O ônibus de viagem envolvido em um grave acidente com 11 mortos na MG-223, em Araguari, no Triângulo Mineiro, na madrugada desta terça-feira (8 de abril), tem 14 multas em aberto e 10 autuações em análise — a maioria por excesso de velocidade. Os dados são de um levantamento do SOS Estradas, com base em informações do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG). As infrações foram registradas entre o segundo semestre de 2024 e o mês passado, por órgãos de seis Estados. 

O veículo, um Mercedes-Benz 2019-2020, com placa de Carmésia (MG), tem três multas em Minas, três em São Paulo, duas em Goiás, duas em Curitiba e uma no Pará. Outras três penalidades foram aplicadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Além disso, mais 10 autuações ainda estão em processamento, ou seja, aguardam a manifestação da defesa. Entre elas, cinco foram por transitar em velocidade superior à máxima permitida em até 20% (R$ 130,16) ou até 50% (R$ 195,23). Em um intervalo de 11 dias — de 21 de fevereiro a 3 de março —, o ônibus envolvido no acidente em Araguari foi autuado cinco vezes por excesso de velocidade, quatro delas em Santa Catarina e uma em São Paulo.

Em outras ocorrências, apesar do registro, não foi lavrado auto de infração — como no caso mais recente, na BR-116, em Campina Grande do Sul (PR), no dia 4 de abril, por suposta "direção ameaçando os demais veículos". Isso ocorre quando faltaram provas para validar a infração.

"O número de infrações cometidas é muito maior do que o de multas", analisa o especialista

Para o especialista em trânsito e coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, os números indicam que o problema da incidência de acidentes nas estradas não se limita a um único motorista. "Identificamos dezenas de infrações e autuações em um mesmo veículo, que são de condutores diferentes. O número de vezes que as irregularidades ocorrem é muito maior do que os flagrantes. Os motoristas conhecem a rota, sabem onde há radar. Infelizmente, não aprendemos com os acidentes, e as infrações continuam em série", alerta.

O acidente grave na MG-223, em Araguari, nessa terça-feira (8 de abril), causou 11 mortes, entre elas de duas crianças, de 3 e 8 anos. Outras 35 pessoas ficaram feridas, sendo nove em estado grave. A Polícia Civil está apurando a possibilidade do condutor ter perdido o controle do veículo. "Ele fazia essa rota semanalmente, conhecia bem. O motorista disse que nunca se envolveu em acidente grave até então", informou o delegado regional de Araguari, Luciano Alves dos Santos

Segundo o delegado, o veículo estava regular no momento da tragédia, e a empresa responsável pelas viagens foi oficiada para apresentar documentos à investigação. Para Rizzotto, é preciso avançar na responsabilização, também, das organizações envolvidas em grandes acidentes. "Enquanto os órgãos responsáveis continuarem atribuindo a responsabilidade exclusivamente aos motoristas, sem examinar detalhadamente o papel das empresas e a eficiência das fiscalizações, teremos apenas justiça parcial, e tragédias como essa continuarão ocorrendo", diz. 

Maior parte das vítimas ficou presa sob o ônibus

O perito da Polícia Civil Daniel Luíz de Souza deu detalhes do cenário encontrado no local do acidente em Araguari. Segundo ele, os corpos sofreram ferimentos "lastimáveis", o que dificultou, inclusive, a identificação, que precisou ser feita principalmente por meio das digitais. Ainda conforme o agente, a maior parte das pessoas que morreram no acidente acabaram ficando presas sob o veículo. 

"Teve corpo ejetado para fora do veículo? Teve. Mas, na verdade, a maioria estava sob o coletivo. Digamos que cerca de nove das vítimas estavam em baixo. Tentamos levantar a traseira do ônibus e não foi possível acessar as vítimas. Para isso, tivemos que destombar o coletivo, colocar na posição correta, para acessar os corpos", disse o perito criminal. 

Oito vítimas já foram identificadas

Ainda de acordo com o delegado Luciano Alves dos Santos, menos de 24 horas após o acidente, oito das 11 pessoas que morreram na tragédia já foram identificadas pela Polícia Civil, sendo cinco delas por meio de impressões digitais e outras três pelo reconhecimento da família. "Aguardamos a confirmação por outros institutos de identificação, de Goiás e São Paulo, para identificar as outras três vítimas", concluiu. 

Dos nove pacientes encaminhados ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), segundo a assessoria de imprensa da unidade de saúde, um veio a óbito, três receberam alta e cinco permanecem internados. Além disso, também segue na unidade um bebê que nasceu de uma das pacientes do acidente, que estava gestante. 

(Com José Vitor Camilo)

O que diz a empresa responsável pelo veículo?

Em nota, a Real Expresso - empresa responsável pelo coletivo - lamentou profundamente o ocorrido. "Desde a ocorrência, nossas equipes foram mobilizadas imediatamente, incluindo profissionais especializados, para prestar apoio no local e junto a familiares. Até o momento foram confirmadas 11 vítimas fatais. 16 feridos foram levados para o Hospital da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) e para a UPA de Araguari e estão recebendo os devidos cuidados. Os demais foram liberados e seguiram viagem", informou.  

A empresa garantiu ainda que trabalha em colaboração com as autoridades responsáveis para investigar as causas do acidente e esclarecer todos os detalhes. "Nesse momento estamos concentrados no apoio às vítimas e todo suporte às suas famílias. Para familiares e pessoas que buscam mais informações sobre os passageiros, disponibilizamos nosso canal de atendimento 24 horas através do telefone 0800 728 1992, que está à disposição para fornecer todo o suporte necessário", finalizou.