidade preservada, conta que ele e os demais viviam "eternamente em um cárcere privado". "Nossas famílias eram impedidas de nos visitar. Dormíamos em colchões de plástico. Tudo lá era um verdadeiro lixo. O médico que nos atendia se passava por psiquiatra, mas ficamos sabendo que, na verdade, se trata de um clínico geral", afirma.

O paciente ainda denuncia episódios de agressão. "Eu fui agredido lá dentro. Teve uma vez que tiraram a minha roupa e eu fiquei pelado na frente de mais de 40 homens. Tinha uma equipe que nos vigiava 24 horas por dia, e eles batiam em nós, restringiam a alimentação e tudo mais", desabafa.

Uma parente de outro paciente relatou o sentimento diante da situação. "A gente pagava mensalmente R$ 2 mil. Para ser sincera, nem sei dizer qual é o sentimento, pois não sei se choro ou se grito. Quando colocamos nosso menino lá, estávamos muito esperançosos de que naquele espaço ele iria se recuperar. Mas a verdade é que levei um susto ao ver o tanto que ele está magro, pois ele e os demais ficavam confinados e perdiam a noção de que precisavam se alimentar. É algo surreal", complementa.

Prisão

A Prefeitura de Contagem informou, em nota, que recebeu uma denúncia anônima apontando uma possível violação de direitos humanos na clínica. Uma força-tarefa, composta por representantes das secretarias de Desenvolvimento Social e Segurança Alimentar; Direitos Humanos e Cidadania; e Saúde, foi mobilizada até o local.

"Em face da situação, a Guarda Civil procedeu à prisão dos proprietários da unidade, que foram conduzidos à 6ª Delegacia de Polícia para prestar esclarecimentos", informou o Executivo municipal.

"Após a interdição, foram feitas tentativas de contato com os familiares dos internos para que estes fossem buscá-los. Os que não puderam estão sendo transferidos pela Prefeitura para outra comunidade terapêutica", complementou a administração.

Durante a operação, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) esteve presente para atendimento dos internos em pior estado de saúde. Procurada, a Polícia Civil informou, por nota, que instaurou um procedimento para investigar a denúncia de maus-tratos contra a clínica terapêutica

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) instaurou procedimento a fim de investigar a denúncia de maus tratos realizados em uma clínica terapêutica do bairro Granja Vista Alegre, em Contagem. "Os suspeitos (uma mulher de 34 anos e um homem de 29 anos) foram ouvidos e, após as atividades de polícia judiciária, liberados. Oportunamente, outras informações poderão ser divulgadas", concluiu.

Os responsáveis pela clínica foram procurados pela reportagem, mas ainda não se manifestaram. O espaço segue aberto para os devidos posicionamentos.