Seis anos após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho atingidos pela lama ainda levam no peito a dor da perda de familiares e moradias, quando 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos foram derramados, matando 272 pessoas — duas delas ainda seguem desaparecidas. Carregando faixas e cartazes, os atingidos ocuparam o prédio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Belo Horizonte, na manhã desta sexta-feira (11/7), em manifestação que cobra reparação integral e denúncia cortes em recursos destinados aos moradores. 

O protesto, organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), reuniu centenas de moradores da região da Bacia do Paraopeba. Durante a mobilização, o grupo denunciou o desmonte de estruturas fundamentais para a reconstrução da vida nos territórios afetados, como o corte de quase R$ 40 milhões no orçamento das Assessorias Técnicas Independentes (ATIs). 

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Segundo o MAB, a decisão foi embasada em um estudo da Coordenação Metodológica Finalística (CAMF), que apresenta erros técnicos e foi elaborado sem diálogo com os atingidos. Os manifestantes reivindicam agora a reversão imediata do corte, propondo que os recursos sejam realocados a partir de estruturas de apoio previstas no acordo judicial com a Vale, sem comprometer verbas destinadas diretamente à reparação das pessoas e do meio ambiente.

Os atingidos também solicitaram a retomada do pagamento do auxílio emergencial — considerado essencial para a sobrevivência de centenas de famílias. Conforme os líderes do movimento, após uma decisão de primeira instância obrigar a Vale a realizar os depósitos, o processo foi suspenso, e o movimento cobra uma resposta definitiva do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG)

Integrante do MAB, Maria Santana, de 61 anos, explica que, para centenas de famílias, o auxílio é a única fonte de renda para garantir itens básicos como alimentação, gás, energia e medicamentos. “Sem o auxílio estamos sem condições de moradia, é desumano. Fomos atingidos brutalmente. Hoje temos gente muitos problemas de saúde, de pele, doença respiratória e muitos problemas psicológicos. A gente quer uma reparação total e justa porque nós estamos sofrendo e nós precisamos de continuar a nossa vida”, lamenta. 

Maria Santana, de 61 anos, participa do ato em Belo Horizonte - Foto: Raíssa Oliveira / O TEMPO

Outra crítica do movimento é sobre a condução do Anexo I.1, instrumento que define recursos destinados às comunidades atingidas. O MAB denuncia a ausência de critérios objetivos, o desrespeito à vontade popular e a transferência de responsabilidades para os próprios atingidos, muitos dos quais seguem sem indenizações, acesso à saúde ou políticas públicas básicas.

“A questão financeira dos atingidos está profundamente abalada. Mesmo depois de seis anos, muitos não conseguiram retomar a vida. Por isso, esse ato de hoje é tão importante. Precisamos que a Justiça nos ouça e garanta nossa sobrevivência”, afirma Tatiana Rodrigues, moradora de São Joaquim de Bicas e uma das participantes da mobilização.

As denúncias e reivindicações do movimento devem ser apresentadas ao Tribunal de Justiça de Minas (TJMG) em reunião marcada para as 10h30. Antes, os atingidos farão uma caminhada pelo centro da capital mineira como forma de chamar atenção para o movimento. O protesto tem previsão de durar até o fim da tarde desta sexta-feira. 

Confira a programação do ato na capital: 

8h – Café da manhã no INCRA (entrada pela Rua Cambuí, 116 – Bairro Cruzeiro)

9h – Assembleia dos Atingidos: “Por que lutamos e seguimos resistindo – 6 anos do crime”

10h – Marcha até o TJMG (Av. Afonso Pena, 4001)

10h30 – Reunião com Presidência do TJMG e relatora juíza convocada Maria Dolores; Protocolo da pauta e Ato pelo Auxílio Emergencial na porta do TJMG

12h – Retorno ao INCRA

12h30 – Almoço

13h30 – Marcha até o MPF (Av. Brasil, 1877 – Funcionários)

14h15 – Ato pelo Anexo I.1 sem boicote e reunião com Instituições de Justiça (a confirmar)

16h – Reunião com o juiz Murilo Silvio de Abreu no TJMG (Av. Raja Gabaglia)

18h – Retorno dos atingidos às suas regiões