O maior custo pago por poluir o meio ambiente com a fumaça preta que sai dos veículos movidos a diesel e gasolina não é visto diretamente. No entanto, ele é sentido de forma mais grave na saúde da população, ao provocar doenças respiratórias ou agravá-las em pessoas que já sofrem do problema. E é também por isso que especialistas defendem que não se olhem apenas os custos de implementação de um transporte sustentável, mas, principalmente, os benefícios que ele pode trazer a curto, médio e longo prazos à população e ao clima no planeta. Algumas capitais brasileiras já estão atentas a isso.
Em Belo Horizonte, que tem uma frota de 2.697 ônibus, quase 600 mil pessoas são atendidas por ano com problemas respiratórios, sendo mais de mil casos graves, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Nesse caminho, investir em mobilidade limpa com o uso de coletivos elétricos zero poluentes deve ser uma obrigatoriedade das cidades, na avaliação de engenheiros da área.
“Não dá mais para ficar avaliando se é possível. Tem que ser uma questão obrigatória. A gente tem que abandonar os combustíveis fósseis (diesel e gasolina) o mais rápido possível. O Brasil está muito atrasado, as políticas governamentais são muito fracas”, destacou o consultor em engenharia de transportes e trânsito, Osias Baptista.
Na cidade de São Paulo, onde circulam 15 mil ônibus, uma lei aprovada em 2009 estipula a redução gradativa de combustíveis fósseis para que, até 2018, o uso deles seja nulo. “Para nós, buscar alternativas energéticas é uma questão de saúde pública, preservação do meio ambiente e cumprimento à legislação vigente”, expressou o superintendente de engenharia veicular da São Paulo Transportes (SPTrans) João Carlos Fagundes. Na capital paulista, há cinco tecnologias mais limpas em teste. “Não descartamos nenhuma, mas o ônibus puro, à bateria, vem nos surpreendendo pelo custo e pelo desempenho”, avaliou.
Um edital foi lançado recentemente em São Paulo para novos contratos com empresas de ônibus e, segundo Fagundes, é inovador por exigir o uso de veículos não poluentes e a utilização de transportes específicos em determinados corredores da cidade. “O edital deve servir como referência nacional, porque prevê novas tecnologias”, destacou o superintendente.
Não há nenhuma legislação ou projeto de lei hoje, na capital mineira, que obrigue o investimento dos empresários em veículos menos poluentes. “Tenho certeza de que, em breve, vamos ter um projeto do tipo para acompanhar São Paulo”, prevê o presidente da comissão de transportes da Câmara Municipal de BH, Wagner Messias Silva, o Preto (DEM).
Saiba mais
Meta. Estudos apresentados na Conferência do Clima apontam que, se até 2030 20% de todos os veículos do mundo forem elétricos, é possível evitar que a temperatura do planeta suba 2°C.
Teste. Em BH, o ônibus elétrico foi colocado em teste pela Viação Torres. Ele reveza a cada 15 dias entre as linhas 9105 e 5503A. Ambas passam pela área central.
Concessionárias. A idade média da frota de ônibus de Belo Horizonte é de quatro anos e meio, mas a troca é obrigatória após dez anos de uso. “O baixo custo do consumo energético do veículo em teste, se comparado aos custos elevados do diesel, à eliminação da emissão de CO2 e a baixa emissão de ruídos são pontos positivos já considerados”, informou o Setra-BH (sindicato das empresas de ônibus da capital mineira).
Avaliação. O Setra-BH disse ainda que está verificando as especificações da fabricante chinesa relativas ao desempenho dos motores e ao grau de acessibilidade oferecido pelo piso baixo. Empresários do setor afirmaram que contam com incentivo da prefeitura para investir em transportes sustentáveis.
Campinas já aluga dez veículos
Algumas cidades brasileiras estão testando ou negociando a implementação do ônibus elétrico. A chinesa BYD afirma que o foco é em municípios que se comprometeram na Conferência do Clima em Paris, na França, em dezembro, a reduzir gases poluentes, que provocam o aquecimento global. Belo Horizonte é um deles.
Em Campinas (SP), um contrato de locação operacional de dez veículos elétricos foi firmado, em outubro, por cinco anos. “Resolvemos investir por uma preocupação ambiental e econômica. E está compensando. No momento utilizamos diesel, que, além de poluir, é uma fonte que não sabemos até quando vai existir”, disse Uilson Moraes, gerente administrativo da Itajaí Transporte.
Para o diretor de marketing da BYD, Adalberto Maluf, os coletivos elétricos atraem mais passageiros. “Nas cidades que já utilizam o veículo, as pessoas esperam esse ônibus passar. Já sentimos aumento da demanda”.