“Era um pai de família, que tem uma filha. Não faltava ao serviço, muito esforçado.” Essas foram as palavras de Ivanildo Gualberto Lopes, sócio-proprietário da Localix Serviços Ambientais, para descrever o gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, assassinado com um tiro no bairro Vista Alegre, região Oeste de Belo Horizonte, nesta segunda-feira (11/8). O suspeito do crime é Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47, que foi preso dentro de uma academia de alto padrão na região Centro-Sul da capital.

Emocionado, Ivanildo contou que Laudemir trabalhava na Localix havia sete anos e 11 meses. Segundo ele, o gari era uma pessoa preocupada com a família e tinha um "coração gigante". “Ele era uma pessoa que não discutia, não brigava com ninguém, sempre estava apaziguando qualquer situação. E aonde aconteceu essa tragédia é o lugar que eles têm mais cuidado em trabalhar. Os garis sabem onde pisam. Eles são preparados no dia a dia para saber onde vão trabalhar e o que vão falar, o que vão discutir. Foi uma crueldade imensa que aconteceu”, disse.

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Ainda segundo o empresário, Laudemir morreu enquanto tentava apaziguar a situação. “O suspeito falou que, se arranhasse o carro dele, ia atirar em todo mundo. Depois, parece que foi para a frente — não tenho muitos detalhes —, mas ele volta e dá um tiro do nada. Então, foi do nada, um negócio sem pé nem cabeça. Não precisava disso. A motorista do caminhão era uma mulher tranquila, que todo mundo ama. Não é uma pessoa de discutir. Então, foi uma fatalidade causada por alguém que, para mim, não estava normal", comentou. 

Renê da Silva Nogueira Júnior é suspeito de assassinar o gari Laudemir Fernandes (Foto: arquivo pessoal)

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Questionado sobre o fato de o suspeito ter ido para a academia após o crime, Ivanildo classificou como uma atitude anormal. “É um crime que a gente não pode esperar de um ser humano normal. Eu não sei o que aconteceu de verdade, qual era o estado dele, se estava drogado, se tinha bebido, eu não sei. Eu acho que os exames têm que apontar isso para a gente saber responder melhor.”

Pedido por justiça

Ivanildo afirmou que a busca agora é por justiça, já que a vida de Laudemir não pode ser trazida de volta. “Nós queremos o Ministério Público acompanhando de perto esse caso. Nós estamos aqui porque queremos justiça. A vida dele já não tem como trazer de volta, mas queremos justiça para que as pessoas possam respeitar o gari trabalhando, ter paciência quando o gari está fazendo a coleta de lixo", disse.

"Isso aconteceu simplesmente por falta de paciência com quem estava limpando a rua, trazendo bem-estar para a sociedade, trazendo saúde, deixando a cidade mais limpa", prosseguiu.

Segundo ele, todos os funcionários da Localix estão tristes com a morte de Laudemir. "Os garis são uma família para nós. A gente está muito abatido com isso, muito triste. E ainda mais pela criança que ele tem, pela filha que ele tem para cuidar. E quem vai cuidar da filha dele agora?”, lamentou. 

Relembre o caso

Por volta das 9h desta segunda-feira, a PM recebeu chamado informando que, após uma discussão no trânsito, um homem armado teria atirado contra um dos envolvidos e fugido em um veículo BYD cinza.

Os militares encontraram a vítima caída ao chão, com sangramento na região torácica. Laudemir foi socorrido ao Hospital Santa Rita, em Contagem, mas não resistiu aos ferimentos. Segundo a equipe médica, ele apresentava perfuração de entrada na região das costelas.

Ameaças

Testemunhas relataram que o caminhão de coleta de lixo em que Laudemir trabalhava estava parado para recolher resíduos quando o motorista de um BYD cinza - depois identificado como Renê da Silva Nogueira Júnior - se irritou, alegando que o veículo atrapalhava o trânsito.

Armado, ele teria ameaçado a condutora do caminhão, afirmando que “iria dar um tiro na cara” dela. Em seguida, desembarcou, recarregou a arma e efetuou um disparo que atingiu o gari.

Após o crime, o homem entrou no carro e fugiu pela avenida Tereza Cristina. A perícia recolheu no local um cartucho intacto e outro deflagrado, ambos calibre .380. Ele foi preso horas depois em uma academia de alto padrão na região Centro-Sul de BH.