Ao entrar no Centro Interescolar de Cultura Arte Linguagens e Tecnologias (Cicalt), instituição de ensino estadual que, além do ensino médio, oferece gratuitamente cursos técnicos em sete modalidades artísticas, é difícil acreditar que se trate de uma escola em funcionamento. O mato alto, infiltrações, mofos, janelas quebradas, telhados cheios de "buracos", entre outros problemas visíveis, sugerem um imóvel abandonado e, não, uma unidade educacional em plena atuação. O abandono do espaço e o temor de seu fechamento levou os alunos da escola artística a se mobilizar em sua defesa, em um movimento iniciado na última terça-feira (1º de julho).
Nesta quarta-feira (2), O TEMPO conversou com dois estudantes do Cicalt, que, sob anonimato, denunciaram o sucateamento da instituição e explicaram como será a mobilização em defesa da escola, que contará com um abaixo-assinado e mutirão de denúncias ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Segundo uma aluna do 3º ano do ensino médio regular, o processo de sucateamento do espaço não começou agora, porém, tem se intensificado nos últimos anos, atingindo seu ápice em 2025.
"Faltam materiais básicos, equipamentos estão quebrados e não são substituídos. A manutenção do prédio está cada vez mais negligenciada. Temos problemas com infiltrações, salas com ar-condicionado quebrado ou sem ar. Faltam materiais de limpeza, iluminação. Isso sem falar na sobrecarga de trabalho para os funcionários, que atuam em condições precárias e acumulam funções", detalha a jovem.
Ainda segundo ela, a escola é importante pois transforma vidas. "Aqui a gente aprende, cresce, se encontra. Não se trata apenas de salas de aula; é sobre oportunidades, amizades, é sobre acreditar em nosso potencial. A escola pública precisa ser valorizada, não esquecida. Nosso pedido é simples: respeito e estrutura. Quando uma escola é ameaçada, toda a sociedade perde e, por isso, vamos defender o Cicalt", garante a estudante.
Inscrito desde 2024 para o curso técnico de canto, um dos estudantes conta ter se surpreendido ao chegar ao local e encontrar o mato muito alto, prejudicando a movimentação dos alunos no espaço, que tem muita área verde. "A gente vê que as tomadas das salas não funcionam. As janelas não vedam, estão bambas e correndo risco de cair. Há salas de aula com mofo nas paredes, as carteiras não são padronizadas para os alunos dos cursos técnicos. É um prédio que está parado há muito tempo por falta de infraestrutura e manutenção", denuncia.
Fechamento ou privatização
Segundo estudantes ouvidos pela reportagem, o principal temor dos alunos e dos funcionários é que o sucateamento do local faça parte de uma estratégia para seu fechamento ou privatização. "esse temor ocorre porque vemos que, neste semestre mesmo, quatro cursos não serão abertos porque a Secretaria de Estado de Educação (SEE-MG) assim decidiu Sentimos que qualquer projeto do Estado hoje não é voltado para o público-alvo do Cicalt, que é a população, mas para atender a demandas de setores empresariais, com a privatização", disse o aluno da escola.
"Sentimos que o Cicalt é preterido pelo Estado, e que isso vem de uma ideia de que o que é artístico não traz retorno monetário Não entendem que uma sociedade sem cultura, sem arte, está fadada ao negacionismo, à insensibilidade, à desumanização A arte traz uma fuga da realidade, do cotidiano, ela é um respiro para a sociedade de sua rotina diária e, por isso, é tão importante", protesta o estudante.
Posicionamento da Secretaria de Educação
Procurada, a Secretaria de Estado de Educação (SEE-MG) afirmou que "não há previsão de fechamento" do Cicalt. "Os cursos técnicos seguem sendo ofertados normalmente, de acordo com a demanda local, respeitando os critérios estabelecidos em resolução vigente e no Plano de Atendimento Escolar (PAE)", garantiu.
A pasta afirmou que "a escola apresenta uma baixa taxa de matrículas, com 311 estudantes atendidos em 2024 e 335 previstos para 2025"."Ainda assim, o Cicalt oferta diversas modalidades de ensino, como ensino médio parcial, Educação Profissional concomitante/subsequente, Ensino Médio em Tempo Integral (Profissionalizante e Propedêutico) e Educação de Jovens e Adultos (EJA)", acrescentou.
"A SEE/MG reforça que realiza anualmente o Plano de Atendimento Escolar, que orienta o planejamento da oferta de vagas para o ano seguinte, garantindo a continuidade do atendimento aos estudantes da rede. Esse planejamento considera as demandas apresentadas pela comunidade escolar, incluindo as modalidades e cursos ofertados no Cicalt", prosseguiu.
"Desde o início da atual gestão, o Governo de Minas já investiu R$ 4,6 milhões na infraestrutura da escola, com seis obras concluídas e outras três previstas. Além disso, aproximadamente R$ 2,5 milhões foram destinados a mobiliário, manutenção, tecnologia, programas pedagógicos e equipamentos, fortalecendo as condições de ensino e aprendizagem na unidade. Por fim, a SEE/MG reitera seu compromisso com a escuta ativa da comunidade escolar e mantém diálogo aberto com estudantes e profissionais da educação para construção conjunta de soluções que valorizem e ampliem as oportunidades educacionais oferecidas pelo Cicalt", completou.