Será lançado, nesta quarta-feira (30 de abril), um dossiê elaborado por entidades ambientalistas voltado para os acionistas da Vale, com o objetivo de alertá-los sobre as "contínuas violações de direitos humanos" da mineradora em suas operações em Minas Gerais. Assinado pelo Instituto Cordilheira e pelo Movimento pelas Serras e Águas de Minas Gerais (MovSAM), o dossiê "A Verdade sobre a Vale S.A. em Minas Gerais: Compromissos e Abusos" será publicado ao meio-dia pela Earthworks, organização dos Estados Unidos criada em 1988. A data de lançamento foi escolhida por se tratar do dia em que ocorre a Assembleia Geral Ordinária (AGO) 2025, encontro anual dos investidores da mineradora onde o documento será apresentado.
Conforme adiantado pelas entidades a O TEMPO, existe uma "enorme disparidade" entre os compromissos que a mineradora diz assumir em seus relatórios, divulgados aos acionistas e à sociedade, e a prática empresarial da companhia, que, segundo os ambientalistas, "permanece envolta em uma nuvem de desinformação, disputas judiciais e ofuscação".
"Os investidores e acionistas devem responsabilizar a Vale por suas ações em Minas Gerais. Eles devem exigir que a empresa aja de forma ética e siga rigorosamente as melhores práticas internacionais", disse Jan Morrill, co-diretora interina do Programa de Mineração da Earthworks.
O dossiê será entregue durante a AGO por Carolina de Moura Campos, jornalista e integrante do Instituto Cordilheira, que é uma das acionistas da empresa e que participará da reunião. "Os investidores têm a responsabilidade de monitorar as ações da Vale e exigir o respeito e a escuta às comunidades afetadas", pondera a acionista.
Entre as principais conclusões do relatório está o fato de que a mineradora, mesmo após saber que suas barragens poderiam colapsar, não teria tomado medidas para evitar as tragédias de Mariana e Brumadinho, ocorridas em 2015 e 2019, respectivamente.
"A Vale divulga uma imagem de empresa social e ambientalmente responsável e afirma que cumpre princípios e normas internacionais de boas práticas e sustentabilidade. Porém, o que ocorre diariamente em Minas com as operações da Vale comprova que isso não é verdade", afirma Maria Teresa Corujo, ambientalista do Movimento pelas Serras e Águas de Minas (MovSAM).
O documento alerta ainda sobre os danos à saúde, devido à poeira e à poluição da água, e dos impactos psicológicos e emocionais em seus trabalhadores e comunidades onde seus empreendimentos estão instalados. Por fim, o dossiê conclui que novos projetos da mineradora ameaçam a biodiversidade e causam o desmatamento da Mata Atlântica em Minas Gerais, bem como os recursos hídricos do Estado.
Ainda segundo as entidades ambientalistas, o documento trará ainda recomendações de ações que podem ser adotadas pelos acionistas e investidores da Vale, como a criação de uma "Comissão Internacional Independente", para analisar os impactos ambientais e sociais da empresa; e a criação de um canal permanente de reclamações sobre as operações da Vale.
O estudo é assinado pela jornalista Carolina de Moura Campos, do Instituto Cordilheira; pelo ambientalista e professor do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) de Ouro Preto, Daniel Neri; e pela ambientalista e educadora ambiental Maria Teresa Corujo, membro do MovSAM.
Bônus para diretores
Ainda segundo os movimentos, durante a AGP desta quarta, a Vale levará o chamado Plano Global de Incentivo de Longo Prazo, que prevê o pagamento de "bônus multimilionários" para os seus diretos. A medida causou críticas, já que a mineradora ainda não finalizou as reparações das pessoas afetadas por seus empreendimentos.
Para Danilo Chammas, advogado, morador de Brumadinho e diretor-presidente do Instituto Cordilheira, eles temem que estes bônus funcionem como uma espécie de estímulo à "atuação irresponsável dos dirigentes". “Reforçar a ‘cultura de dono’ na alta liderança, pagando prêmios extras por sua exposição aos riscos dos negócios da Vale, não é a resposta que esperávamos para os graves problemas de governança que os rompimentos de barragens escancararam”, pondera.
Segundo o instituto, apesar dos crimes ambientais recentes, a mineradora fechou 2024 com lucro líquido de R$ 31,6 bilhões, que, apesar de representar uma queda de 21% em comparação com o ano anterior, possibilita agora a proposta dos "generosos incentivos de longo prazo" para os executivos da empresa, antes mesmo da conclusão do desmanche das barragens em nível máximo de emergência ou da reparaão integral às vítimas.
O que diz a Vale?
Com relação a novos projetos, a Vale segue rigorosamente todas as fases dos processos de licenciamento ambiental, realiza Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Relatórios de Impacto Ambiental (RIMA), garantindo que todas as partes interessadas tenham acesso a informações relevantes. Além disso, audiências públicas são realizadas, permitindo às comunidades participação ativa e acesso às informações. A Vale disponibiliza ainda, em seu Portal ESG, informações abrangentes e atualizadas regularmente sobre tópicos como segurança de barragens, biodiversidade e ações climáticas".