Um menino de 2 anos morreu após ingerir um produto de limpeza, conhecido como limpa-prata, na última segunda-feira (16 de junho), em Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte. A criança teria confundido o insumo com refrigerante. A família alega negligência na forma que o menino teria sido atendido no hospital. 

O caso repercutiu após Nayara Walker, empresária de 29 anos e prima da vítima, divulgar um vídeo nas redes sociais alertando pais e responsáveis sobre os riscos ligados à ingestão de artigos de limpeza. À reportagem, ela contou que a família do menino estava ajudando na mudança de um tio quando tudo aconteceu. O produto estava em uma garrafinha pet e, sem que a família percebesse, o menino o ingeriu achando que era refrigerante

"O limpa-pratas estava em uma garrafinha em cima da geladeira. Depois, ela foi colocada na cama para levar a geladeira e, em um segundo, no meio da mudança, ele pegou e tomou. Os tios foram levar a geladeira, a mãe estava na padaria, a avó cozinhando e o padrasto montando o berço. Quando perceberam, ele já tinha tomado todo o limpa-pratas, achando que era refrigerante", relatou.

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Imediatamente, a família acionou o Samu, e o menino foi levado para a Upa de Ibirité. Em seguida, ele foi transferido para o Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, onde sofreu uma parada cardiorrespiratória assim que deu entrada na unidade. Ele chegou a ser reanimado, mas morreu logo depois, ao sofrer uma segunda parada.

A família questiona uma suposta negligência no primeiro atendimento. Segundo Nayara, os médicos não realizaram a lavagem gástrica — procedimento utilizado em casos de intoxicação para evitar a absorção de substâncias tóxicas. "Não fizeram nenhuma lavagem e não deram nada a ele. Tanto os médicos quanto o Samu disseram que ele já estava fora de risco, pois a saturação e os batimentos estavam bons, mas afirmaram que iriam transferi-lo para o João XXIII. Ele tomou o líquido por volta de 16h30. Isso tudo foi agindo dentro dele. Quando foi à noite, chegando no João XXIII, ele teve a primeira parada cardíaca, foi reanimado, mas repetiu e não voltou mais", lamentou.

A prima da criança conta que a família está "sem chão" com a perda e cobra preparo dos hospitais para lidar com casos do tipo. "(A família está) acabada, sem chão e revoltada com a negligência que ocorreu. Pois, se tivessem feito uma lavagem ou dado algo, às vezes ele estaria aqui. Os hospitais não estão preparados para esse tipo de atendimento", desabafa.

Mesmo em sofrimento pelo luto, Nayara afirma que o caso deve servir como alerta para pais e responsáveis sobre os riscos causados pelo contato com produtos de limpeza. "Algumas pessoas não sabem o quão perigoso o produto é e deixam de fácil acesso, ou até mesmo colocam em garrafinhas. Não só uma criança, mas até um adulto pode se confundir e tomar, seja água sanitária, limpa-alumínio, limpa-pratas ou outro produto. É fatal para uma criança. As pessoas têm que dar mais atenção, não só os pais, mas também quem recebe visita. Tem que se atentar a qualquer tipo de produto químico", afirmou.

Cuidados

A reportagem procurou a prefeitura de Ibirité para questionar sobre o atendimento realizado no hospital municipal e, até o momento, não houve nenhuma manifestação do Executivo. Sobre os cuidados para evitar contaminações e também sobre as medidas a serem tomadas após o contato com produtos químicos, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) orientou que, em caso de emergências toxicológicas e/ou dúvidas sobre o que fazer, é recomendado entrar em contato com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Minas Gerais (CIATox/MG).

O serviço funciona ininterruptamente, 24 horas por dia, e conta com equipe médica pronta para orientar sobre primeiros socorros. Os telefones são: (31) 3239-9308, (31) 3239-9390 e (31) 3224-4000.

Confira 10 dicas do CIATox/MG para minimizar acidentes com produtos de limpeza

  • Evite trocar a embalagem original do produto. Nunca utilize vasilhames de alimentos ou bebidas para armazenar essas substâncias;
  • Se trocar de embalagem, mantenha etiqueta visível com o nome e a composição do produto;
  • Evite armazenar grandes volumes em casa;
  • Guarde essas substâncias em armários diferentes dos utilizados para alimentos e bebidas;
  • Mantenha os produtos de limpeza fora do alcance de crianças e animais, de preferência em armários trancados. Evite também armazená-los embaixo da pia ou em armários de banheiro, onde ficam medicamentos;
  • Leia e siga as instruções descritas no rótulo de cada produto;
  • Evite a mistura de produtos químicos;
  • Garanta a ventilação do ambiente ao utilizar qualquer produto destinado à limpeza, higienização e desinfecção;
  • Descarte as embalagens vazias, preferencialmente por meio do sistema de coleta seletiva;
  • Explique sobre os riscos dos produtos às crianças que já conseguem compreender.

O que fazer em caso de acidentes?

Em caso de inalação:

  • Retire o paciente do local onde ocorreu a exposição;
  • Deixe a vítima em ambiente arejado;
  • Não ofereça alimentos ou bebidas.

Em caso de ingestão:

  • Não ofereça alimentos ou bebidas;
  • Não induza vômitos, exceto sob orientação de um centro toxicológico;
  • Leve a vítima à unidade de pronto-atendimento mais próxima, com a embalagem ou fotos do recipiente e dos rótulos.