A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte recomendou a suspensão do uso dos glicosímetros e das tiras reagentes da marca "OK Pro" nos 153 centros de saúde da capital. Conforme documento obtido pela reportagem de O TEMPO, os trabalhadores dos centros de saúde também deverão orientar as pessoas que utilizam os aparelhos e os insumos a interromper o uso diante dos riscos à saúde. A aquisição e a qualidade dos equipamentos fornecidos para pessoas com diagnóstico de diabetes, comprados pelo governo de Minas para a rede do Sistema Único de Saúde (SUS), foram questionadas pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
"Essas recomendações permanecem válidas até que a Vigilância Sanitária Estadual conclua a avaliação da qualidade dos equipamentos e insumos da marca. O município já está elaborando orientações técnicas para reforçar as diretrizes junto aos profissionais da rede SUS-BH", destacou a Secretaria Municipal de Saúde da capital. Conforme apurado pela reportagem de O TEMPO, médicos da rede de saúde de Belo Horizonte questionaram a eficácia do dispositivo usado para medir a concentração de glicose no sangue, também conhecida como açúcar no sangue.
"Atendi um paciente que estava em crise. Ao medir a glicemia com esse aparelho, deu cerca de 400. Ou seja, uma crise gravíssima e que a gente precisava encaminhar para uma UPA. Depois, fizemos a medição com outro aparelho, e deu cerca de 200. Já tivemos uma conduta mais tranquila, sem a necessidade de transferência. Ele foi medicado no centro de saúde", disse um médico que pediu para não ser identificado.
Secretaria de Estado de Saúde recomendou suspensão do uso
Um documento encaminhado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) orientou a suspensão do uso dos dispositivos de forma preventiva, para "evitar a exposição e o consumo de produtos que possam ser prejudiciais à saúde". A pasta reforçou que a recomendação é válida "até que a Vigilância Sanitária termine a avaliação da qualidade dos mesmos, buscando evidências se os mesmos são seguros ou não para continuar sendo usados pelas pessoas".
A SES-MG também informou que orientou aos municípios a necessidade de "isolar fisicamente os estoques dos insumos em local separado", com a identificação de "produto interditado". A pasta pediu ainda o bloqueio dos itens no estoque virtual, bem como estabelecer parcerias com as equipes da atenção primária para comunicar aos pacientes usuários dos equipamentos a necessidade de interromper o uso. "Informamos ainda que a SES/MG está empenhando esforços para mitigar os prejuízos causados à população devido à interdição cautelar dos aparelhos glicosímetros e viabilizar, o mais rápido possível, o fornecimento dos insumos para controle de glicemia", justificou.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte informou que cerca de 50 mil pessoas utilizam o aparelho de medição de glicose na capital. A pasta também afirmou que a suspensão seguiu a recomendação da SES/MG. "Os equipamentos e insumos fornecidos pelo município foram adquiridos por meio de licitação realizada pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. A Prefeitura acompanha a situação e aguarda posicionamento técnico definitivo da SES-MG", disse.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) afirmou que está "adotando todas as medidas necessárias para garantir a segurança dos pacientes com diabetes que utilizam o glicosímetro da empresa Ok Biotech, interditado cautelarmente pela autoridade sanitária competente".
Conforme a SES-MG, a interdição é uma medida preventiva para evitar riscos à saúde da população, "impedindo a comercialização, distribuição ou uso do produto até que sua segurança e eficácia sejam devidamente avaliadas".
"A Secretaria orienta a suspensão imediata do uso e dispensação do modelo interditado e está em contato com as equipes das Unidades Básicas de Saúde para que informem os pacientes sobre a situação. Também está em curso uma avaliação técnica para verificar a extensão da irregularidade e definir as providências necessárias para a substituição dos itens comprometidos", acrescentou.
"Os glicosímetros são essenciais para o monitoramento da glicemia e, conforme a Política de Assistência Farmacêutica, são fornecidos gratuitamente à população em parceria entre o Estado e os municípios, junto a outros insumos como insulinas, agulhas, seringas, fitas reagentes e lancetas", prosseguiu.
"A SES-MG segue empenhada em assegurar o acesso dos cidadãos a produtos seguros e de qualidade, reafirmando seu compromisso com a saúde e a segurança dos mineiros. Tão logo a situação seja normalizada, a população será prontamente informada sobre alternativas seguras e a retomada da distribuição", completou.
A reportagem de O TEMPO questionou a empresa fabricante do dispositivo e aguarda retorno.